19 de outubro de 2025

Dia do Piauí: pesquisadores descobrem novos indícios da Batalha do Jenipapo, marco na história da independência

O estudo revela novos indícios sobre o campo onde ocorreu a Batalha do Jenipapo.
Repórter
Publicado há 2 horas

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Cemitério do Jenipapo, no Piauí, onde foram sepultados os mortos da batalha (Foto: BBC)

No Dia do Piauí, uma pesquisa da Universidade Federal do Piauí (UFPI) revela novos indícios sobre o Cemitério do Batalhão de Jenipapo, em Campo Maior, e reabre o debate sobre onde foram enterrados os combatentes do único conflito armado pela Independência do Brasil, ocorrido em 13 de março de 1823. O confronto reuniu cerca de 3,6 mil portugueses e brasileiros às margens do Rio Jenipapo.

A investigação é conduzida pela arqueóloga Ana Raquel Vale Prado, com suporte da professora Maria do Amparo Alves de Carvalho, que há cerca de cinco anos se dedica ao tema. Desde a iniciação científica até o mestrado em Arqueologia, busca compreender não apenas o conflito em si, mas também o período anterior e posterior à batalha, marcada pela resistência dos piauienses contra tropas portuguesas.

“Minha pesquisa procura desvendar as lacunas existentes do período anterior à guerra, do período em que ela aconteceu e, principalmente, o pós-guerra, o que aconteceu depois, onde enterraram as pessoas, qual o contexto do cemitério”, explicou a pesquisadora.

Pesquisadores usam tecnologia para desvendar mistérios da Batalha do Jenipapo (Foto: Arquivo)

O Cemitério do Batalhão de Jenipapo, tombado como patrimônio histórico, é considerado um dos principais locais relacionados ao conflito. Segundo Raquel, o espaço guarda túmulos rústicos de pedra que podem ter ligação com o período da batalha, mas ainda sem comprovação documental ou arqueológica.

Entre os vestígios preservados estão canhões e espingarda, alguns datados de épocas posteriores, mas que mantêm valor simbólico e social por estarem associados à memória da independência no Piauí.

Outra evidência citada pela pesquisadora é a munição encontrada em 2018 por uma arqueóloga da Universidade de São Paulo (USP), nos arredores do cemitério. O artefato foi identificado por meio de análises arqueométricas e pode ter relação com os combates travados às margens do rio Jenipapo.

“Do período da Batalha do Jenipapo a gente ainda não tem conhecimento, nem documental, nem por escavações, se realmente ali existem enterramentos de pessoas que participaram da batalha ou de seus descendentes”, afirmou Raquel.

Memorial foi construído em homenagem aos soldados que participaram da batalha (Foto: Divulgação)

Escavações e vestígios

Para evitar danos ao patrimônio e preservar o caráter religioso do local, Ana Raquel optou por métodos não invasivos de investigação. As análises incluem prospecção por caminhamento, mapeamento aéreo com drones e prospecção geofísica, técnica que permite identificar estruturas subterrâneas sem a necessidade de escavações.

O método geofísico foi aplicado pelo Laboratório de Arqueologia e Geociências (LAG), sob responsabilidade do professor Leandro Súria, da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), utilizando eletrorresistividade, técnica que mede variações no solo a partir da passagem de corrente elétrica. Os primeiros resultados apontam anormalidades sob o terreno, indicando a existência de estruturas ou materiais não visíveis na superfície.

Pesquisadores usam tecnologia para desvendar mistérios da Batalha do Jenipapo (Foto: Arquivo)

“Os gráficos mostram de forma evidente que há algo sob o solo. Ainda não podemos afirmar o que é, mas é possível dizer que não está vazio; há materiais dispostos de forma não aleatória”, contou Raquel.

Além do aspecto científico, a pesquisadora destaca o valor simbólico do local. O Cemitério do Jenipapo é também um espaço de devoção popular, visitado por moradores e turistas que prestam homenagens aos que lutaram pela independência.

Por isso, qualquer escavação futura deverá ser feita com planejamento e respeito à história e à religiosidade da comunidade. “Essa é só a pontinha do iceberg. Entender o contexto do pós-guerra e do cemitério é essencial para reconstruir a memória da batalha e do próprio povo piauiense”, conclui Raquel.


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