
Carlienne Carpaso e Aline Moreira (TV Clube)
carliene@tvclube.com.br
Zuleyde* sofreu duas tentativas de feminicídio em uma única tarde em Teresina. Ela foi enforcada (com uma corda) e espancada com um cavador de solo pelo, na época, companheiro. Hoje, passados quatro anos, ela relata ao Especial SOS Mulher, da TV Clube, os piores momentos da sua vida. Separada do ex-agressor, ela sobrevive – diariamente – aos traumas vividos entre quatro paredes, dentro da própria casa.
Ela relatou em entrevista à jornalista Aline Moreira que, naquela tarde de horror, conseguiu se livrar da primeira tentativa de feminicídio, quando o agressor usou uma corda para enforcá-la. Em seguida, ele pegou um cavador de solo, equipamento que abre buracos na terra, e iniciou uma série de golpes pelo corpo e, principalmente, na cabeça de Zuleyde*.
As pancadas eram tão fortes que o equipamento chegou a quebrar em três partes durante um dos golpes que atingiu a cabeça da vítima, que levou oito pontos em um dos cortes.
Ela relembra que passou meses acamada, sem condições de fazer até mesmo a higiene básica sozinha, dependia da atenção e dos cuidados de terceiros. Hoje, além do trauma psicológico, ela convive com as consequências físicas das agressões.
“Não consigo mexer a minha mão normalmente. Eu tenho dificuldade com os meus dedos porque ficou endurecido. Quando ele me espancava com o cavador na cabeça, eu colocava o braço na minha defesa”, diz.
Outra violência vivenciada pela vítima foi a sexual. “Ele chegou a abusar de mim também”, relembra. A situação na qual o agressor deixou Zuleyde* foi tão grave, tão forte, que ela não conseguiu ir até o Instituto de Medicina Legal (IML) para fazer o exame de corpo de delito.
Ela conta que os exames foram colhidos na casa da mãe, para onde foi após as agressões. “Eu não tinha condições de me levantar de uma cama. Eu fiquei sem fala por uns dias porque ele apertou muito a minha garganta com a corda, eu não conseguia falar, me alimentar”, recorda.
Zuleide conseguiu romper com o ciclo da violência e, mesmo à sombra das sequelas físicas e psicológicas, tenta reconstruir a sua vida, longe de uma relação abusiva.
O QUE É O FEMINICÍDIO?
Marcado pela desigualdade de gênero, o assassinato de mulheres recebeu uma designação própria: feminicídio. No Piauí, somente no ano de 2022, 23 mulheres morreram vítimas desse crime.
A delegada de Polícia Civil do Piauí, Nathalia Figueiredo, da Delegacia Especialidade de Feminicídio, localizada no bairro São Pedro, zona Sul de Teresina, esclarece que o crime é “a morte da mulher em decorrência de violência doméstica, familiar ou discriminação pelo fato de ser mulher”.
Dados da Secretária Estadual de Segurança | 2020 | 2021 | 2022 |
Feminicídios no Piauí |
31 | 37 | 23 |
Feminicídios no Interior |
25 | 26 | 19 |
Feminicídios em Teresina | 6 | 11 | 4 |
O QUE DIZ A LEI?
A Lei Nº 13.104, de 9 de março de 2015, alterou o art. 121 do Código Penal Brasileiro e passou a prever o feminicídio como “circunstância qualificadora do crime de homicídio”.
Além disso, essa lei alterou o art. 1º da Lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990, para incluir o feminicídio no rol dos crimes hediondos.
O feminicídio acontece, segundo a lei, contra a mulher por razões da condição de sexo feminino. “Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve: I – violência doméstica e familiar; II – menosprezo ou discriminação à condição de mulher”.
“A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado: I – durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto; II – contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos ou com deficiência; III – na presença de descendente ou de ascendente da vítima”, diz a lei.
*Nome fictício para preservar a identidade da vítima.
LEIA MAIS
SOS MULHER: conheça os sinais que indicam violência contra a mulher
SOS Mulher: rede de apoio e onde denunciar casos de violência contra a mulher no Piauí
Siga o Portal ClubeNews no Instagram e no Facebook.
Envie sua sugestão de pauta para nosso WhatsApp ou Telegram