Bruno do Carmo
brunodocarmo@tvclube.com
O monumento de Iemanjá, localizado na Avenida Marechal Castelo Branco, zona Sul de Teresina, novamente foi alvo de ataques neste sábado (08). Dessa vez, o aquário de vidro que protege a estátua foi quebrado. Em vídeos divulgados em redes sociais, é possível ver os estilhaços e parte da estrutura de proteção quebrada.
“Acho que todos viram a postagem. A nossa imagem de Iemanjá, inaugurada na Marechal Castelo Branco, foi vítima de vandalismo. Foi apedrejada, quebrada o vidro. Peço que as autoridades olhem para o nosso povo, a intolerância religiosa é crime, aquilo não pode passar em branco, porque a maldade e o ódio é muito triste. Peço às nossas autoridades que vejam o que nosso povo está passando, fico até sem palavras, triste!”, relatou Pai Kaelson de Zé Pilantra, em postagem no perfil da Tenda Espirita São Jorge de Ogum.


Desde que a estátua foi inaugurada no dia 14 de abril, na capital, diversas formas de violência e intolerância religiosa foram registradas por Povos de Terreiro do Piauí. Nas redes sociais, as comunidades receberam várias mensagens de ódio, ofensas e até ameaças de destruir o monumento.
No dia 16 de abril, um boletim de Ocorrência foi registrado denunciando o caso. A delegada de Direitos Humanos e Repressão a Condutas Discriminatórias, Síglia Samueli, relatou que, ao menos 30 perfis, praticam os delitos e haviam sido identificados.
A nossa equipe de reportagem conversou com o Pai Tony de Iemanjá, do Centro Religioso de Umbanda Casa de Iemanjá, localizado no grande Dirceu. Para ele que está no sacerdócio há 21 anos, ver a violência constante contra religiões de matrizes africanas é algo que o entristece, pois, mesmo com a popularização da Umbanda no estado, o preconceito ainda ocorre.
“Me entristece muito saber que nossa religião e valores ancestrais ainda são alvo de preconceito, ataques e repúdio pela nossa sociedade. Em 21 anos de sacerdócio vi a umbanda se tornar conhecida em nosso estado, ganhar espaço na mídia, mas ainda assim atos como este a imagem de Iemanjá ainda continuam a acontecer”, desabafa.
Pai Tony ressalta que o monumento tem uma importância para os povos de terreiros, que professam sua fé naquele espaço, com orações, oferendas e saudações à rainha do mar.
Além disso, “as religiões de matriz africana pregam amor, caridade e olhar humano ao próximo”. Por isso, não há como permanecer silenciado com esse tipo de manifestação intolerantes.
“Não podemos mais nos mantermos calados e inertes a tamanho preconceito, merecemos respeito da mesma forma que respeitamos e acolhemos todas as pessoas, que diariamente batem em nossas portas em busca de axé e acolhimento”, posiciona-se.
Nota de repúdio
Por meio de nota, os Povos de Terreiros do Piauí se posicionaram acerca do delito, repudiando o crime e ressaltando que o ataque atinge todos os povos de terreiro, bem como o patrimônio público e o turismo piauiense. A situação novamente será denunciada às autoridades. Veja a nota a seguir:
O aquário de proteção do monumento de Iemanjá, ponto turístico aqui da Avenida Marechal, foi quebrado por criminosos, por bandidos.
Já acionamos o secretário de Segurança Chico Lucas, vamos prestar BO e acreditamos que o caso vai ser apurado com o rigor necessário. O ataque a imagem é um ataque a todos os terreiros, a todos os pais, mães e filhos de santo do Piauí. Isso não pode ficar impune.
Além disso, estamos falando de um patrimônio, pois aqui é um ponto turístico de Teresina e essa escultura é uma obra de arte. Ou seja, nem a fé foi respeitada, nem o ponto turístico e muito menos a obra de arte. Foi atacado o povo de Terreiro, o Turismo e Arte Piauiense.
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