Mário Ponte – Psicólogo / www.psimarioponte.net
“Quando sentimos medo ou ansiedade, também tendemos a ver-nos como
fracos, vulneráveis e incapazes de enfrentar.”

Desde 2017, o Brasil tem o maior índice de pessoas com
transtornos de ansiedade em todo o mundo. Já eram
quase 19 milhões de brasileiros com a qualidade de vida
comprometida. E aí veio o coronavírus e só piorou as
coisas.
Você sabia?
O Brasil é o país mais ansioso do mundo, segundo a OMS.
O que é ansiedade?
Seguramente você já sentiu medo e sabe muito bem como, e em que situações, essa emoção se manifesta. O medo é um importante legado evolutivo que leva os organismos a evitarem situações de perigo tendo, portanto, um relevante valor na sobrevivência e preservação das espécies.
O medo é produzido a partir da percepção de perigo e, por isso mesmo, é imprescindível à nossa sobrevivência. É o medo que nos ajuda a evitar lugares altos, aproximação de animais selvagens ou venenosos, parar no sinal vermelho. É o medo que nos impulsiona a prepararmo-nos para uma prova, falar em público e prepararmo-nos para outros desafios do dia a dia.
Sem o medo nossa sobrevivência estaria comprometida. Assim é que se pode dizer, com segurança, que o medo é uma emoção herdada de nossa escalada evolutiva. Indivíduos desprovidos de medo morreram cedo e assim deixaram nenhum ou poucos descendentes. Ao contrário, indivíduos medrosos viveram mais, logo, deixaram mais descendentes, todos com essa mesma emoção desenvolvida. Enfim, não há nada demais com o medo, é uma emoção demasiadamente humana.
É praticamente impossível viver sem medo, no entanto o medo deve estar presente em certas situações e em intensidade ideal. O medo nos protege, mas o medo exagerado ou o medo manifestado em situações que a maioria das pessoas não o manifesta pode caracterizar um transtorno. Assim, grosso modo, pode-se definir a ansiedade como um medo extremado na ausência de um perigo real ou em intensidade desproporcional ao perigo.
Ansiedade é o medo inapropriado. Desligado da realidade, ele deixa de ser um sinal confiável de perigo e passa a ser um obstáculo na vida do indivíduo.
Imagine alguém que evita jardins por ter pavor de borboletas ou que chora temendo a morte por uma doença grave, sem ao menos estar adoentado. Certamente estamos diante de um medo exagerado, que chega a paralisar a pessoa e, ao mesmo tempo, diante de um medo sem que haja perigo real. Estamos pois, diante de uma ansiedade, ou um transtorno de ansiedade.
A ansiedade está sempre orientada ao futuro; ela é governada pela ideia de “E se?”. E se eu morrer? E se eu não passar na prova? E se eu perder meu emprego? E se o cachorro me atacar? E se eu não fizer meu trabalho direito? E se eu tiver um ataque de pânico no cinema? E se eu fizer papel de ridículo ao falar em público? E se rirem de mim?
E como saber se é medo normal ou é um quadro de ansiedade?
O que vai definir se um quadro de ansiedade é normal ou patológico é a presença de sofrimento significativo ou prejuízo em alguma dimensão da vida do sujeito.
Quais os tipos de ansiedade
Vários são os transtornos de ansiedade descritos e catalogados no Manual de Transtornos Mentais –
DSM-5:Transtorno de Ansiedade de Separação
Mutismo Seletivo
Fobias Específicas
Transtorno de Ansiedade Social
Transtorno do Pânico
Agorafobia
Transtorno de Ansiedade Generalizada.
Na prática clínica as fobias específicas, o transtorno de ansiedade social, o transtorno do pânico, a agorafobia e o transtorno de ansiedade generalizada prevalecem e, não raro, manifestam-se de forma associada em muitos pacientes. Não raro, pacientes com ansiedade generalizada apresentam fobias específicas. O mesmo ocorre com ansiedade generalizada e pânico ou pânico e agorafobia, e ainda quaisquer deles associados à depressão.
“A mente ansiosa diminui naturalmente
se não lhe dermos atenção.”
Sintomas
Os transtornos de ansiedade incluem transtornos que compartilham características de medo e ansiedade excessivos e comportamentos disfuncionais ou desadaptativos. Chamamos de comportamentos disfuncionais aqueles comportamentos que trazem dificuldades ou prejuízos à vida do sujeito. São comportamentos inapropriados.
São exemplos de comportamentos disfuncionais todos os comportamentos de evitação: evitar elevador, evitar lugares fechados, evitar lugares com muita gente, evitar dirigir, evitar falar em público, evitar aproximação para uma relação afetiva.
Entende-se por medo a emoção desencadeada diante de uma ameaça iminente, real ou percebida, ao passo que ansiedade é o medo “por antecipação”. A ansiedade gera um comportamento de hipervigilância e uma tensão muscular somado a comportamentos de evitação.
O ansioso está sempre na expectativa de que algo ruim vai acontecer, seja uma doença grave e incurável, seja a ruína financeira, seja um acidente grave consigo ou alguém de sua convivência, seja uma rejeição, seja um ataque de pânico. Dessa forma o ansioso está em permanente hipervigilância e elevado estado de tensão muscular, resultado da ativação do sistema nervoso simpático.
A hipervigilância do ansioso o impede de relaxar, daí as dores musculares, insônia, preocupações incessantes e catastrofização, que se caracteriza por pensamentos repetitivos de que algo vai dar errado, sem nem ao menos ter ideia do que seja, que é o que ocorre no transtorno de ansiedade generalizada.
Para além dos sintomas comportamentais, vários sintomas físicos prejudicam a qualidade de vida do paciente: taquicardia, falta de ar, tremores, tensão, tontura, sudorese, secura na boa e garganta, arrepios, ondas de calor ou frio, urgência para evacuar ou urinar, formigamento, fadiga. A lista dos sintomas físicos é enorme, por isso mesmo, é comum que pacientes ansiosos procurem, repetidamente, uma urgência hospitalar na certeza de que estão na iminência de um ataque cardíaco ou outro problema de saúde físico.
Esses sintomas podem levar ao quadro depressivo, caracterizado pelos sintomas do transtorno acrescido de alterações no humor, como apatia, solidão, tristeza, além do isolamento social e dores sem justificativa física.
No caso específico do pânico, comumente está presente ainda a sensação de se estar ficando louco ou perdendo o controle. É exatamente dessa forma que se expressam os pacientes. São muitas manifestações fisiológicas e cognitivas que deixam o paciente completamente atônito, sobretudo, quando ausente qualquer estímulo externo que justifique todo aquele turbilhão de sensações.
“O modo como você pensa
determina se a ansiedade persiste
ou diminui.”
A causa
Ainda não se sabe a causa dos transtornos de ansiedade, assim como acontece com maioria dos transtornos ou doenças mentais. Há fortes indícios de que a predisposição genética tenha um importante papel no desenvolvimento dos transtornos, mas isso não explica tudo, na verdade, explica muito pouco. No entanto, saber a causa de uma doença não significa muita coisa. Há doenças cuja causa se desconhece e existe tratamento eficaz, ao passo que há doenças cuja causa é conhecida e não há tratamento algum.
“Entender que alguns riscos são
aceitáveis e o primeiro passo para
remissão dos sintomas da ansiedade.”
Como tratar a ansiedade
Alguns tipos de transtornos requerem uma intervenção farmacológica, que fica por conta do médico psiquiatra. Psicólogos não prescrevem remédios.
Haja ou não a necessidade dos fármacos, o que se tem é que a psicoterapia é extremamente importante no manejo de quaisquer dos tipos de ansiedades e as terapias cognitivas e comportamentais apresentam-se como o tratamento padrão-ouro para esse tipo de dificuldade.
A terapia comportamental enfraquece hábitos e enfrenta evitações a partir de técnicas de exposição gradual, seja in vivo, seja no pensamento, a depender do estágio do tratamento e da evitação-alvo.
A terapia cognitiva atua identificando e mudando padrões de pensamentos disfuncionais, que mantém e alimentam as ansiedades, por meio de suas técnicas de reestruturação cognitiva.
As duas terapias, comportamental e cognitiva, são geralmente aplicadas em conjunto, daí a expressão Terapia Cognitivo-Comportamental.
Veja no que consiste a TCC em www.psimarioponte.net.
No manejo das ansiedades utilizam-se ainda a higiene do sono, que consistem em uma rotina com controle de estímulos, as práticas de meditação em atenção plena, a respiração diafragmática, que estimula o sistema nervoso parassimpático, e a prescrição de atividade física regular.
Em www.psimarioponte.net você encontra mais informações sobre a higiene do sono e outras técnicas de tratamento das ansiedades.
Em todo caso, independentemente da terapia adotada, a escuta empática desde o primeiro contato está relacionada a melhores resultados, de forma que procurar profissionais experientes e bem treinados é um fator diferencial no sucesso do tratamento.
Por fim, vale ressaltar que a Terapia Cognitivo-Comportamental é uma espécie de terapia que conta com uma postura ativa do paciente. São os treinos, e não as sessões com o terapeuta, que removerão as dificuldades comportamentais e enfraquecerão os pensamentos distorcidos que alimentam todas as dificuldades do sujeito ansioso, logo, não há mágica, será o paciente que construirá a estrada de sua saúde mental e de seu bem-estar, cabendo ao profissional conhecer e orientar o paciente com as técnicas e os treinos específicos.
Cada uma das ansiedades conta com um protocolo específico de tratamento e o terapeuta deve estar familiarizado com esses protocolos, sob pena de andar em círculos e nada, ou muito pouco, ajudar.
Nos próximos artigos trataremos de cada um dos transtornos de ansiedade, dentre os mais
prevalentes.
Mário Ponte
Psicólogo – Clínica TCC
Av. Universitária, 750 – Sala 718 / Torre Office – DIAMOND CENTER – (86)9.9929.5702
E-mail: marioponte@psimarioponte.net / @mariopontepsi / www.psimarioponte.net
Envie sua sugestão de pauta para nosso WhatsApp e entre no nosso Canal.
Confira as últimas notícias: clique aqui!
