8 de julho de 2025

Transtorno de pânico. Medo, terror e apreensão

Redação

Publicado em 03/11/2021 11:00

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O que é o Transtorno de Pânico?

Imagine estar em uma festa com amigos, almoçando na praça de alimentação do shopping, dirigindo ou simplesmente no metrô e, subitamente, sentir seus batimentos cardíacos acelerarem. Você começa a suar, a sentir falta de ar, tontura, formigamento, tremores, náusea, dores abdominais.

Se você for igual a maioria das pessoas é possível e provável que você pense que está enfartando e tenha medo de morrer. Pode ser ainda que você pense que está enlouquecendo ou perdendo o controle. É assim que muitas pessoas descrevem o mal-estar durante um ataque de pânico.

O Transtorno de Pânico é caracterizado por recorrentes e inesperados ataques de pânico, e um ataque de pânico é um surto abrupto de medo ou desconforto intenso, que alcança seu pico em poucos minutos, com quatro ou mais sintomas fisiológicos como os descritos acima.

Aos sintomas referidos pode-se somar uma experiência de intenso desespero. Quem já viveu uma experiência dessas gostaria de nunca mais vivê-la, mas não é isso que ocorre com quem desenvolve esse transtorno. As crises são recorrentes e, às vezes, inesperadas, ou seja, não é necessário que haja um evento desencadeante.

Elas podem surgir do nada, inclusive durante um relaxamento ou quando a pessoa está emergindo do sono. É justamente o caráter inesperado de alguns ataques de pânico que torna o evento ainda mais desconfortável.

Pessoas cujos pais têm transtorno de
ansiedade são mais suscetíveis de
desenvolver um TP.

Por que acontece um ataque de pânico?
Grosso modo pode-se dizer que em um ataque de pânico há o soar de um alarme falso. Durante um ataque de pânico nosso sistema de luta e fuga é ativado sem que haja uma situação de perigo que o justifique. Isso pode ocorrer em razão de uma vulnerabilidade genética ou pode ser desencadeado pela vivência de uma situação de estresse intenso.

Nosso sistema de luta e fuga é um importante mecanismo de proteção que nos prepara para o enfrentamento de situações de perigo. Diante de uma ameaça nosso organismo reage nos preparando para lutar ou fugir e assim preservar nossa sobrevivência, mas justamente porque não há uma situação de perigo em curso é que todos os sintomas parecem (e são) absolutamente sem sentido e causam tanto medo e pavor.

Por que cada um dos principais sintomas?
Lembre-se: Nosso corpo está nos preparando para enfrentar uma situação de perigo (falsamente percebido). Está ativado nosso sistema de luta e fuga.

1. Respiração rápida e coração acelerado
O corpo precisa suprir os principais músculos de sangue e oxigênio. Afinal, em situação de perigo são esses músculos que entrarão em ação.

2. Sudorese
Um suposto enfrentamento aumentará a temperatura do corpo. A principal função do suor é o controle da temperatura.

3. Náusea, desconforto abdominal ou desarranjo estomacal
Em situações de perigo o corpo canaliza todas as energias para a preservação da vida, assim é que nessas situações as funções digestivas são bloqueadas. Você não precisa do sistema digestivo na hora de fugir de um predador.

4. Dormência e formigamento
Há uma hipersensibilidade da pele para reagir de forma rápida a toques ou movimentos. Lembre-se: tudo isso ocorre por uma falsa sensação de perigo.

5. Tontura
Quando respiramos de forma acelerada e superficial algumas regiões recebem maior aporte de oxigênio do que outras. O cérebro recebe menos oxigênio e isso pode causar tontura ou vertigem.

6. Aperto ou dor no peito
É o resultado de uma tensão muscular global. A tensão muscular tem por objetivo preparar o corpo para enfrentar o perigo.

7. Sensação de asfixia ou engasgo
A respiração acelerada pode causar ressecamento da garganta, bem como uma tensão muscular global pode afetar a musculatura do pescoço e esôfago.

8. Sensação de peso nas pernas
Os grandes grupos musculares ficam em estado de tensão. São deles que lançaremos mão em situações de luta ou fuga.

9. Calafrios / ondas de frio e calor
O aumento na transpiração e a constrição dos vasos sanguíneos mais superficiais provocam essa sensação. Os vasos sanguíneos se contraem para evitar uma hemorragia em caso de ferimento. Mais uma vez lembrando que nosso corpo está se preparando para lutar ou fugir.

O que fazer e o que não fazer?
O desconforto gerado por um ataque de pânico é tal que a pessoa tem dificuldades de se concentrar em outra coisa que não nos seus sintomas. Presta-se muita atenção no ritmo acelerado do coração, na sudorese, nos tremores, aumentando a sensação de morte iminente ou de um estado de loucura que, por sua vez, só aumentam os sintomas e o desconforto.

Os sintomas e a atenção que se dá a eles se retroalimentam, de forma que um importante manejo no tratamento desse transtorno é a psicoeducação, por meio da qual o paciente desenvolve habilidades em técnicas de relaxamento e redirecionamento da atenção.

Uma importante técnica de relaxamento é a respiração diafragmática, que consiste em respirar de forma profunda e pausada. Essa respiração estimula o ramo parassimpático do sistema nervoso autônomo, ajudando a desligar nosso sistema de luta e fuga, ativado pela ação do sistema nervoso autônomo simpático. Você encontra instruções de como fazer a respiração diafragmática em www.psimarioponte.net.

O ataque de pânico é um alarme falso do
organismo e independentemente do que
você faça, esse alarme será desligado em
alguns minutos.

O transtorno de pânico está comumente associado a outro transtorno, a agorafobia. Se a pessoa teve uma crise de pânico no elevador, ela passa a evitar elevador com medo de que o pânico volte a se repetir.

Com o tempo, esse medo, que é conhecido como ansiedade antecipatória, estende-se para uma série de outras situações e a evitação dessas situações só alimenta a ansiedade e o medo. Pessoas com pânico e agorafobia passam a evitar cinemas, shoppings, elevadores, festas, lugares fechados, lugares abertos, sair de casa, etc.

Assim é que ao lado das técnicas de relaxamento e da psicoeducação, o enfrentamento e o manejo do transtorno do pânico envolvem a evitação da evitação. Em outras palavras, o tratamento inclui a exposição às situações temidas e o controle dos sintomas.

Maria estava no cinema quando teve um ataque
de pânico. Saiu rapidamente e depois de alguns
minutos sentia-se melhor. Maria passou a
acreditar que só não morreu porque saiu
rapidamente. Assim começam as evitações que
geram grande sofrimento e até incapacidade
para a vida laboral e social.

O tratamento
O tratamento pode envolver fármacos e psicoterapia ou somente a psicoterapia, a depender da avaliação do paciente pelo profissional.

Na psicoterapia uma das técnicas mais importantes é a exposição aos estímulos internos. A ideia é decompor um ataque de pânico em vários módulos, cada um deles com um ou dois sintomas que serão experimentados com uma intensidade menor, como se fosse um minipânico.

No consultório do psicólogo, durante as sessões de terapia, são realizados exercícios que provocam cada um dos sintomas do ataque de pânico. O contato com os sintomas, em intensidade menor, provoca uma dessensibilização ou habituação. Essa exposição ajuda o paciente a lidar com os sintomas durante um ataque de pânico.

Faz parte ainda do tratamento a correção das distorções cognitivas. Pessoas ansiosas têm uma percepção de eventos comuns como sendo extremamente ameaçadores. Essa percepção provoca medo e apreensão, que por sua vez levam a uma série de sensações físicas que são interpretadas de modo catastrófico. Está instalado o pânico.

Os principais pensamentos ou imagens que podem surgir são:
Vou morrer;
Vou ter um ataque do coração;
Vou ter um derrame;
Vou ficar louco;
Vou desmaiar e todos vão rir de mim;
Sou um fraco;
Vou perder o controle e bater o carro;
Não posso ficar sozinho;
Não posso praticar esportes ou ter relações sexuais porque posso morrer…

Estas e outras distorções cognitivas são trabalhadas em uma psicoterapia cognitivo-comportamental. Os pensamentos geradores de ansiedade são identificados. Em seguida são fornecidos dados da realidade ao paciente que, percebendo a distorção de seus pensamentos, pouco a pouco constrói um padrão de pensamento mais realista, reduzindo assim a ansiedade.

Por ser um transtorno que provoca um sofrimento significativo e pode gerar incapacidade para a vida social e laboral, é importante a avaliação por um profissional o quanto antes. Pessoas com transtorno de pânico podem desenvolver depressão e outras dificuldades, agravando seu quadro e comprometendo ainda mais sua qualidade de vida.

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