
Os moradores da zona Norte reclamam da falta de referência em saúde na região após a interdição ética parcial do Hospital do Buenos Aires realizada pelo Conselho Regional de Medicina do Piauí (CRM-PI) no dia 1º de dezembro. A interdição ética aconteceu após a unidade de saúde não sanar irregularidades que, segundo o CRM, põem em risco o tratamento dos pacientes.
Moradores do bairro Santa Maria da Codipi, por exemplo, buscam outros hospitais – como os localizados no bairro Matadouro. O líder comunitário Eraldo Rodrigues conta que o hospital interditado era o principal ponto de tratamento buscado pela população da zona Norte e, segundo ele, eram atendidas cerca de 200 mil pessoas por mês, vindas de Boa Hora até o Centro da cidade.
“Fomos pegos de surpresa. De uma hora para outra o hospital está fechado. O Conselho de Medicina já visitou aqui oito vezes e nunca encontraram a direção-geral para dar solução ao problema notificado. Eu, como presidente da unidade do bairro Buenos Aires, já vim aqui doze vezes e a porta do diretor sempre está fechada e quem sofre com isso é a comunidade. Por isso, não aceitamos a situação em que se encontra”, explica o líder comunitário.
Na manhã da quarta-feira (7), a diretoria do Conselho Regional de Medicina do Estado do Piauí (CRM-PI) recebeu o novo diretor-geral do Hospital Geral do Buenos Aires, o pediatra Atêncio Pereira de Queiroga Filho, e o diretor técnico, médico Wolner Lopes de Moura Santos Filho, que, até então, ocupava o cargo de diretor clínico do hospital.
CRISE NA SAÚDE
O CRM-PI deu o prazo de 60 dias para que os problemas detectados fossem solucionados. Caso a resolução aconteça de imediato, o hospital pode ser liberado.
A instituição foi alertada da possível interdição desde a fiscalização realizada no dia 27 de outubro pelo CRM. Agora, a medida foi aprovada, já que o hospital não corrigiu os problemas detectados e não apresentou soluções.
De acordo com o CRM-PI, a fiscalização apontou problemas que arriscam o tratamento de pacientes no local e comprometem a prestação de serviços médicos.
Segundo o CRM-PI, os problemas encontrados são:
– ausência frequente de soro fisiológico levando a transferências de pacientes, falta de administração e medicações que dependem da solução;
– tratamento inadequado de pacientes (necessidade de volume para tratamento eficaz sem realização por falta da solução), falta de tubo orotraqueais em estoque tamanho 7.5 e 8.0 (os mais usados em adultos);
– ausência de algumas medicações analgésicas e antibióticos, escala de neonatologia incompleta comprometendo a segurança dos recém-nascidos da maternidade, aparelhos de fototerapia antigos e com baixa eficiência;
– falta de luvas de procedimento em tamanho pequeno e médio, entre outros fatos enumerados no relatório técnico do CRM-PI.
A secretária geral do CRM, Ana Claudia, informa que a maioria dos problemas também foi constatado em outros hospitais da região.
Gilberto Albuquerque, presidente da Fundação Municipal de Saúde (FMS), pediu exoneração do cargo na terça-feira (6). Segundo o gestor, faltam recursos para manter os serviços de saúde e existe a necessidade de mudança na chefia do órgão. A Prefeitura de Teresina ainda não anunciou um possível substituto para a posição.
A crise da saúde já é discutido na Câmara Municipal de Teresina (CMT). O vereador Leonardo Eulálio (PL) fala sobre o endividamento da Fundação Municipal de Saúde (FMS).
“Nós temos um endividamento local, individual, em média de R$ 1 milhão por cada hospital e isso nunca aconteceu antes. Somando, dá em torno de R$ 10 milhões. Isso foi um ponto de advertência frisado no relatório para ser solucionado. Os recursos se extinguiram em outubro, não foi agora”, disse.
O vereador relata que “há tempos que a secretaria de finanças e outros órgãos vêm alocando recursos para FMS”.
“Quando se compra no varejo, sempre se compra mau e mais caro, foi isso que aconteceu. Não se fez as licitações e o dinheiro findou. Esse é o nosso pensamento: faltou planejamento”, explica o vereador.
