18 de outubro de 2025

Para além da visão: a luz artificial como instrumento de bem-estar humano

Arquiteto e urbanista
Publicado há 2 horas

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Luz artificial (Foto: Inlucce)

Historicamente, o uso da iluminação artificial nos projetos arquitetônicos tinha, primordialmente, a aplicação utilitária de garantir a visibilidade e permitir que as atividades humanas se estendessem além do período diurno. Com o desenvolvimento tecnológico, veio a dimensão estética, transformando a luz em ferramenta de composição espacial e criação de atmosferas no ambiente. Posteriormente, reconheceu-se também sua influência sobre os aspectos psicológicos humanos, como humor e percepção ambiental.

A evolução dos estudos na área, especialmente aliados a pesquisas em neurociência e medicina, tem nos revelado uma camada ainda mais profunda da iluminação artificial, consistente nos seus efeitos biológicos sobre a saúde humana. Trata-se do conceito de iluminação integrativa, formado a partir do reconhecimento de que os seres humanos são profundamente influenciados pelos ciclos de luz e escuridão. A partir dessa perspectiva, entendemos que o ambiente construído deve trabalhar em harmonia com nossa biologia, de modo que a luz deixa de ser apenas instrumento de visibilidade para tornar-se agente de bem-estar.

Sabe-se que o ritmo circadiano, popularmente conhecido como relógio biológico, controla alguns de nossos processos vitais, tais como o ciclo sono-vigília, a produção hormonal, o humor e o sistema imunológico, sendo que a exposição ao ciclo da luz natural constitui seu principal regulador. Assim, a concepção de ambientes internos que ignorem essa relação pode ser a causa de distúrbios significativos nos usuários, como insônia, fadiga crônica, alterações de humor, comprometimento da capacidade cognitiva, dentre outros.

A iluminação integrativa, assim, engloba a adoção de diversas estratégias que podem manter o equilíbrio fisiológico e psicológico humano, aliando também fatores de conforto e acuidade visuais. Inclui, por exemplo, a promoção de entrada adequada de luz natural nos ambientes, o uso de dimerizadores para ajuste da intensidade da fonte de luz artificial e a escolha de lâmpadas com a iluminância indicada para a atividade a ser exercida e bom índice de reprodução de cor (IRC). Pode-se pensar também no uso de sistemas dinâmicos que variam a temperatura de cor ao longo do dia, de modo a termos luzes mais frias no período diurno e tonalidades mais quentes a partir do anoitecer.

Os estudos apontam que a aplicação de tais técnicas pode levar a resultados expressivos. Em ambientes corporativos, observa-se o aumento de produtividade, redução de erros operacionais e melhoria nos índices de satisfação profissional. Em instituições de ensino, atinge-se maior capacidade de concentração e melhor aproveitamento acadêmico. Já no contexto hospitalar, protocolos adequados de iluminação contribuem para a recuperação mais rápida dos pacientes internados.

Para a realidade piauiense, este conhecimento assume relevância particular, uma vez que, em nossa região, as altas temperaturas conduzem à concepção de edificações climatizadas de modo artificial e, portanto, fechadas com vedações que limitam o contato com o exterior para controlar a entrada de luz solar. Nesses ambientes, a iluminação integrativa deixa de ser um diferencial e torna-se verdadeira necessidade projetual, compensando a desconexão com os ciclos naturais através de tecnologia que respeita as necessidades biológicas humanas.

A arquitetura, em sua essência, dedica-se à criação do espaço construído, isto é, o abrigo. Todavia, numa compreensão contemporânea e mais humanista, podemos concluir que o abrigo verdadeiro não apenas protege das intempéries e do ambiente externo, mas nutre o corpo e a mente de quem o habita. Nessa perspectiva, a iluminação integrativa nos convida a projetar com maior consciência, responsabilidade e, fundamentalmente, humanidade.


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