Usando uma placa onde pede ajuda para seu filho, um pedinte foi flagrado vendendo o alimento que recebeu como doação por menos da metade do preço original. O caso aconteceu no estacionamento de uma farmácia na Avenida Nossa Senhora de Fátima, na zona Leste de Teresina (PI). O flagrante faz parte do primeiro episódio da série de reportagens da TV Clube, que investiga a atuação de pedintes na capital.

Na reportagem exibida no Piauí TV 2, um produtor compra uma lata de leite para Francisco. Pouco tempo depois, o homem é flagrado vendendo o produto por R$14 em um comércio próximo. Na farmácia, a mesma lata é comercializada por quase R$40.

Francisco chegou a especificar seu pedido, exigindo leite integral e recusando composto lácteo, alegando que poderia fazer mal ao seu filho. O composto lácteo pode ser encontrado por cerca de R$20, metade do valor do produto solicitado pelo pedinte.

“Você compra o leite integral, porque tem um composto que faz mal para crianças. Não é o leite propriamente dito. Tem as misturas e dizem que é leite. Mas é bom o integral, que não faz mal”, afirmou.

Uma funcionária da farmácia relatou que o homem costuma permanecer em frente ao estabelecimento e vender os produtos que recebe de doação. “Ele sempre pede. Mas, vou ser sincera com você, ele vende essas latas de leite”, revelou.

Ao ser questionado pela equipe, Francisco contou sobre sua rotina pedindo o produto.

“Os dias que eu venho aqui são quarta e sábado. Hoje já vendi duas e ganhei R$33. Eu vendo por R$15. Tem dia que a gente não consegue nada, tem dia que consegue uma ou duas. Às vezes, consegue uma fralda também”, relatou.

Suspeita de associação criminosa

O advogado Caio Almeida explicou que há indícios de que o estabelecimento que recebeu o leite pode estar comprando produtos mais baratos por meio de pedintes de rua.

“A forma como ele obteve [o leite], se ficar demonstrado que foi uma fraude, que ele enganou o consumidor ou praticou algum tipo de estelionato, essa ação pode ser objeto de uma investigação policial. Podemos ter várias pessoas envolvidas, desde quem coloca essas pessoas na frente dos estabelecimentos até quem recebe e revende os produtos. No final das contas, podemos ter uma associação criminosa”, explicou.

Na legislação brasileira, pedir doação alegando falsas informações e não utilizar o dinheiro para o fim declarado pode configurar crime de estelionato, conforme o artigo 171 do Código Penal Brasileiro.