8 de junho de 2025

MPT resgata cerca de 150 piauienses de trabalhos análogos à escravidão em 2023

Eric Souza

Publicado em 28/10/2023 20:00

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Trabalhador resgatado em condição análoga à de escravo (Foto: Divulgação/MTE-GO)

Eric Souza*
ericsouza@tvclube.com.br

O Ministério Público do Trabalho (MPT) resgatou, apenas em 2023, cerca de 150 piauienses em condições análogas à escravidão. O caso mais recente ocorreu neste mês em uma fazenda de gado em Currais (PI), a 617 km de Teresina, onde cinco trabalhadores eram alojados em meio ao mato, sem estrutura e alimentação adequadas.

Além desses trabalhadores, outros 53 cortadores de cana-de-açúcar foram resgatados, na última terça-feira (24), pelo MPT em uma usina de Inhumas (GO). Os funcionários eram oriundos de Piauí, Maranhão e Bahia, não tinham camas à disposição e precisavam fazer as necessidades fisiológicas no próprio canavial.

Resgate de trabalhadores em pedreira no interior do Piauí (Foto: Divulgação/MPT-PI)

Em recente levantamento do MPT, o Piauí ocupa a 1ª posição, na região Nordeste, no ranking de resgates, e divide a liderança com a Bahia em relação ao índice de empregadores que submetem funcionários a condições mínimas de trabalho. Ambos os estados figuram no 4º lugar no ranking nacional, atrás de Pará, São Paulo e Minas Gerais.

“Nos últimos anos, infelizmente, o Piauí tem registrado um aumento significativo no número de trabalhadores resgatados. Em 2022, foi o 3º estado que mais contabilizou resgates. O índice deste ano [quase 150 piauienses] é bastante considerável”, ressaltou o procurador-chefe do MPT-PI, Edno Moura.

Jornada exaustiva e ausência de salário

Uma das vítimas do trabalho análogo à escravidão foi Francisco Marques, de 51 anos, que mora na zona rural de Inhuma (PI), a 249 km de Teresina, e mudou-se, em março deste ano, para o interior de Goiás, onde cortaria cana-de-açúcar.

“Prometeram um bom salário, as passagens sairiam por conta deles. Acabei viajando clandestinamente na perspectiva de ganhar um dinheiro justo e beneficiar meus filhos”, relata à TV Clube.

Francisco Marques viveu pesadelo em canavial no interior de Goiás (Foto: TV Clube)

Ao chegar lá, porém, encontrou uma realidade bastante diferente: a jornada de trabalho, que deveria se estender das 7h às 15h30, não era respeitada. Os cortadores de cana chegavam às 3h30 e voltavam para casa apenas às 20h.

“Não tinha café da manhã, era só um pão seco para cada um de nós. Disseram que pagariam uma porcentagem para trabalharmos na Semana Santa, mas o encarregado sumiu”, lembra.

Por quase dois meses, Francisco não recebeu salário e mal conseguia entrar em contato com a família. O retorno ao Piauí só foi possível após a Polícia Federal resgatar os funcionários do local, em abril, durante o horário do almoço.

No Sul do Piauí, trabalhadores eram alojados em barracos de lona (Foto: Divulgação/MPT-PI)

Sem emprego fixo, o trabalhador sobrevive de bicos e do auxílio financeiro que recebe da própria mãe. “Tenho quatro filhos, preciso cuidar deles. Não quero comer às custas da minha mãe”, lamenta.

Como denunciar?

A sociedade pode denunciar, de forma anônima e sigilosa, casos envolvendo trabalho análogo à escravidão pelos seguintes canais:

– Disque 100;

– Aplicativo MPT Pardal, disponível nas plataformas Play Store e App Store;

– Sites do MPT-PI e do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE);

– WhatsApp do MPT-PI: (86) 99544-7488.

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