
O Dia Mundial da Prevenção ao Suicídio é celebrado nesta quarta-feira (10) e foi instituído pela Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio (IASP), em parceria com a Organização Mundial da Saúde (OMS). A data tem como objetivo mobilizar a sociedade para reduzir os casos de suicídio, considerada a terceira principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos.1
Em alusão ao Setembro Amarelo, mês dedicado à prevenção, o Portal ClubeNews apresenta a história do projeto Vida Que Segue, formado por mães de Teresina que perderam filhos para o suicídio. O grupo oferece consolo e auxilia outras famílias a enfrentar a dor do luto diante de uma causa que ainda é cercada de tabu, mas precisa ser discutida para que vidas sejam preservadas.
💛 Se você está passando por um momento difícil e pensando em tirar a própria vida, saiba que você não está sozinho. Falar sobre o que sente pode ser o primeiro passo para aliviar essa dor. Procure alguém de confiança, compartilhe seus sentimentos e, se precisar, busque ajuda profissional. O suicídio não é a única saída. Há sempre alternativas, caminhos e pessoas dispostas a ouvir e apoiar. Você merece cuidado, merece ser ouvido e merece viver.
Criado em setembro de 2017 por sete mulheres, o movimento nasceu da decisão de transformar a saudade em apoio a quem vivia o mesmo drama. Desde então, promove encontros presenciais, reuniões virtuais e eventos, alcançando atualmente famílias em 17 estados brasileiros, além de oferecer suporte também em Portugal.
A assistente social Francimélia Nogueira, cofundadora do Vida Que Segue, relata que o grupo exclusivo de apoio emocional e acolhimento a pais e mães no WhatsApp reúne hoje 107 integrantes. Com a expansão, a iniciativa ganhou força e passou a atuar formalmente como associação.

“Nós nos reunimos com a decisão de que a gente queria, a partir daquela dor de ver os nossos filhos partindo por meio do suicídio, fazer um trabalho para ajudar outras famílias que estariam passando pela mesma dor que a gente teve que enfrentar”, disse.
Os encontros são realizados de forma virtual nas quartas e quintas-feiras de cada mês e, presencialmente, uma vez a cada dois meses, na residência de uma das integrantes.
A dentista Betânia Monteiro, vice-presidente da associação, destacou que o grupo também promove visitas, deslocando-se para diferentes bairros com o propósito de oferecer acolhimento e compreensão a quem ainda não sabe como recomeçar.

“São momentos de acolhimento, momentos em que a dor de cada um é validada. Cada um pode falar sem risco de ser julgado. Quando somos chamadas, fazemos visitas para levar um pouco do nosso apoio, para levar a nossa escuta a essas pessoas. A gente leva a vivência desse nosso luto para que as pessoas possam se sentir mais leves durante toda essa caminhada, que não é fácil”, analisou.
O projeto também luta para que as pessoas enlutadas pelo suicídio tenham direito a acesso rápido aos serviços voltados ao fortalecimento da saúde mental.

“Quem depende do SUS [Sistema Único de Saúde] para ter atendimento psiquiátrico demora muito a ter esse atendimento. Então, a gente tem também que lutar por políticas públicas que garantam esse atendimento no tempo que a pessoa precisa”, avaliou Francimélia Nogueira.
A dentista relembrou a dificuldade que enfrentou para desabafar após a morte da filha, em 2016. O desejo de ser acolhida despertou nela a sensibilidade de, mesmo em meio à dor, tornar-se um instrumento de apoio para ajudar outras pessoas a se reerguerem e seguirem em frente, além de contribuir para que novos casos sejam evitados.
“Quando da partida da minha filha, impactada pelo suicídio, eu tive uma necessidade muito grande de ser acolhida, de conhecer outras mães, pais que haviam perdido seus filhos há mais tempo. Eu tinha essa necessidade de saber como estavam sobrevivendo. Eu me vi diante do tabu de não poder falar e terminei encontrando várias mães e pais isolados no seu luto, muito sofrido”, pontuou Betânia.
Para Francimélia, que perdeu a filha para o suicídio há oito anos, falar abertamente sobre o tema é fundamental para apoiar quem sofre. Romper o tabu em torno do assunto, segundo ela, é uma forma de reduzir os índices e salvar vidas.

“A gente descobre que consegue seguir. Quando minha filha já era adoecida, eu evitava falar sobre suicídio, achava que aquilo poderia ser um gatilho. Eu tinha pavor, era um tabu. Na nossa casa, no nosso núcleo familiar não era para se falar sobre. Isso foi um equívoco. Eu aprendi depois que se seu filho ou sua filha está com esse ideal de sofrimento, você tem que conversar com ele sobre isso. Foi algo que eu aprendi errando”, frisou a assistente social.
O Vida Que Segue é uma iniciativa que enfrenta o tabu do suicídio e acolhe com carinho aqueles que carregam a saudade após a perda de entes queridos. Quem deseja conhecer o projeto ou solicitar visitas pode entrar em contato pelo telefone (86) 9 9913-4956 ou pelo Instagram @vidaqueseguethe.
A psicóloga Layara Soares falou ao Portal ClubeNews sobre a importância da escuta e a necessidade da quebra de tabus sobre o suicídio.
“O suicídio é uma das principais causas de morte em todo o mundo, e não falar abertamente sobre isso pode, inclusive, dificultar a busca por ajuda. Vamos quebrar os tabus, criar ambientes onde as pessoas se sintam confortáveis para falar sobre seus sentimentos e onde possam buscar ajuda sem julgamentos”, pontuou.
Um suicídio a cada 43 segundos no mundo
De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), uma pessoa tira a própria vida a cada 43 segundos, o que representa aproximadamente 2.027 mortes por dia. Ao todo, são registrados cerca de 740 mil casos por ano.
No Brasil, a média é de 6,34 mortes por suicídio a cada 100 mil habitantes. No Piauí, a taxa é ainda mais elevada, chegando a 11,83 por 100 mil, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2024. O estado ocupa a terceira posição no país e o tema precisa ser abordado de forma ética e responsável, para que esse número possa diminuir.
Muitas vezes existe o receio de falar sobre suicídio por causa do chamado “efeito contágio”, quando a exposição inadequada a casos pode influenciar pessoas em sofrimento. Esse cuidado é importante e reforça a necessidade de uma abordagem ética e responsável.
No entanto, silenciar o tema não ajuda. Pelo contrário: falar sobre suicídio de forma correta, com informação e acolhimento, é fundamental para quebrar tabus, ampliar o acesso a apoio psicológico e, assim, reduzir os números alarmantes que ainda marcam essa realidade.
Como buscar ajuda
Para buscar ajuda, pessoas em sofrimento emocional ou com ideação suicida podem ligar gratuitamente para o Centro de Valorização da Vida (CVV), pelo número 188. O serviço funciona 24 horas por dia e oferece escuta ativa, feita por voluntários preparados para acolher e apoiar quem enfrenta momentos de crise.
Uma das voluntárias da instituição em Teresina, Maria Zélia Soares, informou à rádio FM ClubeNews que são recebidas cerca de 3 milhões de chamadas mensalmente em todo o país.
Além disso, são realizados atendimentos psicológicos e psiquiátricos gratuitos no ambulatório PROVIDA, localizado na Rua Álvaro Mendes, nº 1557, próximo à Praça da Liberdade, no Centro da capital. As consultas são realizadas de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h, e das 14h às 18h.
A população conta ainda com os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), que fazem parte dos serviços disponibilizados pela Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) do Estado. Ao todo, 67 unidades estão espalhadas pelo Piauí ofertando atendimento multiprofissional.
A Secretaria de Estado da Saúde (Sesapi) também disponibiliza o Minutos pela Vida, com atendimento voltado à escuta qualificada por profissionais da psicologia. As ligações telefônicas são gratuitas e podem ser realizadas de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h, pelo 0800 280 2882.
- ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Suicide worldwide in 2019: global health estimates. Geneva: World Health Organization, 2021. Disponível em: https://www.who.int/publications/i/item/9789240026643. Acesso em: 9 set. 2025. ↩︎
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