Opinião do Leitor: como acabar com o mercado de celular roubado

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Dr. Romel Pinheiro (Foto: Arquivo Pessoal)

Dr. Romel Pinheiro
Professor de Administração da UEMA Timon

A imprensa tem noticiado sobre o uso do Protocolo de Recuperação de Celular para reduzir taxas de roubo e furto desse aparelho. Os resultados iniciais dessa iniciativa do Governo do Estado do Piauí chamaram a atenção e ele tem sido adotado por outros estados e será incorporado ao programa nacional do Ministério da Justiça.

Esse protocolo não é apenas uma medida para recuperar os celulares das vítimas. Trata-se de uma medida para acabar com o mercado de celular roubado. Em razão disso, penso que é necessário a compreensão desse mercado e da realização de ações que promovam o comportamento socialmente desejado das vítimas, de denunciar o ocorrido à polícia e das pessoas de não comprarem esses aparelhos em mercados suspeitos.

Estima-se que no Brasil a cada minuto dois celulares são roubados. Esses números refletem a dimensão do problema e está diretamente relacionado ao expressivo mercado para esses aparelhos. O celular é um produto fácil de ser roubado, muito desejado e de fácil comercialização. Os ladrões de celular não o roubam para uso próprio, mas para vendê-los e o fazem isso rapidamente para evitar o flagrante.

A comercialização desses aparelhos é realizada livremente nas ruas e em lojas virtuais. Os compradores são pessoas comuns que preferem não fazer perguntas e veem nesse mercado a oportunidade de comprar um desejado aparelho a preço de pechincha, embora eles próprios possam ter sido vítimas de roubo de celular. Todos esses fatores tornam o trabalho policial difícil de ser realizado.

Para o protocolo de recuperação de celular funcionar, tudo começa com a vítima realizando um boletim de ocorrência numa delegacia. Embora pareça obvio que a vítima comunique a polícia o ocorrido, o fato é que há uma enorme subnotificação de roubo e furto de celular. Isso ocorre ou porque as pessoas não acreditam que isso resultará na recuperação do aparelho ou porque elas acham que é custoso fazer isso.

Em razão disso, o protocolo deveria incorporar ações de comunicação que encorajem as vítimas de realizar a denúncia. Isso pode ser feito informando como é fácil fazer um boletim de ocorrência, que muitas vezes pode ser feito pela internet. Que os usuários precisam conhecer o IMEI do celular e como fazer isso. O IMEI é um código de 15 dígitos que identifica o aparelho e que ajuda a polícia a identificar o celular roubado. E realizando cerimônias de entrega de celular roubado aos proprietários e que elas sejam amplamente noticiadas pela imprensa.

Uma ação fundamental do protocolo é o de desencorajar as pessoas de comprar celular roubado. Essas pessoas não acreditam que a compra de celular em mercados suspeitos lhes resultará em algum problema e menos ainda que esse problema será maior que a perda do aparelho. Essas crenças encorajam as pessoas a comprarem celular nesses mercados. Para isso, o protocolo deveria incorporar ações de comunicação com depoimentos das pessoas que receberam a notificação da polícia pelo telefone e tiveram que devolver o celular numa delegacia de polícia.

Também é muito importante que haja ações de comunicação de pessoas processadas ou objeto de busca e apreensão por não terem devolvido o celular. Essas ações mostrarão que a compra de celular roubado resultará na perda do aparelho, em constrangimento e que é um crime que pode resultar em processo criminal.

Essas ações se juntam há outras de natureza tecnológica, mas que sem elas que consideram aspectos comportamentais dos indivíduos, dificilmente essas medidas produzirão os resultados desejados de diminuição dos indicadores de roubo e furto de celular.


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