
O tratamento do câncer de próstata tem avançado muito nos últimos anos, tanto em eficácia quanto em segurança. Cirurgia robótica, novas tecnologias, tudo isto está muito mais acessível nos últimos anos. No entanto, um dos aspectos menos discutidos, mas de extrema importância, são os efeitos adversos que impactam diretamente a saúde sexual do homem – especialmente a disfunção erétil.
Cirurgias pélvicas oncológicas de forma geral, como a remoção total da próstata (prostatectomia radical), da bexiga (cistectomia radical) ou até mesmo procedimentos colorretais, podem causar alterações na função erétil. Isso ocorre principalmente devido a lesões nos feixes neurovasculares que controlam a ereção peniana. A tentativa de preservar esses nervos durante a cirurgia é chamada de cirurgia com preservação nervosa, mas nem sempre é possível realizar esse tipo de abordagem com total segurança oncológica e nem sempre isto traz a garantia de preservação da função erétil.
O que muitos também não sabem é que tratamentos não cirúrgicos, como a radioterapia e a braquiterapia (radioterapia localizada), também podem afetar significativamente a função erétil.
Alternativas menos agressivas
A chamada “vigilância ativa” é uma estratégia cada vez mais utilizada para pacientes com tumores de próstata de baixo risco. O objetivo é acompanhar o câncer sem intervenção imediata, justamente para evitar os efeitos colaterais dos tratamentos, como a disfunção erétil e a incontinência urinária.
Por outro lado, a prostatectomia radical – seja feita por técnica aberta, laparoscópica ou robótica – ainda é o tratamento mais comum, principalmente em casos localizados em homens com longa perspectiva de vida. Entretanto, ela pode gerar sequelas que afetam profundamente a qualidade de vida, incluindo ausência de ejaculação, incontinência urinária, encurtamento peniano e, em alguns casos, o surgimento da doença de Peyronie (fibrose no pênis que causa curvatura).
Estudos apontam que entre 25% e 75% dos homens apresentam algum grau de disfunção erétil após a cirurgia, e apenas 20% a 25% recuperam espontaneamente a função sexual completa, mesmo após meses ou anos da operação.
Fatores que influenciam na recuperação
Alguns fatores aumentam as chances de preservação da função erétil, como:
- Idade mais jovem
- Boa função sexual antes da cirurgia
- Experiência da equipe cirúrgica e volume de cirurgias realizadas
- Técnica com preservação dos nervos cavernosos
Mesmo assim, o tempo médio de recuperação total pode levar até dois anos. Por isso, a reabilitação peniana precoce é essencial. Ela pode prevenir o desenvolvimento de uma deformidade peniana ou de uma disfunção erétil mais severa.
Essa reabilitação pode incluir:
- Uso de medicamentos orais
- Injeções intracavernosas
- Terapias regenerativas, como ondas de choque de baixa intensidade, que têm demonstrado bons resultados no estímulo à vascularização e regeneração local
Efeitos da radioterapia
A disfunção erétil também é comum em quem realiza radioterapia externa ou braquiterapia. A taxa de ocorrência varia entre 35% e 60%, dependendo da idade, saúde vascular e tempo após o tratamento.
Recentemente, surgiram opções mais modernas, como a terapia por ultrassom focal de alta intensidade (HIFU, na signa em inglês), que tenta destruir apenas a área afetada pela doença, preservando os feixes nervosos e reduzindo os efeitos sobre a ereção. No entanto, esse tipo de tratamento ainda é considerado experimental, com poucos estudos de longo prazo publicados.
Conclusão
Se você vai passar – ou já passou – por cirurgia ou radioterapia para o tratamento do câncer de próstata, saiba que a reabilitação peniana deve começar o quanto antes. Quanto mais precoce for a abordagem, maiores são as chances de preservar a ereção, evitar encurtamento peniano e manter uma vida sexual saudável.
Falar sobre isso é fundamental. Saúde sexual também é saúde integral. E cuidar disso com acompanhamento especializado é um passo essencial para a recuperação completa.
Dr. Giuliano Aita, membro do Departamento de Andrologia da Sociedade Brasileira de Urologia
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