2 de outubro de 2025

Cegueira por metanol: quando o “álcool” não é para consumo

Oftalmologista
Publicado há 2 horas

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Intoxicação por metanol (Foto: g1)

Este é o cenário: amigos compram uma bebida para comemorar, alguém traz uma marca desconhecida ou algo “mais em conta”, todos provam um pouco. Nas primeiras horas, nada chama atenção. No dia seguinte, começam a dor de cabeça, a tontura, o mal-estar — e, de repente, a visão fica embaçada, aparecem halos coloridos ao redor das luzes, uma “neve” na imagem. Parece ressaca. Não é. Pode ser intoxicação por metanol, uma emergência que pode roubar a visão em poucas horas.

Diferente do álcool das bebidas (etanol ou álcool etílico), o metanol é um álcool industrial, usado como solvente e combustível. No organismo, ele se transforma em ácido fórmico, que provoca acidose metabólica e é especialmente tóxico para o nervo óptico e a retina — justamente as estruturas que precisamos para enxergar. O que torna o metanol traiçoeiro é o atraso entre a ingestão e os sintomas: em geral, 12 a 24 horas depois (e, às vezes, mais, se a pessoa também consumiu etanol), quando muita gente já baixou a guarda.

As intoxicações acontecem de três formas principais: bebida adulterada (quando o metanol substitui o etanol), reenvase de solventes em garrafas de bebida sem rótulo e compra informal de produtos muito baratos. Cheiro, sabor e cor não diferenciam metanol de etanol; “teste de fogo” também não é confiável nem seguro.

Em bares, festas e restaurantes: atenção redobrada

É importante dizer sem rodeios: o risco não existe apenas em “fundos de quintal”. Estabelecimentos comerciais, inclusive formais, podem ser vítimas da adulteração na cadeia de fornecimento ou, em casos isolados, de reenvase mal-intencionado. Como se proteger?

  • Peça para abrir a garrafa à sua vista. Observe lacre íntegro, tampa sem amassados e rótulo bem impresso (sem borrões, desalinhamentos ou erros grosseiros).
  • Desconfie de “doses” vindas de recipientes opacos ou galões, de coquetéis servidos a partir de misturas pré-feitas sem identificação e de bebidas fracionadas sem mostrar a garrafa original.
  • Cuidado com promoções agressivas (“open bar” muito barato, preços muito abaixo do mercado).
  • Prefira latas e garrafas lacradas de marcas conhecidas e compradas de distribuidores oficiais.
  • Se algo parece estranho, recuse educadamente, informe o responsável e, se necessário, troque de estabelecimento.
  • Em eventos sazonais (carnaval, São João, grandes shows), redobre a vigilância: há maior circulação de produtos de origem incerta.

Sintomas: do “tudo bem” ao risco em poucas horas

No início, os sinais são inespecíficos: dor de cabeça, náusea, vômitos, tontura, respiração mais rápida. Quando os olhos começam a “pedir socorro”, surgem visão borrada, fotofobia (luz incomoda), halos ao redor das lâmpadas e sensação de neblina, embaçamento ou “chuvisco”. Se a visão piora rapidamente, acenda o alerta máximo: cada hora conta — para a visão e para a vida.

O que fazer diante da suspeita

Interrompa tudo e vá a um serviço de emergência imediatamente. Enquanto se desloca, ligue 0800-722-6001 (Disque-Intoxicação/Anvisa) para orientação. Não provoque vômitos, não tente “diluir” com água, leite ou café e não tome bebida alcoólica por conta própria achando que “anula” o metanol. Em ambiente hospitalar, com monitorização, pode-se usar, nos casos moderados a graves, hemodiálise para remover rapidamente o metanol e seus metabólitos. O objetivo é simples e urgente: salvar o nervo óptico antes que o dano seja irreversível.

Prevenir é melhor (e mais fácil) do que tratar

  • Evite bebidas de procedência desconhecida e desconfie de preços “bons demais”.
  • Nunca consuma líquidos reenvazados ou sem rótulo, e jamais armazene solventes em garrafas de bebida.
  • Em bares e restaurantes, exija transparência: garrafa aberta à vista, rótulos legíveis e equipe disposta a esclarecer a origem do produto.
  • Em ambientes de trabalho, mantenha produtos químicos identificados, trancados e longe do alcance de crianças e visitantes, com treinamento da equipe e uso de EPI.

Mitos que atrapalham

  • “Dá para saber pelo cheiro.” Não dá. O odor é parecido e engana.
  • “Se arde na boca, é etanol; se não arde, é metanol.” Falso. Paladar não diferencia com segurança.
  • “Beber um pouco de álcool comum ajuda a prevenir o dano.” Perigoso. Antídotos só têm papel no hospital, com dose e monitorização.

Como oftalmologista, um reforço: se você teve qualquer exposição de risco — bebeu algo suspeito (mesmo em estabelecimento comercial), manipulou solventes sem proteção, consumiu produto reenvazado — e notar alteração visual nas horas seguintes, procure emergência imediatamente. Depois da alta, siga em acompanhamento com o oftalmologista para avaliar nervo óptico e retina, orientar exames e, se necessário, reabilitação visual.

Mensagem final: informação salva visão. Metanol não é “álcool de bebida”; é veneno para o sistema visual. Compartilhe este alerta com familiares, amigos e colegas — inclusive quem frequenta festas e grandes eventos — e, diante de qualquer suspeita, hospital agora e Disque-Intoxicação/Anvisa: 0800-722-6001. Tempo, aqui, realmente é visão.


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