Por Luana Magalhães
– Mestra em Antropologia
Todos os dias, ao recebermos notícias sobre mortes e assaltos, nós nos indignamos e perguntamos: “onde vamos parar com tanta violência?”. Penso que talvez devêssemos nos perguntar: “que caminhos devemos trilhar para acabar com a violência?”.
A verdade é que nós não sabemos como é uma vida sem violência. Isso significa que ela está naturalizada, ou seja, entendemos que é algo que faz parte da vida. Com isso, não percebemos que é possível uma realidade diferente, e não ter essa consciência nos desvia da busca pela raiz do problema. A insegurança constante nos causa tanto medo que já não somos mais capazes de pensar racionalmente, e em vez de buscar sair de tal situação nos entregamos ao ódio e trilhamos o caminho que não queremos, que é aquele que nos levará a encontrar a resposta para a primeira pergunta.
Quando estamos submersos em medo, nosso discernimento fica comprometido de tal modo que nos tornamos mais suscetíveis a aceitar qualquer proposta imediatista e cruel que garanta acabar com o horror de tudo isso, sem perceber que ela só continuará aprofundando cada vez mais a brutalidade.
Nós falamos: “chega de violência!”, mas suplicamos por uma política de segurança pública mais repressiva, e esta claramente não é a solução, pois ela não evita que os atos de violência aconteçam. Por isso, é importante pensarmos em políticas de prevenção.
O problema é que, para isso, precisamos mexer nos privilégios de algumas pessoas. Primeiro, porque será necessário derrubar essa estrutura racista e machista que garante privilégios para alguns e violência para outros. Segundo, porque a violência é muito lucrativa, vide os programas policialescos, por exemplo.
Outro ponto importante é pensar o que é violência. Pois, diariamente, vários acontecimentos são noticiados e nós não os percebemos como violentos. Então, quais violências nos indignam e quais nós negligenciamos?
Assim, é necessário encarar o processo de desumanização ao qual boa parte da população está submetida. É preciso repensar nossa lógica de vida baseada no capitalismo selvagem que nos mercadoriza e nos torna descartáveis. E ter em mente que enquanto a vida de uma pessoa não valer a pena, todas as outras também não valerão.