O desejo e o prazer sexual são retratados culturalmente como sendo espontâneos, sem esforço e instantâneos. Os romances, o cinema e a televisão influenciam a percepção das pessoas sobre sexo e contribuem para a construção e a manutenção dessa crença. Essa é uma visão que reduz o desejo sexual a corpos biológicos excitáveis e responsivos a base de hormônios.

A ideia de que que todo sexo é incrível e apaixonado e que vai acontecer em um estalar de dedos todas às vezes é um equívoco que deve ser desfeito. O desejo sexual é um impulso que envolve um motivo para iniciar uma prática ou intimidade sexual. E esses motivos variam de pessoa para pessoa, de acordo com roteiros mentais aprendidos em experiências pessoais, emocionais, interrelacionais e sociais.

Para as mulheres, especialmente em relacionamentos longos, as recompensas não sexuais falam mais alto na tomada de decisão para iniciar uma prática sexual. E nem estamos falando de desejo sexual ainda! Desfrutar de intimidade emocional com a parceria e evitar conflitos por não estar sentindo desejo sexual na hora que a parceria quer são bons exemplos dessas recompensas.

Observe que as principais recompensas femininas para fazer sexo não são sexuais. Elas são emocionais! Depois que decidem participar da prática sexual porque encontram uma motivação para isso, é que as mulheres se tornam receptivas aos estímulos sexuais. Mas veja só, não é qualquer beijinho ou carícia rápida que desperta excitação e desejo não! Os estímulos precisam ter duração em tempo, intensidade e frequência suficientes para isso. E não esqueça que o contexto em que o encontro sexual acontece precisa ser adequado para que excitação e desejo aflorem.

Além disso tudo, o desejo sexual não é estável, mas flutua ao longo da vida para todas as pessoas. Então mulheres, vamos questionar o mito do sexo espontâneo! Vamos fazer as pazes com o desejo responsivo a estímulos de carinho, de bem viver, de autoestima positiva, de bons tratos e de sedução com aquilo que agrada a você! DICA: aproveita para refletir sobre tudo isso ao som de “O Quereres” de Caetano Veloso na voz de Bethânia! Vai valer a pena!

Dra. Andréa Rufino – CRM/PI 2006, RQE 434 e 1484
Ginecologista e Sexologista