
A disputa territorial entre o Piauí e o Ceará deve impactar a vida dos moradores que vivem em cidades da região da Serra da Ibiapaba. O embate acontece há 266 anos e envolve 13 municípios cearense e oito piauienses.
A perícia realizada pelo Exército Brasileiro reconhece a tese piauiense sobre a titularidade dessas terras, segundo a Procuradoria Geral do Estado do Piauí (PGE). O documento foi enviado aos estado do Ceará e ao Supremo Tribunal Federal (STF).
O impasse não trata somente de uma divisão territorial, mas de um sentimento de pertencimento dos populares que moram nas zonas e o acesso a serviços e direitos básicos de todo indivíduo.
A agricultora Alzenir Alves relata que, por meio do trabalho de cultivo de hortaliças e frutas na comunidade Campestre, zona rural de Cocal; conseguiu sustentar a família financeiramente. A relação comercial está diretamente ligada aos vizinhos cearenses.
“Eu sempre compro de um depósito de uma pessoa de lá (do Ceará), eu compro dele e ele ‘me compra’. Têm muitos anos que a gente vai nessa batalha e vai dando certo”, fala.
Questionada sobre o sentimento de pertencimento em meio à disputa, ela expressa seu orgulho em ser piauiense, contando que todos os serviços que usufrui são do estado. “É piauiense. É piauiense mesmo. Não tem como negar, porque eu gosto de ser piauiense mesmo. Já era e sou”, afirma.
Na comunidade Sumaré, também localizada em Cocal, a realidade dos piauienses que vivem na região não é a mesma. Muitas famílias tem documentação com registro do Ceará, mas residem em território do Piauí. A condição dificulta a acessibilidade desses populares a diretos sociais.
Alexandre de Almeida Brito, secretário de Agricultura de Cocal, comenta que famílias aqui da região relatam um impasse em relação à acessibilidade, assistência técnica e crédito financeiro. “O que mais dificulta isso é que a pessoa tenha acesso aos créditos para estar em todas as políticas sociais, na parte da saúde, educação. Então, tudo isso impacta porque você não pertence a um e nem pertence a outro”, diz.
A situação é vivenciada pela correspondente bancária Márcia Magalhães. Ela diz que, por vezes, não sabe ao qual estado deve recorrer devido ao problema.
“Pelo fato de a gente morar em uma área de litígio, a gente ficou meio confusa. A gente recorre pro Ceará ou recorre pro Piauí? Porque a gente mora bem na divisa. No Ceará, por algum tempo, já houve essa questão de dizer, pelo o fato de eu ser do Piauí, não tinha atendimento pra mim por eu ser do estado do Piauí”, afirma.
O historiador Fonseca Neto avalia que os populares devem ser ouvidos nesse processo. A identificação de cada indivíduo deve ser levada em consideração. “Precisamos ouvir o povo, o sentimento do povo, a sua subjetividade dos moradores, para eles dizerem o que querem ser”, diz.