A ninfoplastia ou labioplastia é uma cirurgia realizada para redução dos lábios genitais femininos. O Brasil é o campeão mundial nas indicações dessa cirurgia. Mulheres com idade variando entre 18 e 70 anos aparecem como as candidatas a esse procedimento, especialmente as adolescentes e adultas jovens. Mas, será que a indicação da ninfoplastia é uma necessidade médica por um problema de saúde ou é mais uma pressão estética imposta ao corpo feminino? Precisamos falar sobre isso!
Com o recente advento das tecnologias a laser, as propagandas de ninfoplastia cresceram de forma exorbitante, especialmente nas redes sociais. O apelo midiático explora a insegurança feminina com o próprio corpo, utilizando promessas variadas como: não marcar a roupa, facilitar a higiene íntima e a prática de exercícios físicos, além de melhorar a autoestima sexual. No entanto, esses são argumentos muito frágeis já que o tamanho dos lábios genitais internos, mesmo que ultrapassem os lábios genitais externos, não configuram uma anormalidade funcional.
Trocando em miúdos, os lábios genitais desempenham um papel importante na resposta sexual feminina. Eles estão em íntima relação com o corpo do clítoris, que é o órgão sexual para o prazer feminino. Duante a fase de excitação sexual, o clitóris ao ficar ereto aumenta a sensibilidade prazerosa de toda a vulva, incluindo os lábios genitais. Portanto, reduzir o seu tamanho pode comprometer a sensibilidade e o prazer sexual das mulheres. Dessa forma, a hipertrofia dos lábios genitais internos não é uma doença e não afeta a resposta sexual. É apenas uma variação anatômica e não há critérios médicos definidos para indicação da ninfoplastia.
Outro ponto fundamental é que não há um modelo único ou padronizado de vulva e de lábios genitais. Nós mulheres somos únicas e temos corpos e vulvas com variações de forma, cor e tamanho. Muitas mulheres não conhecem sua vulva, nunca se olharam e nem mesmo desfrutaram de prazer sexual com o próprio corpo. Assim, se tornam presas fáceis de uma propaganda que as aprisionam em mais um modelo corporal a seguir: aquele das mulheres na pornografia, com vulvas infantilizadas, sem pelos e com lábios apagados. Então, a quem serve explorar a insegurança e o desconhecimento das mulheres a respeito do seu corpo?
Esse tema provoca reflexões importantes sobre benefícios, riscos, motivações das mulheres e a responsabilidade ética dos profissionais de saúde na indicação das cirurgias estéticas íntimas. Nesse sentido, a Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO) se posicionou recentemente sobre o número alarmante de indicações dessas cirurgias. A respeito das tecnologias a laser, destacou que a sua utilização deve ser cautelosa pela falta de dados de segurança e eficácia a longo prazo. Outras recomendações incluem a oferta de conhecimento a respeito da diversidade natural das vulvas e o combate à desinformação e à distorção midiática do corpo feminino.
Como sexóloga, finalizo com a necessidade de ofertar educação sexual para empoderar as mulheres sobre o seu corpo e prazer. Assim, com conhecimento, educação e empoderamento, elas estarão mais protegidas e aptas para fazer as melhores escolhas para sua vida!
Dra. Andréa Rufino – CRM/PI 2006, RQE 434 e 1484
Ginecologista e Sexologista
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