
Durante a cerimônia de coração do Miss Universe Piauí 2024, Gabriela Pessoa, revelou nesta segunda-feira (19), que sofreu uma tentativa de feminicídio do ex-companheiro há um ano. A modelo quer dividir a sua experiência para alertar outras mulheres vítimas de relacionamento abusivo.
A tentativa de feminicídio contra a miss aconteceu no dia 4 de agosto de 2023. Na ocasião, a jovem estava na cidade natal, Água Branca, a 99 km de Teresina. Ela relatou que interrompeu o relacionamento, mas que reatou acreditando que o comportamento do companheiro mudaria. No entanto, ele a agrediu novamente.
Ao tentar terminar de vez a relação, Gabriela informou ao ex-companheiro que se mudaria para Teresina. O homem, durante uma viagem 40 minutos de carro pela BR-316, tentou diversas vezes lançar o carro contra caminhões no sentindo contrário da via, com intuito de matar a jovem.
Relacionamento abusivo
Durante três anos de relacionamento, a jovem sofreu várias agressões e violência psicológica, levando-a a desenvolver um caso de depressão. Ela conta que perdeu o estímulo de trabalhar.
“Começa assim, com um ronronzinho aqui, um tapa ali, e as agressões elas foram só aumentando. Chegou um momento, por exemplo, que sofri uma agressão que chegou a deslocar do lugar, também cheguei a ficar com o meu braço todo roxo. Eu tinha uma loja e fechei pelo início de depressão”, relata a miss.
Buscas por ajuda especializada
Assim como Gabriela, muitas outras mulheres já foram vítimas de violência de gênero, levando a casos ainda mais graves. Só neste ano, foram registrados até o mês de agosto, 27 casos de feminicídio no Piauí, 20 no interior do estado e 7 na capital piauiense.
A delegada Nathalia Figueredo, titular do Núcleo de Feminicídios do Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP), destaca que muitas mulheres possuem vergonha em buscar o atendimento da polícia. Para permitir que mais mulheres sintam seguras de procurar ajuda, explica que casos de violência de gêneros devem ser atendidos por profissionais mulheres.
“A lei trata que essa mulher, preferencialmente, deve ser atendida por uma outra mulher. Isso não é levando a julgamento e atendimento realizado pelo homem, mas observe, uma mulher que já chega fragilizada, ou vezes vítima de uma violência sexual, ser atendida por um homem, é no mínimo desconfortável para ela”, diz a delegada.
Dependência emocional
Segundo a delegada, são vários os fatores que fazem com mulheres permaneçam em um relacionamento abusivo. Um deles é a dependência emocional e, para elas, é difícil admitir a situação vivenciada e confrontar um discurso de gênero desigual.
“Até você denunciar, existe uma distância muito grande e várias barreiras e a principal barreira está muitas vezes dentro de você mesmo. Isso geralmente também acontece porque as vítimas não conseguem enxergar uma vida para além desse relacionamento”, explica.