8 de junho de 2025

MPT e MTE interditam dragas após constatar risco de vida a trabalhadores

Malu Barreto

Publicado em 23/10/2024 18:13

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Fiscalização de dragas de sucção no rio Parnaíba entre Luzilândia e Joca Marques (Foto: Ministério Público do Piauí)

Cinco dragas de sucção localizadas nos municípios de Luzilândia e Joca Marques foram interditadas pelo Ministério Público do Trabalho e o Ministério do Trabalho e Emprego após uma fiscalização que encontrou diversas irregularidades relacionadas à saúde e segurança que estavam colocando em risco a vida dos trabalhadores.

As dragas de sucção estavam atuando na atividade de extração de areia lavada para a construção civil do leito do rio Parnaíba. A fiscalização contou ainda com o apoio da Marinha do Brasil.

No local, as equipes de fiscalização encontraram trabalhadores exercendo as atividades sem o treinamento adequado e também sem os equipamentos adequados. Os mergulhadores, por exemplo, submergiam nas águas usando suas roupas pessoais (calções e camisetas) e com uma mangueira de ar comprimido diretamente na boca.

Para o procurador do Trabalho Edno Moura, que participou da operação, as irregularidades encontradas eram muitas e graves.

“A atividade de mergulho estava sendo realizada com uma mangueira diretamente na boca do mergulhador conectada a um compressor da draga. A tomada de ar ficava próxima ao cano de descarga da draga. Em alguns casos, os mergulhos eram realizados a uma profundidade de mais de 8 metros e os trabalhadores ficavam submersos por horas. Isso sem falar que as partes móveis do motor da draga não eram protegidas”, relatou.

O auditor-fiscal do Ministério do Trabalho e Emprego, Robson Waldeck Silva, comentou que a mangueira era conectada a um compressor.

“Esse compressor era ativado pelo mesmo motor que dá energia à sucção para extração da areia através de uma tubulação(mangote), que é conduzida e direcionada manualmente por estes mergulhadores no fundo do rio. Toda essa atividade era feita sem que os trabalhadores tivessem capacitação e treinamento para atividade. O próprio acesso à draga era realizado através de um pequeno barco, sem qualquer padrão de segurança”, completou, destacando que os trabalhadores estavam sujeitos a aspirar gases da descarga do próprio motor da draga ou de ambientes onde exista qualquer possibilidade de contaminação.

Fiscalização de dragas de sucção no rio Parnaíba entre Luzilândia e Joca Marques (Foto: Ministério Público do Piauí)

Mas, as irregularidades encontradas não param por aí. Os responsáveis pelas dragas não forneciam coletes salva-vidas e em números suficientes aos trabalhadores e os trabalhadores não tinham carteira de trabalho assinadas, mesmo cumprindo uma jornada de trabalho regular, de segunda a sábado, das 08 horas às 11 horas e das 13 horas às 16 horas.

“Eles tinham uma jornada regular de trabalho, de cerca de 06 horas diárias, mas não haviam passado por exames médicos e nem tinham registros, ou seja, estavam totalmente desassistidos de direitos”, destacou o procurador Edno Moura, destacando que eles recebiam pagamentos de apenas R$50 por mergulho.

O procurador lamentou que, muitos dos trabalhadores sequer tinham consciência de que estavam exercendo as atividades de maneira ilegal e colocando em risco suas vidas.

“Muitas vezes, eles não encontram oportunidades de trabalho em outros locais e acabam se sujeitando a situações insalubres para garantir alguma renda para sobrevivência. Se acontece algum acidente, eles ficam sem conseguir acessar os direitos que eles teriam caso fossem trabalhadores registrados, como licença médica e até mesmo aposentadoria”, sustentou o procurador.

Após a fiscalização, as equipes do MPT e MTE decidiram interditar as dragas. Os relatórios e termos de interdição foram lavrados pelo MTE e o MPT entrará com as ações cabíveis que vão desde a propositura de Termo de Ajuste de Conduta, e cobrança de indenizações por danos morais.

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