20 de novembro de 2025

Fertilidade masculina na atualidade: por que os indicadores pioraram?

Atualizado em 29/08/2025 06:00

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Espermatozoide (Foto: g1)

Ao longo de cerca de cinco décadas, a concentração de espermatozoides no ejaculado masculino caiu 51%. O dado vem de uma metanálise publicada em 2023 por pesquisadores da Universidade Hebraica de Jerusalém e da Icahn School of Medicine at Mount Sinai.

O estudo estimou que, entre os anos 1970 e 1990, a redução anual era de aproximadamente 1,16%; a partir dos anos 2000, o ritmo acelerou para 2,64% ao ano, mais que o dobro. A tendência foi identificada em diversas regiões do planeta.

A produção de espermatozoides depende de um trio afinado: hormônios bem regulados, testículos funcionando em temperatura adequada e vias seminais livres para transportar o sêmen. Quando há o excesso de gordura abdominal, sedentarismo, sono ruim, tabagismo e álcool em quantidades exagerada, ocorre um estresse oxidativo e  resistência à insulina, o que prejudica tanto a quantidade quanto a qualidade dos espermatozoides. A temperatura também pesa: os testículos trabalham melhor alguns graus abaixo da temperatura corporal; por isso, banhos muito quentes, sauna frequente e notebook apoiado no colo por longos períodos podem atrapalhar o processo. Nada muda da noite para o dia: o ciclo de formação dos espermatozoides leva cerca de 75 dias, então os resultados das mudanças aparecem com o decorrer do tempo.

Existem ainda causas urológicas tratáveis que passam despercebidas. A varicocele, por exemplo, que é a dilatação das veias do cordão espermático, é comum entre homens com dificuldade para engravidar e, quando tratada na indicação correta, tende a melhorar os parâmetros do espermograma e as chances de gravidez. Embora os homens possam ter filhos em idades avançadas, a paternidade tardia (> 40 anos) se associa a maior fragmentação do material genético (DNA) do espermatozóide e piores desfechos em alguns cenários, além de risco aumentado para transtornos do neurodesenvolvimento, espectro autista e esquizofrenia em diversos estudos e metanálises (após ajuste para idade materna e outros fatores).

O que pode ser feito para prevenir?

Muito se fala em substâncias do ambiente que interferem no sistema hormonal, os chamados desreguladores endócrinos (por exemplo, ftalatos e bisfenóis presentes em plásticos e parte dos cosméticos). A literatura científica aponta associações entre maior exposição e piores marcadores seminais/hormonais.

Não é possível zerar o contato, mas é razoável reduzir fontes desnecessárias: preferir vidro ou inox para aquecer alimentos, evitar plásticos no micro-ondas, ventilar ambientes recém-mobiliados e dar preferência a produtos com rótulos mais simples.

Roupas muito justas e calor constante na região testicular podem ser prejudiciais, por isso, optar por peças mais respiráveis é um ajuste simples e útil. “Pílulas mágicas” que prometem fertilidade costumam não entregar resultados consistentes; corrigir deficiências reais (como vitamina D ou zinco, quando comprovadas) faz sentido, mas a base é estilo de vida. As técnicas de reprodução assistida são ferramentas valiosas, porém não substituem cuidados clínicos e não corrigem todos os efeitos do estilo de vida ou das doenças de base.

Quando investigar? Em geral, o casal deve procurar ajuda após 12 meses tentando engravidar (6 meses se a parceira tiver mais de 35 anos), ou antes quando há sinais de alerta. O primeiro passo do homem é um espermograma feito em laboratório treinado, conforme o manual atual da OMS (2021). A consulta urológica inclui história clínica, exame físico (com atenção à varicocele), avaliação hormonal e investigação de infecções sexualmente transmissíveis e outras possíveis causas.

Referência:

Levine H, Jørgensen N, Martino-Andrade A, Mendiola J, Weksler-Derri D, Jolles M, Pinotti R, Swan SH. Temporal trends in sperm count: a systematic review and meta-regression analysis of samples collected globally in the 20th and 21st centuries. Hum Reprod Update. 2023 Mar 1;29(2):157-176


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