21 de outubro de 2025

“Não conseguia entender que era violência”, diz jovem agredida pelo namorado

Publicado em 25/11/2021 17:00

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Delegada Vilma Alves — (Foto: Carlienne Carpaso/ClubeNews)

Malu Barreto
malubarreto@tvclube.com.br

Uma jovem que não quer ser identificada contou que foi vítima de violência do seu primeiro namorado, aos 17 anos, com quem teve um relacionamento de seis anos. “Apesar dele ter comportamentos tóxicos desde o começo, eu não notava, porque era meu primeiro namorado, então não tinha referência. Ele me bateu várias vezes, me humilhava, dizia que eu era feia que meu peito era caído e que eu estava pegando o bonde por ele me querer”, relembrou.

Ela conta que já chegou a apanhar de cinto, ser puxada pelo braço de dentro da academia, ser sequestrada e ameaçada de morte.

“Eu estudava na Universidade Federal do Piauí e na volta para casa, uma vez, por eu não ter atendido o telefone, ele parou o ônibus  em que eu estava e me tirou de dentro pelo braço. No carro, ele começou a me cheirar e dizer que eu estava com cheiro de sexo e quando a gente chegou em casa ele fez eu tirar minha calcinha para ver se tinha esperma”, disse.

A jovem diz que não lembra como foi que o namoro acabou, mas diz que começou a trabalhar, foi conhecendo outras pessoas e em um dos términos, acabou de vez. “Minha mãe diz que foi uma promessa para Nossa Senhora do Desterro, mas foi um processo”.  Depois de 20 anos, a jovem diz que não sente raiva dele por tudo que viveu, mas que sabe que aquelas experiências refletem em muitos dos seus comportamentos atualmente.

“Afetou minha autoestima que é muito baixa,  minha insegurança, tenho medo de me posicionar algumas vezes. Naquela época não existia Lei Maria da Penha nem se falava tanto disso. Queria ter tido antes o entendimento que tenho hoje”, declarou.

“Homem não consegue vê mulher como cidadã”

Neste ano de 2021, até o mês de setembro, foram registrados 4.409 boletins de ocorrências e 22 feminicídio no estado. “Esses dados são apenas uma amostra, o sofrimento é muito maior”. É assim que a delegada Vilma Alves vê os dados de violência contra a mulher divulgados pela Secretaria Estadual de Segurança Pública.

De acordo com o Núcleo Central se Estatística e Análise Criminal (NUCEAC), uma média de 18 boletins de ocorrência são registrados diariamente por mulheres vítimas de violência. Para a delegada este é um dado muito abaixo da realidade, pois devido à pandemia houve a questão do isolamento social, então muitos casos não chegaram até a polícia.

“Os dados são importantes, mas a gente sabe que a maior parte dos casos de violência contra a mulher não chega até a delegacia. A violência psicológica ainda é muito maior e para mim a mulher continua sofrendo, mas com dificuldade de denunciar.  Na capital a mulher ainda tem mais informação, mas no interior a situação ainda é pior e por medo elas acabam voltando para o companheiro. A mulher que foi morta foi aquela que disse ‘não’ ao homem”, declarou.

Hoje, dia 25 de novembro é o Dia Internacional da Não-Violência contra a Mulher e a temática é debatida no mundo inteiro destacando a importância de práticas de prevenção e denúncia.

Por meio do Disque 180, qualquer pessoa pode denunciar vítimas de violência, há também o aplicativo Salve Maria, que viabiliza o envio de denúncias da população de forma anônima. À noite, em Teresina, a mulher deve procurar a Central de Flagrantes. “Antes, a gente tinha a Delegacia de Gênero, mas hoje não tem mais”, lembrou Vilma Aves. Há também a 5ª Vara Criminal e quatro delegacias em Teresina.

Para Vilma Alves faltam ferramentas para endurecer a Lei Maria da Penha. “A Lei Maria da Penha é uma lei completa, mas a eficácia da lei depende de quem está trabalhando com ela. Muitas mulheres não buscam ajuda devido à vergonha, por medo, pelo atendimento que pode ser precário, inexistente ou pouco acolhedor, ou ainda por falta de conhecimento sobre como ter acesso à ajuda disponível”.

A delegada destacou a importância das medidas protetivas como ferramentas para diminuir a violência e também a questão da ameaça que agora passou a ser considerada crime.

Neste ano, a Lei 14.188 incluiu no Código Penal o crime de violência psicológica contra a mulher, a ser atribuído a quem causar dano emocional “que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões”.

O crime pode ocorrer por meio de ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, chantagem, ridicularização, limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro método.

Para a delegada Vilma, o homem ainda vê a mulher como objeto. “Eles não conseguem nos ver como uma cidadã, mas como um objeto”.

Vilma Alves que tem 40 anos como delegada da mulher disse que muitos casos a marcaram, mas ela lembra em especial da sua primeira prisão. “Foi em 1991, o homem mordeu o seio da companheira até jorrar sangue e quando cheguei e dei voz de prisão, ele disse: Eu não posso ser preso”.

Operação Dandara dos Palmares

A operação “Dandara dos Palmares”, iniciou nesta quarta-feira (24) e tem como objetivo cumprir mandados de prisão, busca e apreensão contra suspeitos do crime de feminicídio. As equipes do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) efetuaram cinco prisões  quatro em cumprimento em mandados e uma em flagrante.  Outros dois alvos da operação ainda não foram localizados. As equipes seguem em buscas para localizá-los.


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