
Você já ouviu falar da síndrome de Tourette? Artistas como Billie Eilish, Lewis Capaldi, e os brasileiros “Cara de Sapato” e o streamer e humorista Dilera, estão usando seus espaços na mídia para lançar luz sobre uma condição muitas vezes obscurecida pela falta de compreensão.
No vasto espectro das condições neurológicas, a síndrome de Tourette permanece como uma das mais intrigantes e frequentemente incompreendidas.
Marcada por movimentos involuntários e vocalizações, muitas vezes acompanhados por palavras obscenas e inapropriadas, a síndrome desafia estereótipos e exige uma abordagem sensível e informada, como explica a psiquiatra Leilane Camapum.
“O transtorno de Tourette está dentro dos transtornos de tique, que se caracterizam como movimentos motores ou vocalizações súbitas e rápidas que não tenham ritmo. O diagnóstico é dado quando o paciente apresenta múltiplos tiques motores, que surgem em meses ou anos, e além desse tem que ter pelo menos um tique vocal”, conta a médica.

Segundo a psiquiatra, o quadro de Tourette inicia normalmente entre as idades de quatro a seis anos, e aumentam de gravidade entre os 10 e 12 anos, e surgem até os 18 anos.
Os primeiros tiques tendem a afetar primeiramente a região do rosto, testa e pescoço, passando para os tiques vocais em que os pacientes podem repetir as últimas frases faladas, até palavras obscenas de forma involuntária.
“Geralmente o paciente faz careta, franze a testa, e pisca os olhos. Além disso, tem os tiques vocais compostos de coprolalia, que é falar palavras obscenas, e a ecolalia que causa a repetição da última frase falada, ou últimas palavras, causando um eco na frase”, conta Camapum.
Sintomas e tratamento
A médica destaca que o transtorno de Tourette vem depois de uma doença anterior, ou seja, é comórbido, e tende a aparecer em pacientes com transtorno de atenção, transtorno desafiadores e opositores, TDAH ou TOC. É importante destacar que não há um exame específico que detecta a síndrome.
“O diagnóstico é clínico, e também posso pedir exames complementares como tomografia. Além do mais, é preciso uma história bem contada, uma anamnese bem feita sobre o paciente, para afastar outras doenças ou tiques”, conta.
A compreensão pública sobre a síndrome avançou nos últimos anos, mas ainda existe um longo caminho a percorrer para dissipar mitos e oferecer apoio genuíno às pessoas afetadas por essa condição.
Sobre o tratamento, Camapum conta que naturalmente a doença vai progredir até uma redução ou resolução total dos sintomas de tique, sendo mais comum na adolescência e fase adulta. Porém, até chegar nessas condições, a pessoa pode sofrer até mesmo com depressão.
“É importante que seja feito esse diagnóstico, pois as pessoas que possuem essa síndrome, dependendo da gravidade, eles vão sofrer, vão ter problemas emocionais e prejuízos sociais e escolar. A gente observa que os quadros de tiques reduzem as interações sociais, o que consequentemente gera um prejuízo na vida adulta. Por isso é necessário um diagnóstico e tratamento adequado”, afirma Leilane.
Leilane conta ainda que é necessária uma psicoeducação do paciente e do meio em que ele está inserido, para amenizar prejuízos provocados pela síndrome de Tourette e assim injetar autoestima no paciente e evitar quadros de depressão e ansiedade.
“Além da psicoeducação da família e escola, dependendo da gravidade dos tiques podemos inserir psicoterapias comportamentais e farmacoterapias. Mas é necessário que o meio dessa criança se preocupe com a inserção dessa criança e se atente para casos de bullying nas escolas para que ela tenha relacionamentos saudáveis”, destaca a médica.
A psiquiatra acrescenta que o tratamento é multiprofissional, com a presença da escola, família, neuropediatra, psiquiatra da infância e adolescência, psicoterapeutas e/ou outro especialista da psiquiatria que tenha experiência na área.