
Thálef Santos*
thalefsantos@tvclube.com
Uma pesquisa anual sobre a insegurança alimentar, nomeada Vigisan, revela que as famílias que possuem mais incerteza sobre o que comer no dia seguinte são as que possuem crianças com menos de dez anos. De acordo com o levantamento, 37,8% dos domicílios onde moram essas crianças enfrentam insegurança alimentar grave ou moderada, ou seja, passam fome ou têm uma dieta insuficiente. O Piauí ocupa a segunda maior porcentagem do país nessa relação.
O percentual é sete pontos maior do que a média nacional, de 30,7%, quando levados em conta todos os domicílios. O levantamento foi realizado pela Penssan (rede brasileira de pesquisa em soberania e segurança alimentar e nutricional), que envolve seis entidades parceiras.
Em junho, a primeira fase da pesquisa mostrou que 33 milhões de brasileiros estão em insegurança alimentar grave, ou seja, passam fome. “Fica claro que, quanto maior a quantidade de crianças em uma casa, maior a chance de ter insegurança alimentar, mais fome. Há uma relação direta porque a demanda das crianças é maior”, afirma Rosana Salles Costa, do Instituto de Nutrição da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e pesquisadora da rede Penssan.

Entenda as categorias
A insegurança alimentar leve atinge 28% dos brasileiros, aponta a pesquisa nacional do Vigisan (inquérito nacional sobre segurança alimentar no contexto da pandemia covid-19 no brasil). É quando a família tem preocupação ou incerteza sobre a alimentação futura.
Insegurança alimentar moderada: atinge 15,2% dos brasileiros. É quando há redução da quantidade de alimentos entre os adultos e uma mudança nos padrões de alimentação com a falta de alguns produtos (no caso do Brasil, feijão, arroz, uma proteína, frutas e legumes).
Insegurança alimentar grave: atinge 15,5% dos brasileiros. É quando a redução de alimentos atinge até as crianças, além da mudança nos padrões de alimentação, resultante da falta de alimentos.

Piauí com fome
A dona de casa Lissandra Costa Caetano mora na zona rural de Parnaíba com três filhos. Para pagar as contas, ela recebe diárias de trabalhos informais, além do Auxílio Brasil. “Dou meu jeito, tem que dar. Não é fácil, não”, conta ela. No lugar da carne, comem mortadela, por exemplo.
“Tive que cortar muita coisa mesmo. A carne e às vezes não compro ovo também, não, porque até o ovo está caro, antes era barato e agora estamos cortando. Até a galinha está sendo difícil (comprar)”, explica Lissandra. Essa também é a realidade da Katiana Alves, que fecha uma conta mensal em um comércio próximo e paga tudo no fim do mês com o benefício do Auxílio Brasil.
“Arroz, carne, acabou, não tem mais, acabou tudo”, disse. Além dos cortes na alimentação, Katiana recorre ao fogareiro ou ao forno a lenha para cozinhar, já que o dinheiro não dá para comprar o gás de cozinha.
Escolhas
“Quando se tem uma criança em uma família com renda adequada, não há problema em pagar uma escola particular; ou, se for pública, consegue comprar material, atender demandas de saúde. Quando não, essas famílias têm de fazer escolhas”, afirma Rosana Salles Costa, pesquisadora da rede Penssan.
Segundo a pesquisadora, o maior percentual de fome em casas com crianças pode ser um dos reflexos do novo recorte do Auxílio Brasil, que criou um piso que não levou em conta o número de crianças em uma casa. Com isso, uma residência com um adulto recebe hoje o mesmo valor (R$ 600) por mês que um lar onde morem cinco crianças e a mãe, por exemplo.

*Sob supervisão da jornalista Carlienne Carpaso.
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