Envelhecer num sentido mais amplo deve ser entendido como um processo contínuo e inexorável ao longo de toda a vida; no sentido de aproximação do ciclo final da vida, deve ser encarado como um privilégio que muitos não alcançam.

No último século a expectativa de vida aumentou muito no mundo. Em 2023 no Brasil, a média estava em 76,4 anos e em países desenvolvidos, como Japão e Suíça oscila entre 80 e 84 anos. Em grande parte dos países hoje, temos uma pirâmide populacional de base estreita, isto é, menos jovens e mais idosos, e precisamos aprender a lidar com isto.

Embora não sejamos ingênuos a ponto de negar o impacto psicológico da aproximação da finitude da vida e que agravos à saúde são mais comuns com o avançar da idade, é preciso entender que nossas atitudes de hoje terão grande repercussão sobre nosso processo de envelhecimento e nossa qualidade de vida amanhã.

Queremos todos ter vida longa, mas queremos mais que isto: Queremos ter vida longa e ativa, independente, com mobilidade, produtiva e prazerosa.

É possível?    

Sim!

Os grandes avanços da medicina do último século, nas áreas preventivas, vacinação, antibióticos, novas drogas para o tratamento de doenças crônicas e doenças oncológicas, bem como os avanços tecnológicos nas mais diversas áreas médicas já são por sí só responsáveis por uma vida mais longa e melhor.

Porém, do outro lado do espectro, grande parte da humanidade passou a consumir alimentos industrializados, ultraprocessados, passamos a viver em aglomerados urbanos mais poluídos, muitas vezes “isolados no meio de multidões”, sofremos mais de ansiedade, depressão e intoxicação digital, somos mais sedentários, a obesidade se tornou uma epidemia, e a sobrecarga de uma rotina estressante muitas vezes compromete nosso bem-estar físico, mental e até o sono. Tudo isso tem impacto no nosso processo de envelhecimento.

Assim sendo, precisamos equilibrar melhor os “pratinhos da bandeja” para chegar bem aonde queremos.

PRIMEIRO: É preciso uma consciência individual em se preparar da melhor forma possível para o amanhã. Ter um estilo de vida saudável é a palavra de ordem do momento. Isto significa: Movimento, atividade física regular, alimentação variada, colorida e o mais natural possível. Além disso, manter a paz de espírito, menos stress, e estimular a manutenção das conexões com família e amigos, evitando o isolamento social e manter propósitos de vida. Especialmente para mulheres, a menopausa é uma oportunidade para refletir e se reinventar. A Reposição Hormonal tem grande importância na melhora da qualidade de vida, na saúde sexual, e a médio e longo prazo na saúde óssea, cardiovascular e metabólica.   

Na maturidade engana-se quem achar que as conexões sexuais deixaram de existir. Agora elas são pautadas na liberdade de escolher menos por padrões e cobranças sociais inevitáveis e mais por afinidade e prazer. A atração sexual passa a ser menos sobre corpo ou a exigência do corpo perfeito “padrão” e muito mais sobre afeto, espiritualidade, bom humor, inteligência e uma boa conversa. Esses elementos predominam no despertar da libido!   

Em SEGUNDO LUGAR: Há uma responsabilidade coletiva da sociedade para mudar a maneira de enxergar, aprendendo a valorizar e aproveitar o potencial produtivo desta faixa da população. Isso depende não só de políticas públicas de acolhimento e valorização, mas também da mudança do olhar que se tem para com os idosos, que devem ser estimulados a se manterem úteis e produtivos por muito mais tempo, ainda que sem a sobrecarga da juventude. 

A experiência trazida com a maturidade deve contribuir na esfera pública e privada em equilíbrio com as inovações trazidas pela juventude e essa convivência harmoniosa sempre será de grande valia para todas as partes envolvidas.

Quando a consciência individual e coletiva sobre o privilégio de envelhecer se somam, teremos sempre o melhor cenário, onde a travessia da vida se torna a mais desafiadora, a mais completa e a melhor das viagens. 

Profª Drª Simone Madeira – Ginecologista e Obstetra
CRM 1812-PI e RQE: 198