
Natural de Campo Maior, no Piauí, onde nasceu em 27 de fevereiro de 1926, Raimundo Nonato Monteiro de Santana destacou-se na historiografia piauiense como o criador de uma História Econômica do Estado. Nesta perspectiva, é importante localizar o autor dentro de um contexto histórico de profunda efervescência na intelectualidade brasileira dos anos 1950 e 1960, cuja tônica será a construção de uma nação independente e soberana do ponto de vista econômico. Tal perspectiva, ganhou corpo no que veio a ficar conhecido como nacional-desenvolvimentismo, projeto de superação do subdesenvolvimento que reuniu nomes de peso da inteligência brasileira como Celso Furtado, Hélio Jaguaribe, Nelson Werneck Sodré, Ignácio Rangel e Guerreiro Ramos.
Circulando em espaços como o Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB) e a Comissão Especial para o Desenvolvimento da América Latina (CEPAL), Santana participou ativamente dos debates econômicos sobre o Brasil durante os “Anos Dourados”. Em 1950, foi eleito prefeito de Campo Maior e, durante seu mandato, participou da criação do Centro de Estudos Piauienses (CEP), instituição que reuniu intelectuais como Odilon Nunes e Monsenhor Chaves. Alguns anos depois, em 1957, fundou a Revista Econômica Piauiense, um relevante veículo de divulgação da produção intelectual local. Tanto no CEP quanto na Econômica Piauiense, e depois no Movimento de Renovação Cultural do Piauí (1960), Santana já trabalhava temáticas que constituiriam as bases de sua História Econômica do Piauí, a exemplo da integração do Estado à economia nacional, vista como estratégia para superar os obstáculos que entravavam o desenvolvimento local.
A primeira síntese do pensamento de Santana pode ser localizada na obra Evolução da Economia Piauiense, publicada em 1964. Neste livro, o autor ressaltou que o desenvolvimento econômico do Piauí sempre havia ocorrido de forma precária e instável. Como exemplo, pontuou o desenvolvimento da pecuária no Piauí, uma atividade complementar à lavoura canavieira, destacando sua sujeição às flutuações do mercado e à concorrência com outras zonas de pastoreio no Brasil, o que acarretava constantes crises neste setor. O economista campomaiorense também enfatizou que o desenvolvimento de lavouras agrícolas como o algodão, no final do século XIX, e o advento do extrativismo vegetal, no início do século XX, conectaram o Piauí à economia mundial, todavia, de uma forma subordinada e eminentemente instável.
O economista ressaltou que o Piauí, ao longo de sua história, foi um Estado autossuficiente no tocante à produção agrícola, sempre encarada numa perspectiva de subsistência. Todavia, a crise do extrativismo, após a Segunda Guerra Mundial, acompanhada pela liberação de mão de obra para a agricultura, criou as condições para o crescimento da produção agrícola piauiense, cujos excedentes passaram a ser comercializados com outros Estados do Nordeste. Para Santana, a expansão da lavoura agrícola constituía uma oportunidade de integração do Piauí na economia nacional de uma forma não subordinada. Nesta perspectiva, o Estado foi concebido pelo autor como o agente responsável pela dinamização deste processo de desenvolvimento, o que se daria através de medidas como a expansão da malha rodoviária, investimentos na eletrificação rural e concessão de subsídios aos produtores rurais.
Santana não restringiu-se à teoria. Em 1959, o então governador Chagas Rodrigues (1959-1962) contratou o economista para orientar a assessoria econômica da Governadoria do Estado, um espaço onde o autor poderia colocar suas ideias em prática. Sobre as experiências do intelectual campomaiorense na administração pública estadual, o professor Washington Bonfim asseverou que Santana cravou na história estadual a ideia de planejamento governamental, contribuindo para a criação do que vem a ser hoje a Secretaria de Planejamento. Outro lócus de experiência administrativa do autor foi a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), onde ocupou o cargo de vice-diretor do seu escritório regional no Estado.
No Piauí, o autor ainda foi membro do Conselho Estadual de Cultura, do Instituto Histórico e Geográfico do Estado e da Academia Piauiense de Letras (APL), onde ocupou a cadeira nº 32. Também teve a oportunidade de formar novas gerações de economistas atuando como professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB). O intelectual campomaiorense ingressou na eternidade em 15 de junho de 2018.
Autor de uma vasta obra, o professor Santana demarcou os contornos de uma História Econômica do Piauí, evidenciando temas e problemas ainda candentes sobre o desenvolvimento do Estado.
Ramsés Pinheiro – Historiador