O uso de anabolizantes exibe um fascínio pela promessa de um corpo com baixo percentual de gordura, músculos bem definidos e libido alta. Isso é tudo o que mulheres fadigadas, insones, com sobrepeso e desejo sexual diminuído desejam alcançar.  Afinal de contas, o estilo de vida feminino atual é esgota a libido para a vida e para o sexo, porque envolve dupla jornada de trabalho, estresse físico, mental e emocional. Sem falar na cobrança estética por um corpo magro e forte.

O padrão de beleza mudou com o tempo, mas sempre exigente, aprisionou as mulheres no estigma de um corpo jovem, perfeito e objeto de desejo para o outro. Nas décadas de 50 e 60, o corpo feminino desejável era voluptuoso com curvas abundantes como os de Marilyn Monroe, Sophia Loren e Brigitte Bardot. Na década de 70 e 80, a estética corporal feminina emagreceu e se tornou mais atlética como protagonizada por Jerry Hall e Farrah Fawcett.

Na década de 90, a obsessão era por corpos femininos extremamente magros e sem curvas. Mulheres esquálidas e anoréxicas como Kate Moss desfilavam dando o tom da moda. Atualmente, a magreza permanece como um ideal de beleza, mas desde que acompanhada de músculos que saltam aos olhos em definição e tamanho. O custo para adquirir esse modelo de corpo atual é alto e, muitas vezes, incompatível com a saúde.

O mito atual da beleza opera manipulando a fantasia de que esse modelo de corpo feminino, além de belo, é o retrato da saúde e da longevidade. Com esse argumento, os anabolizantes prometem um atalho para que as mulheres atinjam o corpo desejável. Para essa finalidade, testosterona, gestrinona, oxandrolona e afins são ofertados em doses elevadas e supra fisiológicas para corpos femininos.

Quem prescreve e vende anabolizantes encanta as mulheres com resultados rápidos e eles chegam! No entanto, trazem consigo efeitos indesejáveis, perigosos e acredite: ameaçadores da vida. Veja alguns deles: elevação do colesterol, aumento da pressão arterial e do volume do coração, infarto, sangue mais espesso, trombose venosa, acidente vascular cerebral, acne, queda de cabelo, aumento do clitóris e de pêlos corporais, engrossamento definitivo da voz, insuficiência hepática e infertilidade.

Recentemente, várias sociedades médicas brasileiras alertaram para o perigo do uso de anabolizantes pelas mulheres, especialmente a testosterona. Há clara contraindicação para a prescrição de testosterona com fins estéticos, antienvelhecimento, melhora da composição corporal, de fadiga e do desempenho físico.  Não há uma “síndrome da deficiência de testosterona” em mulheres, portanto é contraindicado solicitar a dosagem de testosterona no sangue para elas.

Existe uma única indicação ética e respaldada pela literatura científica atual na prescrição de testosterona para as mulheres: diminuição da libido na perimenopausa tardia e pós menopausa, após exclusão de todas as outras causas. O objetivo é ofertar benefícios com doses fisiológicas por via transdérmica em um cenário de baixo risco de complicações.

Portanto, não se deixe levar pelo fascínio e pela promessa de medicamentos ou suplementos que são atalhos perigosos para sua saúde. Consulte profissionais responsáveis e comprometidos com a ética, a ciência e com sua vida!

Dra. Andréa Rufino          
Médica CRM PI 2006
Ginecologista RQE 434
Sexóloga RQE 1484