14 de novembro de 2025

A garganta do mundo, não: o esôfago

Atualizado há 5 dias

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Conflitos internos (Foto: Freepik)

Este texto, que é meu, e agora é nosso, porque é seu, leitor, tu que me encontras, este texto, ele é o mundo inteiro. Tudo o que escrevo traz para fora um vendaval e desalinha o que me estranha e me torna bicho. Os ventos sopram para todos os lados, tudo por aqui e por ali é laço desfeito, um vai e volta desandado.

É no descompasso que navego numa linha que flutua sobre mim e sobre meu espírito. Bambo, retorço minhas convicções num festim que grita conflitos para meus ouvidos. Esquizofrenia aos pedaços, uma voz que dita e uma outra que reforça. Sou criatura imóvel vendo a briga se instaurar, a briga que sou eu. Derrubo-me.

“O Inferno” (painel do Juízo Final) – Hans Memling (c. 1467–1471)

Tenho desistido de algumas coisas. Foi súbita a chegada das obrigações: num estalo do repentino, tenho quase poucos vinte e seis anos e um mundo para controlar sozinho. Já viu, leitor, como é árdua a tarefa de segurar o mundo, dominá-lo, fazê-lo seu e ditar seus afazeres? Mundo nenhum obedece. A surpresa chega, sempre chega, é a ela que todos tememos. Para uns, às vezes, tragédias; escassas, as boas novas… O súbito impressiona.

Escrevo porque o que escrevo é o mundo. Digo de novo: é aqui que dito o disse-me-disse que a briga, que ali mencionei, me faz sentir. É o que me resta.

Estou lançando um livro novo e nem sei se vão me ler… Às vezes penso que não. Mas seria ótimo que me lessem. Subitamente, sou agarrado pela insegurança, afogamento inteiro, o mundo me engolindo. Imprevisível: para onde vai meu mundo, este que estou lançando?

Eu? Eu vou indo. Em gerúndio, piegas, ele, o mundo. O mundo me engolindo. Rima patética.

Patrick Torres – médico e escritor


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