20 de agosto de 2025

Teresina 173 anos: morte e vida da “cidade verde”

Sávio Modesto

Arquiteto e urbanista
Publicado há 4 dias

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Cidade de Teresina (Foto: Fonte desconhecida)

Numa recente conversa com amigos, a percepção sobre o calor de Teresina foi consenso: nem chegamos no B-R-O-BRÓ ainda e as temperaturas já estão insuportáveis. Diante disso, um dos colegas chamou minha atenção ao apontar sua percepção pessoal quanto à decrescente presença de árvores em nossa cidade como uma das possíveis razões para isso.

Neste 16 de agosto, quando Teresina completa 173 anos, é inevitável refletir sobre as transformações pelas quais nossa capital passou ao longo de sua existência. Entre elas, a perda gradual do sentido do título de “cidade verde”, que carregávamos com orgulho, merece destaque.

Nas décadas passadas, Teresina era reconhecida nacionalmente por sua abundante cobertura vegetal. Contudo, o crescimento urbano e a especulação imobiliária resultaram em uma cidade que perdeu significativamente sua identidade arbórea. Para se ter ideia da dimensão do problema, segundo levantamento da Agenda 2030, um programa de trabalho instituído pelas Nações Unidas por meio do qual governos mundiais se comprometem com diretrizes de desenvolvimento sustentável, houve uma diminuição das áreas arborizadas de Teresina, ao longo dos últimos 30 anos, equivalente a cerca de 5 mil campos de futebol.

Contraditoriamente, neste ano de 2025, a ONU inseriu Teresina entre os 34 municípios brasileiros que irão receber o selo internacional de “Cidade Verde do Mundo”, um reconhecimento entregue às cidades que vem adotando práticas eficazes para valorização do papel das árvores em benefício da comunidade, tais como a adoção de planos dearborização, ações de reflorestamento e projetos de recuperaçãode áreas verdes.

Assim, questiono: nossa “cidade verde” morreu ou continua viva?

Não tenho uma resposta definitiva para a questão. Todavia, fato é que as consequências das visíveis perdas de áreas verdes na capital são sentidas diariamente: ilhas de calor que tornam o clima ainda mais hostil, poluição do ar intensificada, maior incidência de doenças respiratórias e uma qualidade de vida urbana comprometida.

A escassez de sombra natural obriga-nos a conviver com temperaturas que, não raramente, beiram os 40°C, impossibilitando simples atividades urbanas, como usar a caminhada para se locomover na cidade a curtas distâncias (o que também é impossibilitado pela situação da segurança, tópico para outra discussão). O estresse térmico, contudo, não apenas afeta a mobilidade, mas impacta também no conforto, na saúde pública e na economia local, aumentando gastos com energia elétrica e tratamentos médicos, principalmente por doenças respiratórias.

Diante disso, a reconquista do título de “cidade verde” significa qualidade de vida e bem-estar. Esta é uma missão que exige ação coordenada entre poder público e sociedade civil. De um lado, o governo municipal já definiu, em janeiro deste ano, o Plano de Arborização da cidade, cuja meta era plantar pelo menos 30 mil árvores na capital até o final de 2025, devendo haver atenção para o plantio de espécies vegetais adequadas para o sombreamento efetivo (ipês são lindos quando florescem, mas alguém já ficou debaixo de sua – quase inexistente – sombra?)

Ademais, é fundamental que o código de obras e a legislação urbanística que trata do uso e aproveitamento do solo reforcem o cuidado pela manutenção e ampliação das áreas verdes na capital, estabelecendo, por exemplo, a compensação ambiental em novos empreendimentos e prezando pelos percentuais mínimos de área permeável. Outras medidas estratégicas envolvem a criação de mais parques urbanos arborizados (de que adianta um parque em Teresina sem árvores?), revitalização de praças e implementação de corredores verdes ao longo das principais avenidas.

Por outro lado, individualmente, cada teresinense pode contribuir nesse processo realizando o plantio de árvores em suas propriedades, aderindo ao paisagismo sustentável e participando ativamente de movimentos ambientais locais. Pequenas ações, como criar jardins verticais, manter quintais arborizados e apoiar iniciativas comunitárias de plantio, quando somadas, podem gerar grandes transformações para reviver uma cidade que já foi, orgulhosamente, verde.

Sávio Modesto – Arquiteto e urbanista


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