7 de outubro de 2025

“É possível transformar a dor do luto em algo positivo”, diz mãe após perder filha de 17 anos

Publicado em 14/05/2023 11:00

Compartilhe:

A advogada Heloizia Ferreira luta pela valorização da vida após perder sua filha (Foto: arquivo pessoal)

Emanuel Pereira*
emanuelpereira@tvclube.com.br

Há seis anos, o segundo domingo do mês de maio tem um significado doloroso e transformador para a advogada e ativista, Heloizia Ferreira. Quatro dias antes do dia das mães, em 2017, sua filha Maria Cecília, de 17 anos, deu um ponto final à sua própria existência, deixando toda a família angustiada e cheia de incertezas.

A fatalidade, ocorrida no município de Campo Maior, redirecionou a mãe a uma nova jornada, cujo objetivo é imortalizar a adolescente por meio da luta pela valorização da vida.

Heloizia constantemente se questionava o que poderia ter feito para salvar a jovem e percebeu o quanto é importante cuidar e falar sobre saúde mental. A primeira iniciativa foi ingressar em um grupo de apoio chamado Vida Que Segue, em Teresina, que oferece apoio aos pais e mães aflitos por perderem um filho. Compartilhar sua história com outras pessoas fez a advogada ressignificar a dor do luto.

“É possível transformar a dor do luto em algo positivo, direcionando-a para ajudar os outros. Minha história é uma lição de compaixão, empatia e resiliência, que pode servir para discussões que podem salvar vida, pois a dor da perda é grande demais para ser carregada sozinha”, disse.

Em honra à memória de Maria Cecília, o Portal ClubeNews apresenta a trajetória de Heloizia como militante pela vida. A seguir, veja as ações transformadoras que uma mãe enlutada realizou a fim de cumprir seu propósito de lutar por uma sociedade mentalmente saudável e acolhedora.

Ela faz parte do grupo “Vida que Segue”, que acolhe pais enlutados (Foto: arquivo pessoal)

A DOR DO LUTO

Heloizia é casada há 24 anos e também é mãe do José e do Aluísio. Ela conta que família era estruturada e muito unida, sempre compartilhando momentos de alegria, até chegar o dia 10 de maio de 2017, quando perdeu sua filha.

“O Dia das Mães é uma data cercada de amor, nostalgia e momentos de celebração entre mães e filhos. No entanto, para mim, essa data é uma lembrança dolorosa de um momento tão marcante na minha vida. Quem já viveu momentos áridos como estes, sabe que cada pessoa lida com a perda de uma forma diferente. O fato é que, em se tratando de filhos, a tendência é que a dor seja ainda mais intensa, diferente do que se vivencia quando se perde pessoas que já viveram grandes experiências e momentos de emoção”, afirmou.

A advogada e seu esposo, José de Arimatea, decidiram não enfrentar sozinhos tamanho sofrimento e procuraram um grupo de apoio, no qual foram acolhidos e compartilharam sua dor com outros pais enlutados.

“Este tipo de luto é muito solitário e difícil de lidar. Quando estamos passando por um momento difícil, muitas vezes nos sentimos sozinhas e incompreendidas. Participar de um grupo nos faz ver que não estamos sozinhos e outras pessoas também estão enfrentando desafios semelhantes. Foi então que encontrei meu novo propósito de vida”, frisou.

A mãe transformou a dor do luto em uma luta incansável para a memória de Maria Cecília jamais ser esquecida. Um ano após partir, a adolescente recebeu uma homenagem, em que sua existência foi eternizada.

Heloizia Ferreira em palestra no Ministério Público do Piauí (Foto: arquivo pessoal0

A LEI

Maria Cecília foi homenageada e deu nome a uma Lei Municipal, aprovada em maio de 2018, em Campo Maior, na qual pais, escolas e autoridades reafirmam o compromisso de valorizar a vida, especialmente de crianças e adolescentes.

Graças à legislação e ao ativismo de Heloizia novas conquistas a favor desta causa foram alcançadas na cidade.

“Em 2021 comecei a capacitar professores para o acolhimento com alunos, participava de reuniões com os pais, explicando da necessidade de uma relação harmônica entre pais e filhos, da importância de estar perto e de procurar ajuda. No ano seguinte, conseguimos inaugurar uma sala chamada Núcleo de Valorização da Vida, onde um psicólogo receber alunos com crises de ansiedade e até mesmo em situações piores”, relatou.

Audiência pública da Lei Maria Cecília (Foto: arquivo pessoal)

VIVER O PROPÓSITO

Heloizia é advogada, mediadora de conflitos e palestrante. Além disso, ela participa da Rede de Apoio de Campo Maior e preside a Comissão de Mediação de Conflitos e de Apoio a pessoa em situação de violência da Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Piauí (OAB-PI).

Por meio das suas formações acadêmicas e profissões, ela vive o seu propósito acalentar o sofrimento de muitos pais e mães que perderam seus filhos. Todo o trabalho desenvolvido em prol da construção de uma sociedade acolhedora e mentalmente saudável é voluntário.

“Tenho a sensação de preencher um vazio dentro de mim quando mostro que a partida da minha filha não foi em vão. Estou de pé e de cabeça erguida, fazendo o que está ao meu alcance por esta causa. Sigo cuidando da minha família e de Campo Maior”, concluiu.

Inauguração da Sala do núcleo de Valorização da Vida (Foto: arquivo pessoal)

*Estagiário sob supervisão da jornalista Malu Barreto


📲 Siga o Portal ClubeNews no Instagram e no Facebook.

Envie sua sugestão de pauta para nosso WhatsApp e entre no nosso Canal.
Confira as últimas notícias: clique aqui! 

Leia também: