27 de julho de 2025

SOS Mulher: a violência psicológica e as constantes ameaças em uma relação abusiva

Carlienne Carpaso

Editora
Publicado em 07/03/2023 11:00

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SOS Mulher – Foto: TV Clube

Carlienne Carpaso, Karla Nascimento e Vivianna Cruz (TV Clube)
carliene@tvclube.com.br

Por anos, Betina (nome fictício) dormiu com o medo da morte ao seu lado. Ela relembra, no Especial SOS Mulher, da TV Clube, que por inúmeras vezes foi ameaçada pelo ex-companheiro em Teresina. Ele chegava a colocar facas em baixo da cama do casal e dizia com frequência: “eu vou matar o teu filho, a tua filha, e vou te matar”.

Hoje, separada do ex-agressor, ela ainda não se sente segura em sair pelas ruas sozinhas; sempre é necessária uma companhia. O trauma psicológico, inclusive, a impede de trabalhar e provoca esquecimento rápido ao ponto de se perder pela cidade, mesmo, muitas vezes, refazendo um caminho conhecido.

Betina contou à jornalista Viviana Cruz, nesta terça-feira (07/03), que resgatar o cenário de horror dentro de casa é reviver um dos capítulos mais dolorosos da sua vida, mas se necessário for, mesmo não expondo a sua identidade, ela grita e até mesmo chora, quantas vezes for preciso, para salvar outras mulheres porque – em algum momento – alguém escuta o pedido de socorro.

Ela relata sobre as ameaças e privações no ambiente familiar, e o receio e constrangimento de contar para outras pessoas. Betina chegou a precisar pegar um sabonete na casa do pai para conseguir realizar a higiene pessoal de forma adequada.

“Você se acostuma com aquilo, e passa a vivenciar como se fizesse parte do seu cotidiano; além do medo, tem a vergonha das pessoas saberem que você levou um tapa, que foi agredida”.

VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA

“(O abalo psicológico) parece ser eterno dentro de você. Nunca mais uma mulher agredida é a mesma pessoa porque você não confia mais nas outras pessoas”, diz a entrevistada, que recebe medicamentos pelo Sistema Único de Saúde, é atendida pelo Centro de Referência da Assistência Social e por um psiquiatra.

A violência psicológica, conforme a Lei Maria da Penha (Nº 11.340),  é entendida como qualquer conduta que cause dano emocional e diminuição da autoestima da mulher ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento. Além disso, a violência psicológica abrange a limitação do direito de ir e vir.

Segundo a lei, esse tipo de violência também visa degradar ou controlar ações, comportamentos, crenças e decisões das mulheres; tudo isso “mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, violação de sua intimidade, ridicularização e exploração”.

Advogada Justina Vale – Foto: TV Clube

SITUAÇÕES 

A advogada Justina Vale, membro da Comissão da Mulher da OAB-PI, reforça que a violência contra a mulher não pode se resumir à violência física, “existem marcas piores do que a agressão física”.

“A violência moral e psicológica é a mais difícil de se identificar porque por muitas vezes a mulher acha que é um tipo de proteção”, diz a advogada.

A advogada cita situações que podem ser consideradas violência psicológica: “ah, ele tem cuidado comigo, fala da minha roupa, do meu comportamento. Uma mensagem no Whatsapp: ‘onde é que você está a essa hora? está fazendo o quê? está com macho? atribuir traição à mulher é uma das violências mais constantes. Isso é uma violência sem tamanho. E não precisa de marcas para denunciar”.

Psicóloga Marcela Tenório – Foto: TV Clube

RECOMEÇAR

Especialistas afirmam que os agressores seguem um padrão de comportamento. A psicóloga Marcela Tenório diz que o relacionamento costuma começar como todos os outros, mas depois se alterna entre momentos de tensão, violência e reconciliação. Para romper esse ciclo, é preciso resgatar o amor próprio.

“Existe hoje inúmeras mulheres que saíram de relacionamentos abusivos que estão emponderadas, que descobriram o real sentido do amor na sua vida, desenvolveram o autossuporte, reconstruíram a sua autoestima; e hoje vivem relacionamentos extremamente saudáveis”.

Até ter um relacionamento saudável, no início, é comum as mulheres com histórico de violência doméstica estranharem o respeito e até mesmo se questionarem. “Como assim alguém não me violenta? Porque era algo que ainda não tinha sido vivido, mas é possível”.

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