16 de outubro de 2025

É correto comparar crianças?

Publicado em 17/09/2021 20:18

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Imagine que você está em passeio agradável por um parque da cidade ou em um shopping. Provavelmente, estará cercado de crianças correndo, sorrindo, chorando e exibindo uma enorme diversidade de habilidades e comportamentos! Em um momento de olhar mais atento você percebe que uma criança consegue fazer algo legal, mas que outra criança da mesma idade ainda não consegue fazer. Inevitavelmente, surge o orgulho ou a preocupação e uma frase de alerta, repetida aos quatro cantos, pode surgir em sua mente: “cuidado, não podemos comparar as crianças”. Essa frase deve ser analisada em maior profundidade. Seria realmente errado comparar o desenvolvimento de crianças diferentes?

É importante observar como esse alerta, quase automático, surge especialmente na mente de pais e cuidadores responsáveis pela criança que está “aparentemente atrasada”, quando comparada à outra. Dificilmente, essa mesma ideia passa pela cabeça dos responsáveis pela criança que está “aparentemente adiantada”. Esse dado aponta que tal pensamento funciona como um mecanismo de defesa para esses pais responsáveis pela criança em atraso relativo no desenvolvimento.

E esse mecanismo estaria nos defendendo de quê, exatamente? Provavelmente evitando que pais ansiosos despertem preocupações exageradas por diferenças pequenas no desenvolvimento das crianças. De fato, é impossível que duas pessoas sejam completamente idênticas. Ao serem diferentes, serão melhores em algo e piores em outra coisa. Uma criança que já fala melhor que outra pode ser menos desenvolvida na parte motora, por exemplo.

Contudo, algumas vezes esse mesmo mecanismo de evitar comparações pode atrasar a percepção de doenças. Diferenças grandes no desenvolvimento das crianças geralmente significam a necessidade de intervenção médica. Mas como chegar a essa conclusão se “não podemos comparar as crianças”?

A verdade é que é natural comparar tudo e todos. Fazemos isso a todo instante. Observamos quem é mais alto e mais baixo, quem canta bem e quem é desafinado ou quem é rápido e quem é lento. Porém, devemos aprender a medida certa da variação. Precisamos estar cientes que alguém pode ser tão alto ao ponto de ter gigantismo e que alguém pode ser tão baixo ao ponto de ter nanismo. Da mesma forma, uma criança que ainda não fala pode estar saudável, mas também pode ter autismo. Uma criança muito ativa pode ser esperta, mas também pode ser hiperativa.

Se você já ouviu a frase “cuidado, não podemos comparar as crianças” pare e pense. Respire, e pense novamente com mais calma. Ainda está em dúvida? Procure ajuda de alguém mais experiente ou, preferencialmente, de um profissional capacitado.

 

Joniel Soares Silva

Pai e médico neuropediatra (CRM: 4675)

 

 


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