
Emanuel Pereira*
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As principais recordações de infância da teresinense Pettra Roque não são as brincadeiras na rua ou os momentos de alegria com a família. Hoje, ela é uma mulher trans de 37 anos que coleciona diplomas e trabalha como atriz, professora e psicóloga na capital piauiense.
O bom-humor característico dela contrasta com a exclusão e as agressões sofridas durante o período escolar que, com frequência, faz parte da comunidade LGBTQIAPN+. Diante do preconceito, a leitura foi o maior refúgio para compreender que isso é a maior manifestação de ignorância humana, diz Pettra.
A profissional afirma que a sociedade não espera a ascensão social e econômica de pessoas trans por meio da Educação.
Ao exercer três profissões, Pettra rompe o ciclo da exclusão e está alcançando sucesso em suas carreiras profissionais, mesmo quando é vítima de rejeição.
“Quem é trans precisa sempre se mostrar superior quando se trata do mercado de trabalho, pois, muitas vezes, a nossa aparência é mais analisada do que o próprio currículo. Já fui a entrevistas de emprego nas quais o meu cabelo foi o fator mais comentado pelos avaliadores, em vez do meu conteúdo acadêmico, que inclui cursos técnicos, graduações e especializações”, recorda.
Em mais uma matéria especial da série “Fora do armário”, o Portal ClubeNews narra a trajetória de grandes conquistas da atriz, professora e psicóloga Pettra Roque, uma mulher que, além de brilhar nos palcos e salas de aula, assume a missão de cuidar da saúde mental da população LGBTQIAPN+.
CARREIRA ARTÍSTICA
A artista nasceu em uma família evangélica e já foi líder de dança na igreja, antes da sua transição de gênero. Em 2012, ela fez apresentações como drag queen na cidade.
Pettra é fascinada pelo mundo das artes e frequentou muitos grupos e oficinas teatrais, até se formar no curso técnico em Teatro na Escola Gomes Campos. Segundo ela, a leitura despertou sua vocação artística.
“Quando era criança, adorava ler livros paradidáticos, especialmente os de Monteiro Lobato, o que me motivou a participar de alguns grupos de teatro. Isso aliviava as situações traumáticas que tive nesse período”, pontuou.
SAÚDE MENTAL
A piauiense exerce a função de psicodramatista, na qual concilia a psicologia e a arte a fim de proporcionar maior qualidade de vida à comunidade LGBTQIAPN+. Além de promover a saúde mental dessas pessoas, Pettra visa romper estereótipos.
“Acredito que a psicologia deve ser um instrumento facilitador ao processo de transição de homens e mulheres. Além disso, meu trabalho está voltado para descaracterizar estereótipos impostos à comunidade e mostrar que nós podemos nos destacar, basta oferecer oportunidades”, frisou.
UM SONHO REALIZADO
Recentemente, a psicóloga realizou o sonho de ser professora do Ensino Superior. Pettra ministra aulas em pós-graduações no curso de Psicologia.
Como educadora, ela busca promover a tolerância e mostrar que mulheres transexuais também podem alcançar sucesso profissional.
“Eu nunca imaginei que teria essas oportunidades. Teresina é uma cidade preconceituosa e ainda não aceita pessoas trans em posições de destaque. Há um cenário de exclusão e isso precisa mudar”, finalizou.
*Estagiário sob supervisão da jornalista Carlienne Carpaso
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