Jonas Carvalho
jonascarvalho@outlook.com
A canoa e a rede de pesca são os principais instrumentos de trabalho do seu José Francisco, que há 19 anos desbrava as águas do Rio Poti em busca do sustento da família. Mas, ao longo do tempo, a atividade se tornou cada vez mais difícil com os efeitos das mudanças climáticas no planeta. A redução na oferta de peixes e a qualidade da água do rio fizeram José Francisco repensar sobre o futuro da profissão, em Teresina (PI).
Neto de pescadores e filho de vaqueiro, José Francisco é sinônimo de resistência junto aos 50 pescadores do bairro Poti Velho, na zona Norte da cidade. O laço afetivo e o sentimento de pertencimento ao rio são inerentes ao desejo de manter viva a cultura de um povo, em meio a um cenário de degradação ambiental e baixos investimentos no setor por parte dos órgãos públicos.
Por isso, há dois anos, o grupo desenvolve um projeto de turismo de base comunitária. A atividade, que envolve a participação de comunidades ribeirinhas, consiste em aproveitar o conhecimento e a habilidade dos pescadores para fomentar expedições pelas águas do Poti como incremento à renda.
“A gente está pensando em alternativas, porque vemos que viver só da pesca está ficando difícil. É para a gente ter uma renda melhor, ter uma qualidade de vida melhor. O pescador conhece tudo sobre o rio e fica mais fácil fazer esse trabalho de turismo. Ele já vai saber explicar para o turista, vai saber explicar os pontos do rio, saber mostrar os animais e o rio como um todo”, justificou.
Atores sociais
O ponto de largada para a iniciativa foi o desafio “Teresina entre Rios”, idealizado pelo turismólogo e engenheiro civil, Luciano Uchôa, em 2022. O evento reuniu cerca de 120 embarcações no Rio Poti – no trecho entre a Ponte Juscelino Kubitschek e o Parque Ambiental Encontro dos Rios, na zona Norte.
A ação visa alertar aos teresinenses quanto à preservação dos Rios Poti e Parnaíba, além de mostrar alternativas sustentáveis para a utilização desses importantes mananciais de água. A intenção, segundo Uchôa, é estimular vivências de proteção e carinho sobre o meio ambiente.
“Despertamos nesses atores sociais a possibilidade de trabalhar com o turismo. Realizamos várias palestras e nós vimos o crescimento do interesse dos pescadores ribeirinhos nessa possibilidade de ampliar a sua renda por meio do turismo de base comunitária. Eles seriam os protagonistas desse turismo. Esse movimento está crescendo”, afirmou o turismólogo.
Vida sob ameaça
A necessidade de adaptação dos pescadores a um novo cotidiano expõe a realidade do Rio Poti, em Teresina. Anualmente, esse importante curso de água é castigado pela proliferação de aguapés e o descarte irregular de esgoto, comprometendo a vida aquática.
Espécies de peixe nativas da região, como a piaba, o curimatá, o piau e o surubim, são encontradas em menor quantidade. O camarão preto, por exemplo, antes visto em abundância, se tornou uma espécie rara nos rios da capital. Esses são sintomas de alerta para a subsistência da pesca e a sobrevivência de famílias.
Entretanto, na avaliação do pescador José Francisco, a qualidade da água melhorou há cerca de dois anos com a implantação de sistemas de coleta de esgoto pela empresa Águas de Teresina. Os resíduos produzidos pela população recebem o cuidado adequado em estações de tratamento de esgoto antes de serem devolvidos à natureza.
“Pelo que eu venho observando no rio, de uns dois anos para cá, tem melhorado [a qualidade da água]. Acho que devido à implantação do sistema de esgotamento sanitário. Isso já está refletindo um pouco no rio. A cidade está em obras, com a implantação do esgotamento sanitário. Então, a tendência é melhorar”, projetou José Francisco.
Intervenção
O descarte incorreto de esgoto em sarjetas ou canais de drenagem de água pluvial é o principal causador da poluição dos rios da cidade. Em 2017, o acesso da população à rede de esgotamento sanitário de Teresina era de 19%. Hoje, de acordo com os dados da Águas de Teresina, o índice chega a 43,4%. Para 2024, a meta é garantir a cobertura do sistema para 59% da cidade e, em 100%, até 2033.
Com recursos estimados em R$ 300 milhões para o biênio 2023/2024, a empresa planeja a ampliação da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Pirajá, na zona Norte da capital. A estrutura terá capacidade técnica de recebimento de 250 litros por segundo – superior à atual média de 150 litros por segundo – na primeira etapa das obras, com o plano de triplicar o percentual até o final das intervenções.
O gerente de produção da empresa, Alexandre de Oliveira, explica que um dos principais desafios é a conscientização ambiental: para que a empresa colete os resíduos, é necessário que os moradores façam a conexão com o sistema.
“Não é da cultura do cidadão teresinense ter saneamento. Isso é um processo que é a médio prazo. A partir do momento que ele não tiver o esgoto correndo na sarjeta em frente à sua casa, que começar a diminuir as doenças de veiculação hídrica e sentir uma redução nas internações por doenças, como a diarreia, a população vai entender que tem benefício”, garantiu.
Etapas do tratamento
Antes de ser devolvido à natureza, o esgoto é encaminhado a uma Estação de Tratamento por meio de uma rede coletora – que conecta os domicílios ao sistema de esgotamento sanitário. Os resíduos produzidos pela população são transportados por meio de tubulações largas, chamadas de interceptores.
Nesse processo, as Estações Elevatórias de Esgoto (EEE) assumem a função de bombear os dejetos coletados das regiões mais baixas da cidade até a Estação de Tratamento. A partir de então, a etapa seguinte é a de remoção das impurezas.
O tratamento preliminar, segundo a Águas de Teresina, segue o rito de três etapas: “a do gradeamento, que é composta por uma barreira física para eliminar os resíduos sólidos; a da caixa de areia, que tem a função, por gravidade, de remover a areia do restante do material; e a etapa de calha parshall, que mede a vazão”.
Na última fase, o esgoto é transferido para lagoas artificiais, que concentram quantidades controladas de bactérias aeróbicas – responsáveis por erradicar os agentes poluidores. Os procedimentos são supervisionados por uma equipe de técnicos, que monitoram e atestam a qualidade final do efluente.
A água, a partir de então, poderá ser devolvida ao curso natural do Rio Poti sem prejuízos ao meio ambiente. “Essa questão ambiental passa a ser resolvida, porque todo esse processo contempla o tratamento do esgoto e vai entregar um efluente de qualidade para que o manancial não sofra mais interferência”, completou Alexandre de Oliveira.
História de gerações
A perseverança do filho do Poti – seu José Francisco – evidencia a urgência de preservar uma das principais riquezas naturais de Teresina e a tradição secular de um povo. Assim como seus antepassados, sua história ficará registrada nas águas calmas e silenciosas do Poti, que recebe seus visitantes de braços abertos.
“A pesca para mim é algo muito importante. Não só para a atividade econômica, mas também na questão cultural para a gente, que é do Poti Velho. É uma tradição dos nossos antepassados. Antes de a cidade surgir, já existia pescador aqui no Poti. Está no nosso sangue”, concluiu o pescador.
Escute a entrevista com Alexandre de Oliveira, gerente de produção da Águas de Teresina
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