Tiques e xingamentos: conheça a complexa síndrome de Tourette

Luana Fontenele

Publicado em 03/09/2023 11:00

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Famosos com síndrome de Tourette. (Foto: reprodução/ montagem)

Você já ouviu falar da síndrome de Tourette? Artistas como Billie Eilish, Lewis Capaldi, e os brasileiros “Cara de Sapato” e o streamer e humorista Dilera, estão usando seus espaços na mídia para lançar luz sobre uma condição muitas vezes obscurecida pela falta de compreensão.

No vasto espectro das condições neurológicas, a síndrome de Tourette permanece como uma das mais intrigantes e frequentemente incompreendidas.

Marcada por movimentos involuntários e vocalizações, muitas vezes acompanhados por palavras obscenas e inapropriadas, a síndrome desafia estereótipos e exige uma abordagem sensível e informada, como explica a psiquiatra Leilane Camapum.

“O transtorno de Tourette está dentro dos transtornos de tique, que se caracterizam como movimentos motores ou vocalizações súbitas e rápidas que não tenham ritmo. O diagnóstico é dado quando o paciente apresenta múltiplos tiques motores, que surgem em meses ou anos, e além desse tem que ter pelo menos um tique vocal”, conta a médica.

Médica psiquiatra Leilane Camapum. (Foto: arquivo pessoal)

Segundo a psiquiatra, o quadro de Tourette inicia normalmente entre as idades de quatro a seis anos, e aumentam de gravidade entre os 10 e 12 anos, e surgem até os 18 anos.

Os primeiros tiques tendem a afetar primeiramente a região do rosto, testa e pescoço, passando para os tiques vocais em que os pacientes podem repetir as últimas frases faladas, até palavras obscenas de forma involuntária.

“Geralmente o paciente faz careta, franze a testa, e pisca os olhos. Além disso, tem os tiques vocais compostos de coprolalia, que é falar palavras obscenas, e a ecolalia que causa a repetição da última frase falada, ou últimas palavras, causando um eco na frase”, conta Camapum.

Sintomas e tratamento

A médica destaca que o transtorno de Tourette vem depois de uma doença anterior, ou seja, é comórbido, e tende a aparecer em pacientes com transtorno de atenção, transtorno desafiadores e opositores, TDAH ou TOC. É importante destacar que não há um exame específico que detecta a síndrome.

“O diagnóstico é clínico, e também posso pedir exames complementares como tomografia. Além do mais, é preciso uma história bem contada, uma anamnese bem feita sobre o paciente, para afastar outras doenças ou tiques”, conta.

A compreensão pública sobre a síndrome avançou nos últimos anos, mas ainda existe um longo caminho a percorrer para dissipar mitos e oferecer apoio genuíno às pessoas afetadas por essa condição.

Sobre o tratamento, Camapum conta que naturalmente a doença vai progredir até uma redução ou resolução total dos sintomas de tique, sendo mais comum na adolescência e fase adulta. Porém, até chegar nessas condições, a pessoa pode sofrer até mesmo com depressão.

Pessoas com Tourette tem tiques faciais distintos. (Foto: reprodução)

“É importante que seja feito esse diagnóstico, pois as pessoas que possuem essa síndrome, dependendo da gravidade, eles vão sofrer, vão ter problemas emocionais e prejuízos sociais e escolar. A gente observa que os quadros de tiques reduzem as interações sociais, o que consequentemente gera um prejuízo na vida adulta. Por isso é necessário um diagnóstico e tratamento adequado”, afirma Leilane.

Leilane conta ainda que é necessária uma psicoeducação do paciente e do meio em que ele está inserido, para amenizar prejuízos provocados pela síndrome de Tourette e assim injetar autoestima no paciente e evitar quadros de depressão e ansiedade.

“Além da psicoeducação da família e escola, dependendo da gravidade dos tiques podemos inserir psicoterapias comportamentais e farmacoterapias. Mas é necessário que o meio dessa criança se preocupe com a inserção dessa criança e se atente para casos de bullying nas escolas para que ela tenha relacionamentos saudáveis”, destaca a médica.

A psiquiatra acrescenta que o tratamento é multiprofissional, com a presença da escola, família, neuropediatra, psiquiatra da infância e adolescência, psicoterapeutas e/ou outro especialista da psiquiatria que tenha experiência na área.

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