12 de julho de 2025

Brasil e EUA em tensão: análise geopolítica e econômica sobre a tarifa de 50% e seus impactos

Mário Teles

Economista
Publicado há 16 horas

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Tarifaço de Trump (Foto: g1)

CENÁRIO GEOPOLÍTICO: BRASIL X ESTADOS UNIDOS

  1. Mudança no tom diplomático e comercial

As relações entre Brasil e Estados Unidos passam por um período de reajuste estratégico. Desde o fim da gestão Trump (no seu primeiro governo), o Brasil tentou manter canais de diálogo com governos democratas e republicanos, mas as tensões comerciais reapareceram. A ameaça da reativação ou imposição de uma tarifa adicional de 50% sobre exportações brasileiras tem sinal geopolítico e econômico retaliativo: pressiona o Brasil a alinhar-se comercialmente a interesses norte-americanos em áreas estratégicas, como energia, defesa e tecnologia.

  1. Motivações por trás da tarifa

O argumento formal da tarifa é protecionista, sob a justificativa de defesa da indústria nacional americana (aço, alumínio, produtos agrícolas e industriais). Porém, em termos geopolíticos, trata-se de uma ferramenta de coerção econômica, típica da diplomacia comercial dos EUA:

• Conter a crescente aproximação Brasil-China, especialmente em commodities e infraestrutura.
• Pressionar por maior abertura de setores estratégicos no Brasil.
• Reafirmar hegemonia comercial diante de países que resistem a acordos preferenciais.

CONSEQUÊNCIAS PARA O BRASIL: CURTO E MÉDIO PRAZO

Se a tarifa de 50% for confirmada em agosto de 2025:

Impactos imediatos (agosto a setembro)

• Queda abrupta nas exportações para os EUA: produtos como aço semiacabado, alumínio, suco de laranja, carne processada, calçados e autopeças perdem competitividade de forma instantânea.
• Aumento da incerteza no câmbio e nos mercados financeiros, pressionando o dólar e elevando a percepção de risco país.
• Pressão sobre a inflação via canal cambial (importados mais caros, combustíveis, insumos industriais).
• Reação do governo brasileiro: protestos diplomáticos, possível retaliação tarifária, ou busca por compensações via OMC (Organização Mundial do Comércio).

Efeitos sobre o consumidor e empresas (setembro a outubro)

• Alta nos preços de bens industriais e alimentos com insumos dolarizados.
• Deterioração da confiança do setor industrial, com possível paralisação de investimentos já fragilizados.
• Redução na geração de empregos industriais e no setor exportador.
• Desvalorização do real, com o dólar podendo se aproximar ou superar a marca dos R$ 6,00, dependendo do grau de reação dos investidores.

Projeção para os próximos 6 meses (agosto 2025 – janeiro 2026):

Cenário macroeconômico

• Crescimento do PIB revisto para baixo: economistas devem cortar as projeções para 2025, com foco em menor dinamismo da indústria e do comércio exterior.
• Inflação mais resistente: mesmo com política monetária contracionista, o IPCA poderá registrar alta acima das expectativas, forçando o Banco Central a interromper o ciclo de queda da taxa Selic.
• Desemprego industrial em alta, especialmente nas regiões Sudeste e Sul, que concentram exportações industriais e de manufaturados.

Impacto no comércio internacional brasileiro

• Redirecionamento forçado das exportações, com possível aumento da dependência da China — o que cria nova vulnerabilidade geopolítica.
• Busca acelerada por acordos bilaterais com União Europeia, Mercosul ampliado e países asiáticos, mas com resultados limitados no curto prazo.
• Perda de imagem do Brasil como parceiro comercial confiável, dificultando atração de investimentos estrangeiros diretos (IED).

ESTRATÉGIAS DE MITIGAÇÃO E RESILIÊNCIA

Para o governo brasileiro:

• Estabelecer uma agenda clara de negociações comerciais multilaterais, para não depender de pressões unilaterais.
• Ampliar subsídios temporários e suporte às indústrias afetadas, especialmente para empresas exportadoras.
• Criar uma política de “hedge cambial soberano” para amortecer picos de volatilidade no câmbio.

Para empresas exportadoras:

• Diversificar mercados de destino, priorizando Ásia, Oriente Médio e América Latina.
• Rever cadeias produtivas e buscar competitividade via tecnologia, em vez de depender apenas de custos baixos.
• Negociar contratos em moedas alternativas, como euro ou yuan, para reduzir exposição ao dólar.

Para o consumidor e investidores brasileiros:

• Esperar alta de preços em bens duráveis e insumos.
• Buscar proteção patrimonial com ativos indexados à inflação (Tesouro IPCA+) e ao dólar.
• Pequenos investidores devem manter cautela e preferir renda fixa pós-fixada e ativos de proteção cambial.

DESFECHO NEGATIVO: UMA TARIFA, MUITOS IMPACTOS

A confirmação da tarifa de 50% pelos EUA, sob um contexto geopolítico tenso, representaria não apenas um entrave comercial, mas uma ruptura estratégica nas relações Brasil-EUA. Para o Brasil, o impacto se daria em três frentes: enfraquecimento da indústria exportadora, alta no custo de vida para a população e maior isolamento no comércio internacional caso não reaja com agilidade e inteligência.

O momento exige resiliência institucional, articulação diplomática firme e reestruturação da estratégia comercial brasileira, para transformar uma adversidade em oportunidade de reposicionamento no cenário global.

Mario Augusto Teles
Economista

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