
Nos últimos anos, a reposição de testosterona se popularizou no Brasil, muitas vezes usada de forma indiscriminada, sem indicação médica adequada. Influenciadores, academias e até clínicas não especializadas têm estimulado seu uso como uma forma de “melhorar performance”, ganhar massa muscular ou “rejuvenescer”.
Mas, é preciso deixar claro que o uso abusivo desse hormônio pode trazer riscos sérios à saúde masculina, incluindo impactos sobre a próstata, fertilidade, sistema cardiovascular e até na circulação do sangue.
A testosterona e a saúde da próstata
Um dos efeitos fisiológicos da reposição de testosterona é o aumento do volume da próstata e dos níveis do PSA (antígeno prostático específico), marcador usado para monitorar alterações prostáticas.
Esse crescimento, porém, geralmente reflete apenas a restauração ao estado de eugonadismo (níveis normais de testosterona), e não necessariamente representa agravamento dos sintomas urinários.
Estudos clínicos demonstraram que homens em terapia hormonal não apresentam aumento significativo nos sintomas miccionais, como o jato urinário fraco, urgência ou aumento da frequência urinária, nem maior risco de retenção urinária ou piora da função renal.
Entretanto, qualquer aumento anormal do PSA deve ser investigado, já que pode sinalizar outras condições, incluindo o câncer de próstata.
📌 “Você que faz uso de testosterona, não esqueça de verificar como anda a sua próstata e o seu PSA.”
Efeitos sobre o sangue: risco de eritrocitose
A testosterona tem um efeito direto sobre a produção de hemácias, estimulando a medula óssea. Por isso, a eritrocitose é o efeito colateral mais comum da terapia com testosterona, com prevalência variável dependendo da formulação utilizada.
Os tratamentos injetáveis de curta ação, aplicados em intervalos de 7 a 20 dias, estão associados a um risco maior de eritrocitose quando comparados às preparações transdérmicas (gel).
Esse aumento do hematócrito, ou seja, da concentração de glóbulos vermelhos, deixa o sangue mais “grosso”, o que pode dificultar a circulação coronária, cerebral ou periférica, principalmente em idosos com doenças cardiovasculares pré-existentes.
Por isso, homens que recebem testosterona devem ter monitoramento periódico do hemograma, com atenção especial ao hematócrito.
Em casos de elevação significativa, podem ser necessárias medidas como ajuste de dose, interrupção temporária da terapia, flebotomia terapêutica ou até doação de sangue em situações específicas.
📌 “Se você está usando testosterona, verifique e acompanhe no seu hemograma o nível de hematócrito.”
Reposição hormonal não é para todos
Um dos principais equívocos é acreditar que níveis baixos de testosterona exigem reposição imediata. O primeiro passo é identificar a causa dessa queda, que pode ser transitória ou reversível (por exemplo, relacionada ao estresse, obesidade, uso de medicações ou doenças crônicas).
Antes de iniciar o tratamento, é essencial responder a algumas perguntas:
- Por que minha testosterona está baixa?
A causa pode ser tratável sem reposição hormonal. - Tenho sintomas associados?
Nem todo homem com testosterona baixa apresenta queixas clínicas. - Quais são os riscos e benefícios reais?
Reposição sem acompanhamento pode afetar fertilidade, fígado, perfil lipídico e aumentar risco de complicações hematológicas. - Desejo ter filhos no futuro?
A testosterona exógena pode suprimir a produção de espermatozoides. - Qual a melhor via de administração para meu caso?
No Brasil, há opções intramusculares (de curta e longa ação), subcutênas e em gel transdérmico, cada uma com efeitos e perfis de segurança diferentes. - Existem alternativas à testosterona?
Em casos específicos, outras estratégias podem estimular a produção endógena do hormônio sem precisar repor diretamente.
O alerta
O uso abusivo de testosterona pode trazer consequências irreversíveis. Entre elas estão:
- Supressão do eixo hormonal natural;
- Infertilidade masculina;
- Aumento de risco cardiovascular;
- Eritrocitose;
- Efeitos colaterais psicológicos e comportamentais.
A importância do acompanhamento médico
A terapia com testosterona só deve ser prescrita após avaliação clínica e laboratorial criteriosa. Além disso, o acompanhamento periódico, com exames de sangue, PSA, avaliação prostática e hematócrito é indispensável para minimizar riscos e ajustar a dose corretamente.
👉 Antes de iniciar qualquer tratamento hormonal, consulte um urologista ou endocrinologista com atuação em saúde masculina. O hormônio certo, na dose errada, pode se transformar em um grande problema.
Dr. Giuliano Aita, membro do Departamento de Andrologia da Sociedade Brasileira de Urologia
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