
O sepultamento da arqueóloga franco-brasileira Niède Guidon, fundadora do Parque Nacional da Serra da Capivara, acontece nesta quinta-feira (5), no quintal da residência onde morava, que fica aos fundos do Museu do Homem Americano, em São Raimundo Nonato (PI).
O local do sepultamento foi escolhido pela própria Niède ainda em vida. Ela morreu na madrugada de quarta-feira (4), aos 92 anos, vítima de um infarto. A cerimônia, segundo a diretora do parque, Marian Rodrigues, será restrita para familiares e amigos próximos.
Niède Guidon
Niède Guidon nasceu em Jaú, no interior de São Paulo. Integrante de uma família de classe média alta de ascendência francesa, formou-se em História Natural pela USP e, aos 28 anos, foi estudar arqueologia na Universidade de Paris-Sorbonne, onde fez doutorado.
Ela chegou ao retornar para o Brasil mas, por causa de sua militância política, voltou à França após o golpe militar de 1964. Lá, criou uma sólida carreira como arqueóloga.
Em 1970, Niède Guidon como professora na França veio em missão até o Piauí para conhecer as pinturas rupestres em São Raimundo Nonato. A jovem pesquisadora fez uma das maiores descobertas arqueológicas ao encontrar desenhos datados de até quase 100 mil anos, que comprovam a existência do homem americano.
“Eu cheguei em São Raimundo Nonato e perguntei algumas pessoas sobre as pinturas nas paredes, e elas me mostraram alguns sítios. Eu vi a importância dessas pinturas completamente de tudo que se conhecia. Fotografei e consegui na França uma missão para vir até aqui. Em 1973, eu voltei com uma equipe de alunos e aqui ficamos mais de um mês fazendo o levantamento dessas pinturas e vimos a quantidade impressionante de sítios e a importância da região”, comentou.
Em 1978, as pesquisas de Niède despertavam o interesse de biólogos e paleontólogos de todo o mundo, que resultou na missão Franco-Brasileira, que tinha o objetivo de estudar a parte pré-histórica, meio ambiente e meio social.
Foi por iniciativa dela que, em 1979, o governo brasileiro criou o Parque Nacional da Serra da Capivara. E também foi por meio da paulista que as descobertas no sítio arqueológico do Piauí ganharam destaque internacional, em 1986, ao serem publicadas na prestigiada revista científica britânica Nature.
Cedida pelo governo francês, Niède se mudou definitivamente para São Raimundo Nonato em 1991 para administrar o parque, que foi reconhecido como Patrimônio Cultural da Humanidade, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
Em 2020, a arqueóloga e fundadora do Parque Nacional da Serra da Capivara, Niède Guidon, tomou posse na cadeira de número 24 na Academia Piauiense de Letras (APL).
A arqueóloga Niède Guidon recebeu em 2024 o título Doutora Honoris Causa da Universidade Federal do Piauí (UFPI), pelos seus mais de 50 anos de trabalho à frente das pesquisas arqueológicas realizadas na Serra da Capivara.
“Eu agradeço todos que me ajudaram durante esses anos com as pesquisas e a criar o Parque Nacional Serra da Capivara”, declarou Niède.
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