Anielle Brandão (TV Clube) e Luana Fontenele*
Luanafontenele@tvclube.com.br
Um ciclo de 24 anos de violência doméstica e familiar no qual o agressor conseguiu, até mesmo, colocar os filhos contra a própria mãe. Essa é a história da Renata (nome fictício para proteger a identidade da vítima), contada no SOS Mulher, da Rede Clube, no ar nesta semana na TV Clube, na luta pelo fim da violência contra a mulher.
À jornalista Anielle Brandão, Renata contou que foi vítima de violência física e psicológica pelo ex-companheiro. Hoje, separada do agressor, ela convive com a culpa; sentimento que se torna ainda mais angustiante por envolver os próprios filhos.
“Meus filhos chegaram a dizer que não aguentavam mais (a convivência violenta) e (passaram) a me condenar. Eles diziam que não queriam mais que eu convivesse com eles, pois eu era o pivô de tudo aquilo que eles estavam passando O sofrimento que meus filhos carregaram até hoje eu me sinto culpada.”, relembra, com angústia.
Dentre as diversas situações vividas, Renata lembra dos dias em que o ex-companheiro provoca uma situação qualquer e a culpava pela discussão.
“Às vezes, eu estava em um lugar com ele (ex-marido) e as crianças, ele provocava alguma confusão. Ele mostrava para meus filhos e todos que estavam ali que eu que tinha provocado aquilo. Isso gerou várias coisas em minha mente”, confessa.
Diante da violência psicológica, Renata passou a ser assistida pela equipe do Hospital Aerolino de Abreu, referência em tratamento psiquiátrico em Teresina. “Quando dei entrada meus filhos ‘perderam’ aquela mãe que era ‘normal’, e passou a ter uma mãe doente mental”, lamenta.
A BUSCA POR AJUDA
Para driblar a situação de violência, essa vitima buscou coragem e discernimento para entender que estava em uma situação de vulnerabilidade. A partir desse despertar, ela procurou o Centro de Referência Esperança Garcia a oportunidade para voltar a acreditar que é possível viver sem abusos físicos e emocionais.
A coordenadora Centro de Referência Esperança Garcia, Roberta Mara, explica que o local não é um espaço oficial de denúncia, mas de acolhimento e orientação para que essa vítima deixe para trás uma relação abusiva.
“Essa mulher precisa se fortalecer estando com a gente e com a nossa equipe composta por assistente social, psicóloga, assessora jurídica, além de práticas integrativas para que ela consiga romper com o ciclo da violência”, destaca

O espaço Esperança Garcia, localizado na Rua Benjamin Constant, Nº 2170, Centro de Teresina, há oito anos é destinado ao atendimento humanizado a mulheres em situação de violência. O local funciona de segunda a sexta das 08h às 17h e já realizou mais de dois mil atendimentos a mulheres.
Além dos aconselhamentos, o espaço conta com ventosaterapia e auriculoterapia, além de cursos profissionalizantes para que a mulher possa ter meios de conseguir a sua independência financeira.
“A gente trabalha sempre com a autonomia da mulher; tudo que é realizado aqui é sigiloso para que possamos passar confiança para essas mulheres”, conta a assistente social, Lorena Sampaio.
Ressignificação da masculinidade
Entre as entidades que fazem parte da rede de apoio à mulher vítima de violência está o projeto “Reeducar”, uma iniciativa da promotora de justiça, Amparo Paz. Desde 2016, o projeto visa diminuir os casos de violência contra a mulher a partir da reflexão e conscientização de homens presos envolvidos no contexto de violência doméstica e familiar.
“Vimos nos processos criminais que muitas vezes eram os mesmo homens, quer seja com aquela parceira ou outra que ele teria conhecido. Então, nós sentimos a necessidade de trabalhar grupos reflexivos com esses homens”, afirma a promotora.
Entre os principais pilares do programa está a ressignificação da masculinidade. Dos 95 homens que participaram, apenas um teve reincidência, o que para a promotora significa êxito.
Estagiária sob supervisão da jornalista Carlienne Carpaso*
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