Emanuel Pereira*
emanuelpereira@tvclube.com.br
Em mais uma matéria especial da série “Nas cores do arco-íris”, o Portal ClubeNews propõe uma reflexão às pessoas brancas, ricas e heterossexuais: como seria nascer negro, pobre e LGBT em uma nação racista, homofóbica e economicamente injusta?
Em 1983, Josean Sousa nasceu com estas características na periferia de Teresina. Logo na infância, ele já se percebia diferente. Tão diferente que foi considerado louco apenas por acreditar em um futuro melhor para ele e sua família.
“Você é pobre, preto e gay. Não vai ter chances”, disseram ao garoto. Porém, ele era teimoso e se recusou a aceitar esta condição de dor e sofrimento.
O menino ergueu a cabeça e se tornou um homem apaixonado pelo empreendedorismo e o mundo da beleza. Ele trabalhou em salões, aperfeiçoou o seu talento e prosperou com honestidade.
Agora, aos 39 anos, ele é proprietário de um salão e beleza e conversou com o Portal ClubeNews sobre a sua trajetória. Josean também é formado em Publicidade e em Geografia.
PRETO, POBRE E GAY
O menino negro da periferia teresinense é filho da Dona Joana de Jesus, sua maior inspiração. Aos 12 anos, já compreendia sua sexualidade e, segundo ele, sempre recebeu apoio e carinho da família e amigos.
Josean trabalha no setor da beleza há 17 anos, como cabeleireiro e maquiador. Até montar o seu próprio salão de beleza, ele enfrentou muitas adversidades, de modo que o preconceito foi a mais difícil de superar.
“O fato de ser pobre, preto, e gay torna esse preconceito ainda mais cruel. Quando trabalhava em salões, era comum encontrar quem se recusasse a ser atendido(a) por algum desses motivos ou por todos juntos. Situações homofóbicas são muito comuns por parte de clientes, colegas de trabalho e patrões”, disse.
O empreendedor sempre estudou em instituições públicas de ensino. Com muita dedicação, ele se formou em Geografia, pela Universidade Federal do Piauí (UFPI), e em Publicidade e Propaganda. Para ele, a educação fez toda a diferença em sua vida.
“Em 2009, quando decidi sair do emprego para me dedicar aos estudos, todos acharam isso uma grande loucura. Mas eu não me importei com isso e fui joguei em busca dos meus sonhos. Felizmente, deu tudo certo. Sou licenciado em Geografia, comunicador por paixão, dono do meu próprio negócio e sigo trilhando esta jornada rumo ao meu lugar ao sol”, enfatizou.
O DESAFIO DE EMPREENDER
Josean teve de romper as barreiras do preconceito e das desigualdades socioeconômicas para abrir seu salão de beleza. O cabeleireiro destaca que fazer parte da comunidade LGBTQIAP+ tornou o desafio ainda mais difícil.
“É uma situação muito desafiadora devido ao preconceito, barreiras econômicas, falta de assertivas e incentivos voltados a essa comunidade, como uma forma de minimizar as diferenças de tratamento e oportunidades que nos deixam a margem do mercado de trabalho. A maioria desse público desiste antes mesmo de começar, em função das dificuldade e da falta de incentivo público voltado para os LGBTQIAP+”.
Diante de tamanha injustiça, o empreendedor não teme revelar sua indignação. Para ele, cada membro desta comunidade deve lutar pelos seus direitos e jamais permanecer calado perante a discriminação.
“Infelizmente a falta de empatia nos mostra que, apesar dos avanços, ainda estamos longe de atingir o equilíbrio de direitos e por fim vencer o preconceito. Toda essa problemática ganha força e se perpétua quando a gente se cala e aceita certas imposições por medo da repressão, da agressão ou do desemprego”, declarou.
OUSE SONHAR
Josean ousou sonhar e se tornou um vencedor. As formações acadêmicas e a criação do seu empreendimento são resultados da resiliência de quem não se conformou em permanecer em uma realidade opressora e injusta.
Aos meninos pobres, pretos e gays, ele aconselha que, não importa o quanto o racismo, a homofobia e as desigualdades sejam dolorosos, apenas erga a cabeça e lute para conquistar os seus objetivos.
“Ousem sonhar em ter uma vida digna e prometam que jamais vão deixar suas famílias passarem fome novamente. Façam suas vozes serem ouvidas e seus direitos serem respeitados onde estiverem, assim como até hoje faço”, concluiu.
*Estagiário sob supervisão da jornalista Carlienne Carpaso
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