Eric Souza*
ericsouza@tvclube.com.br
O Estádio Governador Alberto Tavares Silva, localizado na zona Sul de Teresina, completa 50 anos de existência neste sábado (26). Inaugurado em agosto de 1973 pelo político que o batizou, o Albertão tornou-se e continua sendo a maior praça esportiva do Piauí, com capacidade atual de 44 mil espectadores.
Duas semanas antes da abertura, o estudante de Administração Numeriano Sá Filho, à época com 22, recebeu a missão de chefiar a portaria do setor que hoje é conhecido como arquibancada placar. Cinco décadas depois, o jovem que dedicou grande parte de sua vida ao estádio exerce, aos 72, a função de coordenador.
“Costumo dizer que o Albertão é minha terceira casa. A primeira é a dos meus pais e a segunda é a que moro atualmente. Minha história se confunde com a dele: no mês da inauguração, casei-me e a filha mais velha nasceu”, conta ao Portal ClubeNews.
Em seu cargo, Numeriano é responsável por cuidar dos setores interno e externo do estádio, além de supervisionar as equipes de segurança, limpeza, serviços elétricos e, claro, manutenção da grama. Ao longo dos anos, trabalhou também como chefe de funcionamento, gerente e administrador.
História escrita dentro e fora dos gramados
Saudoso, o coordenador lembra de momentos marcantes ocorridos no estádio: finais de Campeonato Piauiense, partidas de Campeonato Brasileiro e Copa do Brasil, amistosos da Seleção Brasileira e até shows musicais.
“Auto Esporte, Flamengo-PI, Piauí, River-PI e Tiradentes-PI já disputaram a elite do Brasileirão. Houve apresentações de Roberto Carlos, Os Trapalhões, Xuxa, Netinho da Bahia, Sandy e Júnior e Balão Mágico – este último registrou o maior público de nossa história: cerca de 80 mil pessoas. No futebol, o recorde pertence ao confronto entre Flamengo e Tiradentes-PI, em 1983, com 60 mil ingressos vendidos”, elenca.
No entanto, nem tudo são glórias. Numeriano rememora, com bastante pesar, a tragédia que marcou justamente a inauguração: durante o confronto entre Tiradentes-PI e Fluminense, um avião sobrevoou o local e causou um tremor, confundido com um terremoto pelos presentes. Aflitos, correram das arquibancadas e romperam uma das barras de segurança, causando a queda de vários torcedores em um fosso de três metros de profundidade.
“Essa é a maior tristeza da minha vida. Já tínhamos sido preparados para eventualidades, então acertamos que os portões menores ficariam abertos e os maiores contariam com apenas um cadeado, fácil de ser puxado. Eu estava no setor do placar quando ouvi a gritaria e pensei que estivessem comemorando um gol. De repente, vi gente descer de todos os lados. Muitos quebraram braços e pernas; lembro de uma mulher com o fêmur exposto”, descreve.
Jornais da época noticiaram de cinco a seis mortes causadas pelo tumulto. Na segunda partida, três dias após a tragédia, o então governador Alberto Silva mandou instalar uma passarela no fosso e fez questão de assistir ao duelo entre Tiradentes-PI e Cruzeiro, válido pelo Campeonato Brasileiro de 1973, na arquibancada em que a confusão havia começado, ao lado dos familiares e alguns convidados – entre eles, Numeriano.
Dias atuais e perspectivas para o futuro
Um misto de honestidade e lamento permeia a fala do coordenador ao ser questionado sobre os problemas estruturais e o declínio do futebol piauiense e, consequentemente, do público pagante.
“Muitos exigem melhorias no estádio, mas o nível técnico do nosso futebol hoje é sofrível. Acredito que os dirigentes dos clubes deveriam ser mais cobrados. Se investissem a fim de melhorarem a qualidade de suas equipes, atrairiam mais torcedores e o governo faria os reparos e as reformas necessárias”, enfatiza.
Diante do interesse do governo do Piauí em celebrar uma Parceria Público-Privada (PPP) para modernizar a praça esportiva, Numeriano espera que a iniciativa traga benefícios e garante que, mesmo após meio século, está disposto a colaborar com o Gigante da Redenção por vários anos.
“Tenho muito carinho pelo Albertão. Não gosto de quando falam mal, embora reconheça a realidade. Lógico que a aposentadoria está próxima, mas se quiserem que eu continue, pretendo cuidar daqui o máximo possível e permanecer até o dia que Deus quiser”, completa.
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*Estagiário sob supervisão da jornalista Malu Barreto
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