12 de novembro de 2025

Entenda o esquema bilionário de lavagem de dinheiro usando postos de combustíveis do Piauí ligados ao PCC

A operação resultou na interdição de 49 postos.
Atualizado em 05/11/2025 13:22

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A investigação sobre a infiltração do Primeiro Comando da Capital (PCC) no setor de postos de combustíveis surgiu após venda da ‘Rede Postos HD’, que possui unidades no Piauí, Maranhão e Tocantins. A transação, realizada no fim de 2023, levantou suspeitas: a compradora, Pima Energia Participações Ltda, havia sido criada apenas seis dias antes da assinatura dos contratos e os antigos donos continuaram à frente da empresa, segundo o secretário de Segurança Pública do Piauí, Chico Lucas.

Segundo Chico Lucas, foram encontrados indícios de que a Pima Energia funcionava como empresa de fachada, ligada ao Jersey Fundo de Investimento em Participações e à Altinvest Gestão de Recursos, nomes já citados na Operação Carbono Oculto, deflagrada pela Receita Federal e Ministério da Justiça em agosto de 2025, que desmantelou um esquema de R$ 52 bilhões comandado por integrantes do PCC no setor de combustíveis.

“Começamos as investigações com várias denúncias de adulteração de combustíveis, além de fiscalizações do Procon e do Imepi. Então, são mais de 20 autuações por posto de gasolina, em que nós tínhamos uma fraude quantitativa, quando há uma quantidade menor de combustível, e qualitativa, quando há aditivos adicionados à gasolina. Além disso, a Sefaz analisou, ao longo de 2023 e 2024, crimes tributários, ou seja, contra o Fisco. Nós sabíamos e iniciamos uma investigação sobre a origem do recurso, que era estranha, pois os proprietários eram de São Paulo. Havia um receio de que essa origem fosse ilícita, mas não havia certeza”, explicou.

Embora formalmente vendidos, os postos HD continuaram sob o controle indireto dos empresários piauienses Haran Santhiago Girão Sampalo e Danilo Coelho de Sousa. Documentos apontam que as novas empresas eram administradas por ex-funcionários dos próprios empresários, pessoas com perfil socioeconômico incompatível com o de donos de holdings milionárias sediadas na Avenida Paulista, em São Paulo.

Posto de combustível interditado em operação (Foto: SSP-PI)

Mais de 70 empresas estão envolvidas no esquema, incluindo postos, construtoras, distribuidoras, transportadoras e até fintechs. As movimentações financeiras suspeitas somam R$ 5 bilhões. Só no Piauí, foram identificados R$ 300 milhões em créditos de empresas envolvidas.

De acordo com o delegado Anchieta Nery, diretor de Inteligência da SSP-PI, foram identificados CNPJs sobrepostos, alterações societárias em série e transferências entre empresas criadas para dissimular a origem dos recursos. Ademais, nas redes sociais, as esposas dos empresários piauienses continuavam ostentando carros de luxo, viagens internacionais e propriedades rurais de alto valor, padrão de vida incompatível com os lucros declarados do negócio.

Esposas de empresários investigados ostentavam vida de luxo nas redes sociais (Foto: Reprodução)

Além da lavagem de dinheiro, a investigação detectou um padrão de fraudes graves: adulteração de combustíveis, prática que causa prejuízo direto ao consumidor, riscos à segurança e evasão fiscal. Também foram identificados indícios de fraude eletrônica, controlada remotamente por celular, e as placas apreendidas foram encaminhadas à perícia.

“Essa operação é um marco para os consumidores e para a sociedade piauiense. Pela primeira vez, postos de combustíveis estão sendo interditados e não voltarão a funcionar no mesmo dia. Hoje, cerca de 30 estabelecimentos em Teresina permanecem interditados” disse o diretor-geral do IMEPI, Júnior Macêdo.

Elo com o PCC

As provas reunidas pela equipe do Laboratório de Lavagem de Dinheiro da Polícia Civil do Piauí (LAB-LD/PC-PI) confirmam que os fundos e empresas que compraram os postos piauienses estão diretamente vinculados aos alvos da Operação Carbono Oculto, deflagrada em São Paulo. Entre os nomes em comum está Rogério Garcia Peres, gestor da Altinvest, apontada como uma das principais fintechs usadas pelo PCC para movimentar recursos de origem ilícita.

Notas fiscais apreendidas no Piauí mostram transações diretas entre empresas locais e distribuidoras paulistas que já figuram em investigações sobre lavagem de dinheiro e adulteração de combustíveis, entre elas Duvale Distribuidora, GGX Global e Copape Produtos de Petróleo.

Das remessas financeiras ao PCC foi identificado a transferência de R$ 702.518,00 de Denis Villani para empresa controlada por ‘laranja’ já identificado na operação.

A Polícia Civil do Piauí identificou semelhanças entre os esquemas nacional e local, como o uso de fundos de investimento, fintechs clandestinas, empresas de fachada e adulteração de combustível como fachada para lavagem.

Principais envolvidos no esquema:

  • Haran Santhiago Girão Sampalo e Danilo Coelho de Sousa: antigos donos da Rede HD, responsáveis pela expansão e venda do grupo.
  • Moisés Eduardo Soares Pereira e Salatiel Soido de Araújo: atuavam como intermediários e “laranjas” em empresas com sede em São Paulo.
  • Denis Alexandre Jotesso Villani: empresário paulista ligado à Rede Diamante, com participação em 40 empresas, incluindo 12 postos no Piauí.
  • Rogério Garcia Peres: gestor da Altinvest, apontado como operador financeiro do PCC.

Empresas envolvidas no esquema:

  • Pima Energia Participações Ltda.: holding criada pouco antes da compra da Rede HD, ligada ao Jersey Fundo de Investimentos e à Altinvest.
  • Mind Energy Participações Ltda.: usada para transferir parte das unidades; também tem sede em São Paulo.
  • Rede Diamante/DNPX Diamante Nice Participações Ltda.: controla 12 postos no Piauí e Maranhão; pertence a Denis Villani.
  • Fundos e fintechs envolvidos: Altinvest, Jersey FIP, GGX Global Participações, Duvale Distribuidora e Copape Produtos de Petróleo.

Medidas requeridas

A Polícia Civil representou junto ao Poder Judiciário pelas seguintes medidas:

  • Prisão temporária dos principais investigados;
  • Busca e apreensão domiciliar em residências e sedes empresariais;
  • Bloqueio judicial de contas e bens móveis/imóveis;
  • Interdição imediata dos postos de combustíveis investigados;
  • Suspensão de atividades econômicas de empresas associadas.

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