Pela primeira vez, o Piauí passou a integrar a Rede de Observatórios da Segurança em 2021. No levantamento, o estado registrou o maior número de linchamentos ou tentativas de linchamentos no Brasil com 34 casos, dentro do período pesquisado, que foi de agosto de 2021 a julho de 2022.
O Piauí também chamou a atenção por ser um dos estados do Nordeste com mais casos de violência sexual infantil. Marcondes Brito, especialista em Segurança Pública em entrevista ao Bom Dia Piauí, da TV Clube, disse que isso é reflexo de elementos estruturais da sociedade, como o machismo, e também de elementos estatais, como uma rede de proteção com falhas.
“Por exemplo: nós temos o menor contingente policial; temos um plano de segurança que caducou sem ser implementado, errou no diagnóstico e a secretaria ainda não veio a público refazer esse diagnóstico nem chamou as instituições que têm feito pesquisa para conversar nesse sentido. No caso de crianças, especificamente, a rede de proteção tem falhado severa e constantemente. Nós tivemos um caso agora que chocou o Brasil: uma criança de 11 anos gravida pela segunda vez, obrigada a ter filho fruto de uma violência”, comentou.
A Rede de Observatórios da Segurança explica que o monitoramento dos casos “é feito diariamente a partir de veículos de imprensa. Os pesquisadores coletam informações e alimentam um banco de dados que é posteriormente revisado e consolidado”.
| Eventos monitorados pela Rede de Observatórios da Segurança – agosto de 2021 a julho de 2022 | PIAUÍ |
| Policiamento | 843 |
| Evento envolvendo arma de fogo | 496 |
| Feminicídio e violência contra mulher | 136 |
| Violência contra crianças e adolescentes | 91 |
| Manifestação, greve e protesto | 84 |
| Vitimização de agentes do estado | 37 |
| Violências, abusos e excessos por parte de agentes do Estado | 11 |
| Sistema penitenciário e Socioeducativo | 8 |
| Linchamento e tentativa de linchamento | 34 |
| Racismo e injúria racial | 7 |
| Saques em estabelecimentos comerciais ou outros (Coronavírus) | 1 |
| Violência contra LGBTI+ | 3 |
| Chacinas | 2 |
| Ações e ataques de grupos criminais | 5 |
| Corrupção policial | 6 |
| Intolerância religiosa | 1 |
| Total por estado | 1.765 |
Sobre os dados, a Secretaria de Segurança Pública do Estado do Piauí informou que não comenta dados que não sejam oficiais.
Para cada estado, o estudo expõe os dados mais alarmantes:
– Polícia do Rio de Janeiro mata mais que todos os outros estados juntos;
– No Nordeste, polícia baiana é a que mais mata e;
– Maranhão tem o maior número de ações de policiamento no Nordeste;
– Bahia teve aumento de 47% em índices de violência contra a mulher;
– Pernambuco é o estado que mais mata mulheres trans;
– Piauí é o estado com maior registro de linchamentos por número de habitantes;
– Ceará quase dobra número de chacinas com aumento de 75%, estado também é onde mais policiais morrem no Nordeste;
– Maranhão e Piauí têm os maiores índices de violência sexual contra crianças no Nordeste;
– São Paulo registra aumento de 15% na violência contra crianças e adolescentes.
Chacinas e Linchamentos
Chacinas e linchamentos são indicadores cruciais de nossa humanidade. “Sempre que uma chacina é executada, existe um recado para toda a sociedade”, afirma o estudo.
O Rio de Janeiro acumula chacinas policiais com grande número de mortos e no período da análise registrou 40 eventos com 183 mortes.
“Já linchamentos são respostas da sociedade que desacredita do sistema de justiça e resolve os problemas com as próprias mãos em um ato bárbaro”. Em um ano, o estudo registrou 167 casos de linchamentos (132) e tentativas (35).
“Ao olharmos os números absolutos, São Paulo é o estado com mais casos (39), porém, o Piauí, com cinco casos a menos, é o estado que mais preocupa, já que sua população é dez vezes menor que a paulista. As principais vítimas são meninos negros vistos como suspeitos e que “mereceriam um corretivo”, segundo a Rede.
Sobre a Rede de Observatórios
Após dois anos operando na produção cidadã de dados em cinco estados, a Rede de Observatórios, projeto do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC), com apoio da Fundação Ford, chegou ao Maranhão e ao Piauí no segundo semestre deste ano.
A Rede de Estudos Periféricos, da UFMA e IFMA, e o Núcleo de Pesquisas sobre Crianças, Adolescentes e Jovens, da UFPI se unem a Iniciativa Negra por uma Nova Política sobre Drogas (INNPD); Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares (Gajop); Laboratório de Estudos da Violência (LEV/UFC) e ao Núcleo de Estudos da Violência (NEV/USP).
O objetivo é monitorar e difundir informações sobre segurança pública, violência e direitos humanos.
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