
Carlienne Carpaso e Emanuel Pereira
emanuelpereira@tvclube.com.br
Nathália Figueiredo, delegada da Feminicídio em Teresina, convive diariamente com a morte de mulheres vítimas de violência doméstica e familiar.
Além de investigar, prender e indiciar os agressores, ela também trabalha com a prevenção na tentativa de evitar que mais mulheres morram vítimas desse tipo de crime.
A delegada comenta que muitas vítimas deixam de denunciar a agressão porque sentem medo do agressor. Com isso, a prática reiterada de violência doméstica pode terminar em feminicídio.
Assim como a vítima, a sociedade também não pode ficar omissa. Figueiredo avalia que permanecer calado diante de um caso de violência contra a mulher é um incentivo à criminalidade.
“O feminicídio acontece quando não foi dada a devida importância para as outras formas de violência. As pessoas que tomam conhecimento de um caso, mas permanecem caladas, também são responsáveis pela continuidade da violência contra mulheres. Às vítimas, reafirmo que não se calem, não sintam vergonha e preservem suas vidas”, declarou.
A delegada acrescenta que – para romper esse ciclo violento – as vítimas também precisam entender que a agressão não se restringe ao físico, como tapas e socos.
“Muitas vezes a vítima entende que a violência é somente a física, mas, na realidade, há as violências psicológica, sexual, patrimonial. O entendimento disso é o começo para combater os crimes contra a mulher”, disse.
Figueiredo fala sobre a violência ser o reflexo de uma sociedade machista, que inferioriza o papel da mulher na sociedade.
“Muito embora a nossa sociedade tenha evoluído em muitos aspectos, mas, de fato, a condição de mulher ainda é uma situação de vulnerabilidade. Desde que o mundo é mundo, as mulheres são entendidas em uma situação de vulnerabilidade como objetos, como propriedade de seus companheiros, pais, irmãos”
Ela reforça ser necessário educar para romper esse pensamento desde a infância. “Primeiro, eu acho que o trabalho contra o feminicídio tem que iniciar da base. Então, no momento em que nossas crianças estão sendo educadas é necessário ser inserido, na educação delas, uma visão de não colocar as mulheres numa situação de objeto, de posse, mas sim de respeito”
Além disso, é ideal desde a infância as pessoas saberem “identificar as formas de violência doméstica e familiar” para que a criança, por exemplo, perceba que a mãe ou a irmã vive em casa uma situação de violência doméstica familiar. Isso vai fortalecer a proteção e combater ainda mais a violência contra a mulher.
O QUE É O FEMINICÍDIO?
Marcado pela desigualdade de gênero, o assassinato de mulheres recebeu uma designação própria: feminicídio. No Piauí, somente no ano de 2022, 23 mulheres morreram vítimas desse crime.
Nathalia Figueiredo, titular da Delegacia Especialidade de Feminicídio, localizada no bairro São Pedro, zona Sul de Teresina, esclarece que o crime é “a morte da mulher em decorrência de violência doméstica, familiar ou discriminação pelo fato de ser mulher”.
Dados da Secretária Estadual de Segurança | 2020 | 2021 | 2022 |
Feminicídios no Piauí |
31 | 37 | 23 |
Feminicídios no Interior |
25 | 26 | 19 |
Feminicídios em Teresina | 6 | 11 | 4 |
CANAIS DE DENÚNCIA
Nathália destacou que agentes da Secretaria de Segurança também saem de seus gabinetes e vão às comunidades orientar e informar os meios de denúncia.
“Temos de chegar a estas pessoas com o intuito de conversar sobre este assunto e encorajar a denunciar os agressores”, pontuou.
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