Era julho de 2002, eu já era ginecologista aqui em Teresina. Me lembro como se fosse hoje, fui chamada em horário nobre na TV Clube pra explicar aquele famoso estudo WHI que caia como uma verdadeira “Bomba” sobre a Terapia de Reposição Hormonal na Menopausa.
Eu que já era grande entusiasta e defensora da Reposição Hormonal naquela época, lembro de ter feito uma análise bem cautelosa, mas não há como negar o medo, imensamente repercutido pela imprensa mundial, que assolou médicos e toda a sociedade pelos anos subsequentes.
O FDA, nos Estados Unidos logo se apressou em incluir uma “caixa preta” contendo as principais advertências quanto aos riscos da Reposição Hormonal (câncer de mama, AVC e demência) que se imaginava naquela época de acordo com os resultados do Estudo WHI.
Lá nos EUA, naquela época, a Reposição Hormonal que chegava aos 30%, caiu para 5% ou menos nos anos subsequentes.
No Brasil, por diferentes razões, talvez em parte relacionadas à desinformação, mas em grande parte à falta de acesso, informações e condições econômicas, acredita-se que hoje 22% das mulheres façam algum tipo de reposição hormonal para o climatério.
E como é bom estar aqui hoje assistindo à correção desse erro histórico sobre a TH.
Porque, o que ficou constatado nos anos seguintes ao WHI, é que ele tratava especificamente de um único tipo de reposição hormonal (que já não se usa há anos) e a média das mulheres que participaram daquele estudo era de 63 anos (muito superior à transição menopausal). A revisão destes resultados somados a outras robustas evidências de segurança, eficácia e efeitos benéficos da reposição hormonal foi capaz de finalmente após mais de 20 anos mudar a interpretação sobre o uso da TH.
E finalmente, vimos recentemente que o FDA volta atrás e agora determina que a tal “caixa preta” com as terríveis advertências seja retirada das bulas das mediações de reposição hormonal, que sejam feitos alertas específicos de acordo com o tipo de medicação, e as orientações quanto ao momento ideal para o início da Reposição hormonal que é aquele dentro da janela de oportunidade (até 10 anos da menopausa ou até os 60 anos). E aquela regra absurda da “menor dose pelo menos tempo possível” foi completamente abandonada.
Segundo o Dr. Martin Makary do próprio FDA, a comunicação confusa sobre os riscos da TH foi um dos maiores equívocos da medicina Moderna. Nas palavras dele mesmo: “Com exceção dos antibióticos e das vacinas, talvez não exista no mundo, nenhum outro medicamento capaz de melhorar tanto os desfechos de saúde de mulheres mais velhas, em nível populacional, quanto a terapia de reposição hormonal”. Obviamente essa frase pode ser muito forte porque os cardiologistas irão dizer que as medicações deles impactam mais, mas eu quero mostrar com isso a relevância da TH pra saúde de nós mulheres.
O consenso hoje é pela individualização de forma responsável.
As evidências atuais mostram que a Reposição Hormonal realizada de forma criteriosa dentro da janela de oportunidade, além de melhorar sintomas, pode reduzir entre 25 a 50% os eventos cardiovasculares fatais, reduzir de 50 a 60% o risco de fraturas ósseas, 64% no declínio cognitivo, e 35% sobre o risco de alzeimer, além de outros benefícios diretos e indiretos.
Parece que “nadamos num mar tenebroso” por mais de 20 anos… Insistimos, acreditamos e vencemos, e foi muito bom viver e acreditar nas novas evidencias que iam se somando ao longo dos anos pra estarmos aqui hoje celebrando a consolidação dessa vitória em nome de todas as mulheres e da comunidade científica que permaneceram firmes e inquietas, guiando o barco nesse mar tenebroso e insistindo em estudar, interpretar e corrigir erros históricos para melhorar a vida e a saúde das gerações futuras…
Profª Drª Simone Madeira – Ginecologista e Obstetra
CRM 1812-PI e RQE: 198
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