3 de outubro de 2025

Dia do afilhado: tradição de ‘fogueira’ agregou mais de 100 pessoas em família

Publicado em 21/05/2023 17:00

Compartilhe:

Família Araújo já agregou mais de 100 pessoas na família com a tradição da fogueira. (Foto: arquivo pessoal)

Luana Fontenele*
Luanafontenele@tvclube.com.br

Você sabe o que é padrinho de fogueira? Sabia que existe apadrinhamento além de uma consagração em uma igreja? Os membros da família Araújo que vivem entre o Piauí e o Maranhão, conhecem muito bem e já adicionaram em sua família mais de 100 pessoas sem parentesco por meio do gesto.

Esse tipo de tradição existe há muito tempo e já foi muito comum na época das festas juninas. Nesse período são celebrados os dias de São João, São Pedro e Santo Antônio, e as tradicionais fogueiras em homenagem aos santos são acesas bem como se inicia o laço familiar de pessoas, até então, sem parentesco.

De acordo com a auxiliar de serviços gerais Nubia Nascimento, que mora em Teresina (PI), o batismo se dá em conjunto entre o padrinho e o então afilhado. Os dois davam as mãos e juntos fazem juramentos perante a fogueira para consolidar a relação.

Ela relata que possui diversas madrinhas e que seus afilhados já passam de 10, entre eles pessoas até mesmo com mais idade do que ela.

“A gente se reúne, faz os convites e depois cada uma pega em um lado de um bastão grande, a fogueira com fogo alto fica no meio e aí a gente fica balançado o bastão sobre a fogueira com os dizeres ‘Santo Antônio disse, São Pedro confirmou, para você ser minha madrinha, Jesus mandou’, e assim a gente vai falando o nome dos santos conforme o parentesco que deseja ter por meio da fogueira”, conta Nubia.

Tradição da fogueira une pessoas sem parentesco. (Foto: reprodução/ Prefeitura de Sagrado Coração de Jesus)

Já seu irmão, o professor de inglês Manoel Araújo, que mora em Tutóia (MA), conta que não é padrinho de fogueira de ninguém, pelo contrário, ele é afilhado e possui duas madrinhas. De acordo com ele, por terem uma forte relação de tio e sobrinho, foi decidido firmar o mais novo parentesco por meio da tradição popular.

Além disso, o professor conta ainda que para o local em que cresceram, o batismo de fogueira é tão levado a sério como se fosse um batismo realizado em uma igreja.

“Desde criança sempre tratei elas como tias, e aí um dia a gente decidiu consolidar e passar na fogueira no dia de São João ou São Pedro, não lembro ao certo. E desde então a gente leva esse parentesco a sério. Quando as encontro eu peço benção e elas me abençoam. É uma relação de muito respeito”, afirma.

A matriarca da família, Alzerina Araújo, de 84 anos, conta que teve nove filhos e desde sempre sua família foi convidada para as festividades de fogueira, e por conta da recorrência a família possui inúmeros parentes agregados, e que ela mesma possui mais de 40 afilhados.

“Toda tarde quando estou na porta da minha casa, passam diversas pessoas me pedindo a benção, me chamando de madrinha e de tia. Tem gente que eu nem lembro mais e que me pede a benção, e pessoas que não participaram da fogueira, mas os pais participaram. Por eu ter sido muito ativa na tradição, sou respeitada por todos da localidade e a gente acaba sendo uma grande família”, conta a aposentada.

Alzerina Araújo é madrinha de mais de 40 pessoas na tradição de fogueira. (Foto: arquivo pessoal)

Outros parentescos 

Além das relações de madrinhas, padrinhos e afilhados, na fogueira é possível ainda estabelecer a relação de ‘coleguinhas’, ‘amiguinhas’, ‘irmãzinhas’ e compadre e comadre, sem que haja a necessidade de uma criança a ser apadrinhada por um dos envolvidos.

Como exemplo, o Manoel destaca que por meio da fogueira ele consolidou a relação com alguns amigos que ele cresceu, e a partir da tradição passaram a ser compadres um do outro e a se referirem mutualmente pelo mais novo pronome de tratamento.

“Eu e meus amigos sempre fomos muito próximos e decidimos ter esse parentesco por meio da fogueira, e até hoje a gente se dar super bem. Essa atitude serviu para consolidar a nossa amizade e o respeito um pelo o outro. Essa tradição é realmente levada a sério.”, afirma o professor.

Manoel e seu compadre de fogueira, Daniel. (Foto: arquivo pessoal)

*Estagiária sob supervisão da jornalista Malu Barreto

LEIA MAIS

Segunda mãe: “ela já me amava dentro da barriga” diz afilhada sobre relação com madrinha


📲 Siga o Portal ClubeNews no Instagram e no Facebook.

Envie sua sugestão de pauta para nosso WhatsApp e entre no nosso Canal.
Confira as últimas notícias: clique aqui! 

Leia também: