
A febre pode ser o primeiro, às vezes único, sinal de que nosso corpo está sofrendo alguma agressão, seja ela por agentes químicos, físicos ou biológicos, como mais frequentemente causado por vírus. Apesar de requerer atenção, geralmente a febre não precisa de grande alarde uma vez que evolui de forma autolimitada e sua causa logo é resolvida. No entanto, o que vemos no dia a dia principalmente nos atendimentos de urgência é uma reação exagerada de mães, pais e próprios pacientes diante de um quadro de elevação da temperatura corporal. E esta reação exagerada tem nome: febrefobia.
A febrefobia gera idas desnecessárias a serviços de saúde, expondo pacientes a maiores riscos de outras infecções, hipermedicação, como o uso exagerado e não indicado de antibióticos por exemplo, realização de procedimentos invasivos desnecessários, como realização de exames em excesso, por conta da ansiedade dos responsáveis ou do próprio paciente e da pressão imposta aos profissionais de saúde. Todo dia atendo pacientes, com quadros claramente virais, cobrando a prescrição de antibióticos para tratar sua febre “que não passa”. Lembre-se: antibiótico só serve para combater infecções bacterianas! Para convencimento da não necessidade, costumo usar o exemplo da dengue, doença viral que pode cursar com, em média, 5 dias de febre alta e que nunca é tratada com uso de antibióticos. Outro lembrete: a temperatura da febre por si só não reflete a gravidade do quadro nem indica que aquele quadro é bacteriano ou viral.
O quadro febril deve ser sempre avaliado diante do estado geral do paciente. Este se encontra ativo, sem dificuldade respiratória, diarreia intensa, vômitos repetidos, sinais de sangramento, rigidez no pescoço, irritabilidade extrema ou confusão mental? Se sim, não há sinal de alarme de gravidade e os cuidados básicos podem ser iniciados em casa com calma, como: 1. hidratação oral adequada; 2. uso de antitérmicos simples (dipirona ou paracetamol; evitar outros pelo risco de agravamento de uma possível Dengue, ok?!); 3. alimentação apropriada; 4. repouso; 5. observar a evolução do quadro. Geralmente tudo se resolve em poucos dias devido ação do nosso poderoso sistema imunológico. Porém, caso o quadro se prolongue por mais de 5 dias ou surjam os sinais de agravamento citados acima, o paciente deve ser prontamente avaliado por um médico. Uma observação e cuidado maior devem ser feitos nos pequenos menores de 1 mês de vida que requerem avaliação médica desde o primeiro dia de febre.
Considerando tudo que foi dito aqui, percebemos que a maioria das febres não necessita de uma ida às pressas para o pronto-socorro. Ao primeiro sinal de febre, há muitos anos, nossos avôs e nossas avós na maioria das vezes já sabiam fazer esse pronto atendimento com um bom banho fresco e uma boa canja de galinha. Por que muitos pais e mães de hoje deixaram de saber, logo agora quando o acesso à informação é muito mais fácil? Onde estamos falhando?
Máriton Borges – Otorrinolaringologista com subespecialidade em otoneurologia