
“A prática da caça de tatus e outros animais silvestres é comum no Piauí e nos demais estados do Brasil, mesmo sendo crime”, diz o analista ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Fabiano Pessoa, que é especialista em Saúde Pública, ao lamentar a morte de um jovem em consequência da “doença do tatu”, na cidade de Simões, na última semana.
A caça aos animais silvestres é crime ambiental, conforme previsto na Lei N° 6505/98, com penalidades de multa e de prisão. Fabiano Pessoa, que também é médico veterinário, ressalta que o homem precisa adotar uma postura de respeito ao animal silvestre. “O cidadão deveria compreender a importância do tatu, do veado, da cutia etc. no processo de equilíbrio ambiental que nos cerca”.
O Portal ClubeNews apurou que o adolescente continua internado no Hospital Justino Luz, na cidade de Picos, na sala de cuidados críticos por apresentar comprometimento pulmonar.
Outro paciente, irmão do adolescente que faleceu, também foi infectado, já recebeu alta e continua o tratamento em casa.
Doença do Tatu
Especificadamente sobre o tatu, o analista ambiental cita que ele é reservatório natural de diversos agentes infecciosos, como exemplo, a bactéria que transmite a hanseníase, a Doença de Chagas, a Leishmaniose. Ou seja, a pessoa que caça, manipula as vísceras e come a carne desse animal, além do risco de inalar o fungo presente no solo, vai entrar em contato com os microorganismos e parasitos que o tatu carrega.
“Infelizmente, por onde andamos no interior do Piauí, ouvimos relatos de pessoas que tiveram parentes doentes por causa da micose e do hábito errado de caçar tatus”, disse o especialista.
Fabiano conta que essa “micose pulmonar” é comum no Piauí, pois “os piauienses que insistem em caçar tatus acabam inalando a forma infectante do fungo, presente no solo das tocas dos animais, e adoecem”.
Pandemia Covid-19
Fabiano Pessoa lembra que muitos pesquisadores e autoridades de saúde apontam que a pandemia da Covid-19 teve origem em um mercado de animais silvestres, na China. Em 2020, o Governo Chinês chegou a implementar em todo o país uma rígida proibição ao consumo e criação de animais silvestres.
“Parece que a Covid não foi suficiente para as pessoas compreenderem a necessidade urgente de mudança de postura frente aos animais silvestres e ao ambiente natural!”, comenta.
Para o veterinário, o ato da caça, do consumo, do transporte, da manipulação, da manutenção em cativeiro ilegal nas casas representam fatores de risco às pessoas, favorecendo o surgimento das doenças, sendo muitas delas zoonoses (doenças transmitidas dos animais para os homens).
Pessoa elenca que o estado do Piauí já confirmou casos positivos das doenças Covid, Ebola, Zika Vírus, Raiva, Ornitose, Leishmaniose e Febre do Nilo Ocidental. Só a Covid, por exemplo, matou 7.929 pessoas no estado.
“É preciso ter o sentimento de precaução diante do contato com os animais silvestres. Respeitá-los, evitar contato próximo, não interferir na alimentação (um erro comum das pessoas, achando que os animais irão morrer de fome). Precisamos entender que os animais silvestres, diferentes dos domésticos, não precisam do ser humano para sobreviver”.
Prevenção
“O IBAMA Piauí, desde 2007, vem alertando a sociedade dos imensos riscos que as pessoas correm ao entrar na mata e tentar caçar um animal silvestre, neste caso específico os tatus. Extremamente lamentável, mais um jovem piauiense morrer por uma causa evitável”, acrescenta o ambientalista.
O Ibama possui o “Projeto Liberdade e Saúde” no qual busca sensibilizar a sociedade para mudança de atitudes e posturas com os animais silvestres. “Através da educação e a criação de diversos materiais educativos (gibi, músicas, vídeos), idealizados pelos servidores do Ibama Piauí, queremos que todos compreendam a importância de deixar os animais silvestres em liberdade”.
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