24 de setembro de 2025

Por que o Banco Central mantém a Selic em 15% e quais implicações para investimentos e negócios?

Economista
Publicado há 2 dias

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Selic em 15% (Foto: g1)

Visão sumária
O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu manter a taxa Selic em 15,00% a.a., decisão alinhada com a necessidade de garantir a convergência da inflação à meta num contexto de pressões ainda presentes sobre preços, inércia inflacionária e riscos fiscais e externos. O mercado (Boletim Focus e principais bancos/gestores) já reflete esse cenário: projeções de IPCA para 2025 permanecem acima de 3% (mediana ~4,8% em 2025) e a expectativa geral é de cortes graduais somente a partir do início de 2026. Para investidores, o patamar elevado traz oportunidades na renda fixa indexada à Selic e em ativos de crédito de curto prazo; para empresas, significa custo de capital elevado, pressionando investimentos intensivos e favorecendo negócios com geração rápida de caixa.

Razões centrais — por que o Copom mantém a Selic em 15%?

1. Inflação ainda acima do centro da meta e expectativas não completamente ancoradas.
Mesmo com desacelerações pontuais, as projeções de mercado para o IPCA de 2025 permanecem na faixa de ~4,8% (acima do centro de 3% e próximos ao teto da banda). O BC prefere manter postura restritiva até sinais mais robustos de queda persistente nas leituras e nas expectativas.
2. Risco de segunda rodada e preços administrados e serviços com inércia.
Componentes com maior rigidez (serviços, alguns preços administrados) têm mostrado resistência e podem prolongar a inflação, exigindo juros mais altos por mais tempo para que a convergência seja confiável. O comunicado do Copom enfatiza essa cautela.
3. Cenário externo e fiscal que aumentam a aversão a afrouxamento precoce.
Incertezas fiscais e volatilidade cambial (ou risco de reversão de fluxos) aumentam o custo de um corte prematuro que pudesse reavivar pressões inflacionárias ou desancorar expectativas. O Comitê tem mencionado a necessidade de observar o ambiente macro-fiscal e externo antes de iniciar cortes.
4. Atividade econômica com alguma resiliência — cortes só com confirmação de arrefecimento.
Apesar de sinais de moderação na atividade (ex.: IBC-Br e dados de curto prazo), o Copom e muitos analistas só autorizam trajetória de queda da Selic após confirmação de arrefecimento consistente da demanda agregada. O mercado, por sua vez, projeta o início do ciclo de cortes mais para janeiro de 2026.

O que dizem as projeções dos principais analistas do mercado (síntese das instituições e do Focus):

Boletim Focus / agregados do mercado: mediana do IPCA 2025 ~4,83% e projeções de início de corte da Selic apenas em janeiro/2026, com redução gradual ao longo de 2026.
Bancos e gestoras (síntese das comunicações públicas): muitos grupos mantêm cenário base de Selic em 15% até o fim de 2025 e reduções graduais em 2026, ajustando prazos conforme leitura de inflação e câmbio; alguns economistas já revisaram expectativas para a Selic no fim de 2026 levemente para baixo.

Caminhos para investimentos (visão prática, baseada nas projeções de mercado)

A. Renda fixa (prioridade alta enquanto Selic elevada)
• Tesouro Selic e CDBs pós-fixados atrelados ao CDI/Selic: mantêm atratividade para preservação de capital e liquidez. Ideal para reserva de emergência e caixa de empresas. (Fonte: análises de gestoras e plataformas após a manutenção da Selic).
• Títulos prefixados e NTN-Bs (IPCA): prefixados oferecem oportunidade se o investidor acreditar em queda de Selic e estabilização da inflação no futuro — porém, risco de marcação a mercado enquanto taxa permanecer alta. Tesouro IPCA pode ser interessante para horizonte médio-longo se expectativa real positiva.

B. Fundos de crédito e debêntures:
• Spread elevado e taxas altas tornam alguns papéis corporativos atraentes, mas exigem avaliação de crédito cuidadosa — em ambiente de juros altos, empresas mais alavancadas sofrem, aumentando risco de crédito. Use fundos com gestão ativa e foco em crédito de qualidade.

C. Renda variável e setores favorecidos:
• Setores que se beneficiam da taxa elevada: financeiro (margens de bancos com maior spread), seguradoras/fintechs com produtos de investimento, e setores exportadores quando câmbio favorecer.
• Setores pressionados: construção, bens duráveis e qualquer negócio com forte necessidade de financiamento do consumo (juros altos desestimulam crédito e consumo).

D. Estratégia corporativa / tesouraria:
• Para empresas: priorizar alongamento de dívida em condições atuais (se possível), hedge cambial onde aplicável e reforço de liquidez. Projetos CAPEX com payback longo ficam mais desafiadores — reavaliar taxa mínima de atratividade (WACC) até que o ciclo de juros se normalize.

Projeções dos negócios e implicações práticas:

1. Investimentos privados moderados — decisão mais seletiva. Com custo de capital elevado, empresas optarão por projetos com retorno rápido e menor risco; expansão agressiva é menos provável até sinal claro de cortes.
2. Consolidação em segmentos com geração de caixa: empresas maduras com fluxo estável tendem a capturar valor (aquisições estratégicas, M&A seletivo) enquanto concorrentes alavancados enfraquecem.
3. Consumo e crédito ao consumidor: retração no consumo de bens duráveis e crédito com spreads maiores; segmentos de baixo e médio ticket e serviços essenciais sofrem menos.
4. Exportadores e câmbio: um real mais competitivo melhora margens para exportadores; empresas com receitas em USD têm alívio relativo, enquanto insumos importados seguem mais caros dependendo da política cambial.

Em síntese: diante deste cenário adote algumas recomendações práticas

  • A manutenção da Selic em 15% reflete uma combinação de inflação persistente, expectativas acima da meta e riscos fiscais/externos — o mercado projeta cortes apenas a partir do início de 2026.
  • Para investidores: priorizar caixa e renda fixa indexada (Tesouro Selic, CDBs pós-fixados), considerar crédito privado com análise de risco e manter exposição seletiva em renda variável (bancos, exportadores).
  • Para empresas: reforçar liquidez, reavaliar projetos de longo prazo com taxa de desconto mais elevada, e aproveitar oportunidades de M&A em nichos com geração de caixa.

Mário Augusto A.C. Teles
Economista


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