4 de julho de 2025

E quando a mentira é patológica? Especialista tira dúvidas

Lays Viana

Repórter
Publicado em 01/04/2025 10:05

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Se usada para autopromoção, obtenção de benefícios ou para prejudicar alguém, a mentira é amplamente considerada um ato intolerável. No entanto, nem sempre esse hábito é voluntário. A psicologia denomina como mitomania o transtorno caracterizado pela compulsão incontrolável de mentir.

O que pode começar como uma brincadeira ou uma exceção na vida da pessoa pode se transformar em um comportamento recorrente, tomando conta de suas ações. Segundo o psiquiatra Napoleão Azevedo, em entrevista ao Portal ClubeNews, a diferença entre uma “mentira social” e a compulsão está no controle sobre a ação.

“Quando essa mentira se torna muito frequente na vida da pessoa, a ponto de ela nem perceber que está mentindo, como se fosse algo automático e incontrolável, aí, sim, pode estar associada a um transtorno mental e pode exigir tratamento”, explicou.

A dificuldade em reconhecer a compulsão por mentir limita os registros da condição e impede a criação de estimativas precisas sobre os casos patológicos. Para os mentirosos compulsivos que desejam superar esse vício, é essencial ter paciência e buscar acompanhamento profissional.

O psiquiatra Napoleão Azevedo (Foto: Lays Viana / Portal ClubeNews)

Tratamento para mitomania 

Segundo o especialista, o tratamento da mitomania é demorado, mas não inclui o uso de medicação. O processo varia conforme a origem do problema e envolve diferentes abordagens. De acordo com Napoleão Azevedo, a psicoterapia é a principal forma de tratamento, pois ajuda o paciente a compreender que a mentira não é necessária e que pode trazer consequências negativas.

Ainda de acordo com o psiquiatra, o tratamento para o distúrbio está centrado na psicoterapia, onde o profissional trabalha para mostrar ao paciente que a vida não precisa das mentiras e que elas podem gerar impactos negativos. Também é necessário avaliar se o comportamento está associado a algum outro transtorno mental, como transtorno de personalidade ou deficiência intelectual.

“Algumas coisas que parecem ser mentira, mas não são, como transtorno delirante, em que a pessoa tem na cabeça um delírio de algo que ela jura que está acontecendo, tanto que, na cabeça dela, ela não está mentindo”, explicou o psiquiatra.

Apesar da escassez de registros, a compulsividade associada a outros transtornos é mais frequente no público masculino e em pessoas com menor nível de escolaridade. Segundo Azevedo, muitos pacientes encontram na mentira uma ferramenta para progredir e alcançar objetivos de forma mais fácil.

“A mentira é muito comum dentro de alguns transtornos de personalidade. O mais frequente é o transtorno de personalidade antissocial, que, comumente, é classificado como psicopatia. Essas pessoas tendem a mentir ou manipular com mais frequência e, dentro desse perfil, há uma predominância do sexo masculino”, afirmou o especialista.

Ele acrescenta que essa característica é mais comum em indivíduos com menor nível de instrução ou poucas oportunidades de alcançar seus objetivos pelos meios convencionais. “Nesses casos, a mentira acaba sendo utilizada como estratégia para conseguir o que desejam”, concluiu.

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