3 de dezembro de 2025

Check-up: o que realmente faz sentido?

Atualizado há 1 hora

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Check-up (Foto: Freepik)

Quando se fala sobre saúde existe uma crença comum: fazer “todos os exames possíveis” é sempre melhor. Muitos pacientes chegam ao consultório acreditando que um check-up completo exige uma bateria extensa de testes, de sangue a ressonâncias, de ultrassons a marcadores tumorais. A lógica parece simples: quanto mais eu procurar, mais doenças vou encontrar cedo — e melhor será para minha saúde.

Mas a Medicina moderna mostra outra realidade: exames demais podem ser inúteis, enganosos e até perigosos. E, principalmente, gastar tempo e energia com testes que não mudam a sua vida desvia o foco do que realmente importa.

Numa analogia, quando você compra um carro, não leva o mecânico para desmontar o motor inteiro em busca de defeitos invisíveis. Você faz uma revisão baseada na quilometragem, no uso e nos sinais do veículo. Com o corpo, não é diferente.

A ideia de que todo mundo deve fazer os mesmos exames, todos os anos, não tem nenhuma base científica. Organizações sérias de saúde no mundo, como a Sociedade Europeia de Cardiologia e o Colégio Americano de Médicos, concordam em um ponto: exame só vale a pena quando existe uma boa razão para fazê-lo.

Essa razão depende de três fatores principais: a idade da pessoa, os fatores de risco que ela tem e as evidências científicas de que o exame pode, de fato, trazer benefícios.

Fazer exames indiscriminados pode gerar resultados falsos positivos, que levam a ansiedade, exames ainda mais invasivos e, em alguns casos, procedimentos desnecessários.

O rastreamento, que é a busca ativa de doenças em pessoas sem sintomas, só tem valor quando cumpre três critérios: a doença é comum o suficiente na população,
oferece risco relevante à saúde da pessoa e quando existe tratamento eficaz que muda o curso da doença.

Se qualquer um desses pré-requisitos não está presente, o rastreamento deixa de ajudar. Pior: pode causar danos. Um exemplo são os painéis de marcadores tumorais vendidos por laboratórios, muitas vezes com a promessa de “diagnóstico precoce do câncer”. A maioria deles não serve para rastreamento. São testes que, em pessoas saudáveis, encontram alterações que não significam doença, mas levam à investigação desnecessária, biópsias e preocupação.

Então, o que faz sentido?

A resposta é simples: check-up não é lista de exames. É uma consulta médica, que tem que ser feita com critério e de maneira individualizada.

O trabalho começa com uma boa conversa: histórico familiar, hábitos, estilo de vida, doenças prévias etc. A partir daí, o médico define o “check-up essencial” — um conjunto de avaliações que realmente têm impacto para a maioria das pessoas: pressão arterial, glicemia, colesterol, cálculo de risco cardiovascular (especialmente a partir dos 40 anos), exames ginecológicos e urológicos conforme idade, vacinas em dia, avaliação do peso, condicionamento físico e sono.

Esses itens, embora simples, têm enorme impacto na qualidade e na quantidade de vida. Para muitos pacientes, agir sobre alimentação, atividade física e sono traz mais benefício do que qualquer ressonância magnética…

A lista do que não faz sentido durante um check up é grande, mas aqui, alguns exemplos: ressonâncias e tomografias “para ver como estão os órgãos”, ultrassom de tireoide em pessoas sem nódulo palpável, ecocardiograma em quem não tem doença cardiovascular, marcadores tumorais para quem não tem sintomas.

Esses exames não melhoram a saúde de quem está bem, expõe a radiação desnecessária e identificam achados acidentais irrelevantes, que só geram preocupações desnecessárias.

Prevenir não é procurar doença a qualquer custo. Prevenir é cuidar da saúde antes que o problema apareça. E isso se faz com melhores escolhas diárias, acompanhamento regular, exames bem indicados e intervenções quando realmente necessárias

A boa notícia é que a medicina baseada em evidências, a Medicina de verdade, nos mostra com clareza o que realmente importa. Não existe glamour em medir dezenas de hormônios ou fazer um ultrassom da cabeça aos pés. O verdadeiro impacto está em detectar riscos reais, orientar mudanças e tratar o que precisa ser tratado.

Então, o melhor check-up é aquele que respeita você — sua idade, sua história, seus riscos e suas prioridades. Um exame pedido no momento certo pode salvar uma vida. Uma bateria inteira de exames feita sem sentido pode atrapalhá-la.

Se existe uma regra de ouro, é: saúde não se mede pela quantidade de exames, mas pela qualidade das decisões.

E decisões de qualidade não vêm de listas prontas. Vêm de cuidado, diálogo e responsabilidade.

Marcelo Luiz Martins
CRMPI – 2774

Médico Cardioologista e Intensivista


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