2 de julho de 2025

Olhos vermelhos e coçando: quando um simples incômodo vira preocupação?

Vítor Cortizo

Oftalmologista
Publicado há 1 dia

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Olhos vermelhos: quando se preocupar? (Foto: Freepik)

Imagine a cena: você acorda cedo para trabalhar, encara o espelho e percebe que seus olhos estão avermelhados, ardendo como se tivessem passado a noite em claro. Ao longo do dia, a coceira piora, você pisca sem parar, e cada tentativa de aliviar o desconforto esfregando as pálpebras só torna a sensação mais intensa. Será só cansaço ou sinal de algo mais sério?

Por que isso acontece?

  1. Alergias sazonais ou domésticas

Pólen, ácaros da poeira ou aquele gato fofo que mora na sala podem disparar uma reação alérgica. O corpo libera histamina e o resultado é a tríade clássica: vermelhidão, coceira e lacrimejamento.

  1. Conjuntivites
    Viral – costuma vir acompanhada de secreção aquosa e sensação de “areia” nos olhos; é contagiosa e, muitas vezes, associada a resfriados.
    Bacteriana – gera secreção amarelada, que às vezes “cola” as pálpebras ao despertar.
    Alérgica – semelhante à reação ao pólen, porém com maior componente de coceira.

  2. Olho seco

Longas horas no ar-condicionado, muito tempo diante do computador ou épocas de baixa umidade interferem com a lubrificação ocular. Com menos lágrima de qualidade, os olhos inflamam, irritam e coçam.

  1. Irritantes ambientais

Partículas de resíduo de maquiagem, fumaça de cigarro, produtos de limpeza e até o cloro da piscina podem irritar a superfície ocular.

  1. Corpo estranho

Às vezes é só um cílio ou grão de poeira preso sob a pálpebra — pequeno, mas capaz de provocar uma tempestade de vermelhidão.

🚨Sinais de alerta: hora de ligar o “pisca-alerta”🚨

  • Dor ocular de moderada a intensa.
  • Sensibilidade exagerada à luz (fotofobia).
  • Visão borrada ou redução súbita da acuidade.
  • Secreção espessa, verde ou amarela.
  • Vermelhidão que não melhora em 48 horas ou piora progressivamente.

Se qualquer um desses sinais aparecer, interrompa a automedicação e procure um oftalmologista com urgência.

Primeiros socorros: o que ajuda de verdade

  • Compressas frias: um chumaço de gaze umedecido em água fria acalma a superfície ocular e diminui a coceira.
  • Não coçar!: esfregar os olhos agride a córnea, facilita infecções e, em casos crônicos, pode até favorecer o surgimento de ceratocone.
  • Higiene rigorosa: lave as mãos antes de tocar nos olhos, troque fronhas e toalhas com frequência e evite compartilhar maquiagem ou colírios.

O que NÃO fazer (mesmo que o amigo diga que funciona)?

  • Colírios “mágicos” sem receita: colírios vasoconstritores aliviam a vermelhidão apenas por algumas horas e podem mascarar doenças graves.
  • Soluções caseiras: chá de camomila, sabonete neutro ou leite materno podem contaminar ainda mais os olhos.
  • Interromper o tratamento prescrito antes da hora: antibiótico usado pela metade pode criar resistência bacteriana ou trazer a inflamação de volta mais forte.


Por que a consulta é tão importante?

Cada causa exige conduta específica: o olho seco responde a lubrificantes; a conjuntivite bacteriana, a antibióticos; alergias, a antialérgicos tópicos ou orais. O diagnóstico preciso depende de avaliação no consultório, com aparelhos que só o médico tem treinamento adequado. Além disso, sintomas aparentemente banais podem, em raros casos, esconder doenças mais graves — de úlceras de córnea a glaucoma agudo.

Em resumo: olhos vermelhos e coçando são comuns, mas não devem ser subestimados. Observe o contexto, tente medidas simples e, na dúvida, procure auxílio médico. Seus olhos são insubstituíveis; merecem atenção e cuidado, não improvisos.

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